quinta-feira, 12 de novembro de 2009

UM NOVO ACORDO

Reginaldo de Oliveira
E-mail –
reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 12/11/2009 – Manaus/AM - pág. A6
www.artigo34.rg3.net

A nossa estrutura social tal qual a conhecemos é resultante de um processo iniciado há alguns milênios e que nos dias atuais demonstra um altíssimo nível de complexidade. A configuração sistêmica dessa estrutura exerce uma força acachapante sobre o indivíduo, restando quase que somente a alternativa da resignação. Assim, o comportamento da pessoa humana é direcionado segundo os ditames da ordem estabelecida, a qual determina uma infinidade de regras de conduta e de relacionamentos interpessoais. É por isso que desafiar paradigmas requer do contestador um municiamento poderoso. Em alguns casos os paradigmas amadurecem, apodrecem e caem sem que seja necessária nenhuma espécie de insurreição.

De forma geral, as grandes revoluções são marcadas por algum tipo de proposta relacionada ao atendimento de anseios populares de melhoria das condições de vida de um povo. Ou seja, é preciso a anuência do conjunto da sociedade para que uma determinada configuração de ordenamento social perdure por longas eras. Essas configurações são caracterizadas pelos acordos que as pessoas fazem entre si, os quais precisam estar consubstanciados por um caráter de legitimidade. As pessoas concordam em transferir parte do seu poder para outrem em troca da manutenção de um ambiente favorável ao convívio social. Também, entre pares, vão se definindo balizadores para que os direitos de cada um sejam respeitados sem que haja necessidade de interferência de agentes de instâncias superiores. É o que se pode chamar de acordos de convivência social.

Tudo que o nosso discernimento percebe como norma social é fruto da criação humana. Isso significa que algum tipo de prática ou ideologia tido como inadequado é passível de modificação, bastando apenas o estabelecimento de um acordo que seja adequado a uma nova realidade. Sendo assim, as pessoas podem decidir ser mais educadas no trânsito, mais criteriosas ao escolher seus governantes; podem se organizar na forma de entidades para lutar por melhorias nas suas comunidades ou dar um basta ao clima de insegurança. Enfim, como diz uma bela canção de Michael Jackson, as pessoas podem fazer do mundo um lugar melhor para se viver.

Em algumas empresas já vigora um padrão de conduta pautado na ética dos relacionamentos profissionais, o que propicia um ambiente voltado à proteção da dignidade das pessoas e desenvolvimento dos potenciais criativos. Esses agrupamentos humanos se comportam de forma bem diferente dos funcionários de uma empresa que não procura proteger as pessoas de boa índole dos nefastos. O fato é que muitos empregados são alvos de práticas tenebrosas devido a ciúmes, inveja ou pura maldade de pessoas situadas nos mais diversos níveis hierárquicos. Tais indivíduos ruins se assemelham a uma erva daninha que se não for neutralizada pode provocar estragos de grandes proporções na estrutura de uma organização econômica.

Um fenômeno que muito perturba aquele que se utiliza do exercício da reflexão, é a apatia das autoridades constituídas frente à escalada da violência. A mídia denuncia diariamente e com ênfase estarrecedora a incompetência do Estado para tratar do assunto. O que pipoca nos noticiários são as brigas das diferentes esferas do governo quando tentam ensaiar uma reação conjunta ao crime organizado. Enquanto isso, a criminalidade ganha eficiência por possuir uma agilidade que o poder constituído não tem. Resumo da ópera: a sociedade simplesmente não decidiu, verdadeiramente, resolver o assunto de uma vez por todas. Ou seja, falta um novo acordo. Na década de 70 a cidade de Nova York, nos Estados Unidos da América era dominada pelo crime até que um dia a paciência acabou e as forças emanadas da sociedade organizada resolveram dar um basta naquilo tudo e implantar o regime de tolerância zero.

Na área educacional, assim como nas relações sociais, as pessoas vêm melhorando seus níveis de instrução e se comportando de maneira mais cordial com seus semelhantes. Muitos jovens amadurecem mais cedo e mais cedo constroem uma carreira profissional promissora. Isso significa que novos acordos vão sendo firmados e novas posturas vão sendo adotadas. Nesse ritmo, quem sabe assim possamos firmar novos acordos sociais e evoluir como uma nação comprometida com valores que priorizem a dignidade humana.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

ÉTICA E DESENVOLVIMENTO

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 29/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo33.rg3.net

Do ponto de vista filosófico, ética é uma reflexão sobre a moral. Isso significa que os valores, os costumes e a práxis de uma sociedade precisam ser periodicamente reavaliados. O resultado desse exercício é a conquista de um ambiente propício ao desenvolvimento cultural e tecnológico de uma nação. Assim, surgem e se mantém vivas as grandes civilizações, sendo que os valores de algumas delas atravessaram os séculos com um vigor monumental, como é o caso das culturas grega e judaica. A força para alcançar a grandeza está na capacidade de conciliação de interesses pessoais e adoção de um padrão de comportamento que coloca o grupo acima do indivíduo. Pesa também nesse processo o aprimoramento do senso crítico e alto grau de instrução dos construtores da pátria.

A combinação de uma série de variáveis positivas acaba criando condições necessárias ao avanço social e tecnológico de uma nação. No sentido inverso, o conjunto de variáveis negativas pode frear ou estagnar um progresso em curso. Foi o que aconteceu com os árabes, que prosperaram na época em que a igreja manteve a Europa nos porões do obscurantismo. Quando os ideais iluministas libertaram o povo europeu das garras da tirania papal, os árabes fizeram o contrário: tomaram o caminho do dogmatismo fundamentalista. As consequências estão aí, à vista de todos, com a opressão de um lado produzindo pobreza, guerras e atraso; e a liberdade do outro, gerando altos índices de desenvolvimento humano.

A medida do desenvolvimento de um país é a medida do desenvolvimento de cada um dos seus membros. É o resultado conjugado das idéias evoluídas de um povo que forma uma grande nação; é o conjunto da sociedade que determina a sua forma de funcionamento, ou seja, qualidade dos serviços públicos, distribuição justa de oportunidades, liberdade de expressão e, obviamente, o exercício da ética que lubrifica as engrenagens da máquina social. Quando um pai, passeando pela cidade acompanhado do filho, joga papel no chão, cruza o sinal vermelho, xinga outros motoristas, compra produto roubado ou estaciona na vaga de um deficiente, além de ser, estar formando outro péssimo cidadão. Esses maus cidadãos são presas fáceis – são eles que colocam no poder as suas cópias amplificadas: gente da pesada que atua de forma predatória, que se comporta como um câncer social.

A falta da visão de conjunto e de noção da importância do ator social produz uma massa de cidadãos de baixo senso crítico. Assim sendo, uma nação não conseguirá caminhar tendo os pés amarrados pela ignorância da maioria dos seus integrantes. Grupos políticos ou sociais não podem, presunçosamente, pretender andar ao lado das nações desenvolvidas tendo os pés leprosos. É preciso antes, curar as feridas culturais através de políticas eficientes de educação e justiça social. O fato é que desenvolvimento humano não combina com falta de ética, visto que ética é a pedra angular da estrutura social. Um povo ético exigirá governantes éticos, práticas éticas na política e em todas as ramificações da sociedade.

O processo de globalização está acirrando a competitividade e estabelecendo padrões mais rígidos de qualificação profissional, além de exigências relacionadas a práticas de responsabilidade social e ambiental. Quiçá, os interesses econômicos desencadeiem um processo de evolução da nossa sociedade, visto que os concorrentes internacionais estão se destacando graças a altos níveis de desenvolvimento humano. As empresas forçarão o poder público a tratar com seriedade o assunto educação, e quanto maior for o número de cidadãos bem educados, menor será a quantidade de dirigentes ruins; menor o grau de cinismo, demagogia e politicagem.

Os esforços que a nossa sociedade vem fazendo na área educacional já mostram resultados positivos. Prova disso são os discursos artificiosos, repetitivos, cansativos e grotescos de políticos que expõem sua ridícula imagem na televisão. Esse fenômeno acontece quando o eleitor usa filtros éticos adquiridos na sua formação educacional. Queira Deus, um dia possamos, verdadeiramente, repudiar as podridões que borbulham diariamente na mídia, assim como fazem os países escandinavos, onde qualquer desvio de conduta é tratado como uma falha grave. Nós, aqui, por enquanto, continuamos engolindo sapos, lagartos, cobras, desmandos, desvios, agressões, injustiças, demagogias, corrupções etc. – tudo temperado com a fortíssima pimenta impunidade.

domingo, 25 de outubro de 2009

RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 22/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo32.rg3.net

Na caminhada da vida temos necessidade de que alguém nos guie, e depois de certo momento nos tornamos um navegador solitário. Quando nos sentimos um pouco perdidos nos damos conta de que não seguimos mais com o nosso guia - traçamos nossa meta totalmente a sós e depois nos apercebemos de que alguém está ao nosso lado. Aquele que nós seguíamos não é mais o nosso guia, mas ele está em nós. Nós o absorvemos.

Cada pessoa que chega a esse mundo traz consigo a árdua missão de escrever infinitas páginas da gigantesca enciclopédia da sua vida. Muita ajuda dos que chegaram antes será necessária nessa jornada épica. Os mais velhos terão a função de retransmitir os códigos necessários à formação de mais um componente do tecido social. As primeiras e mais importantes referências são os pais, que contribuirão de forma intensa para a formação do caráter dos seus descendentes. Os vínculos afetivos entre pais e filhos são poderosos, visto que além de dar a vida, são os genitores que pavimentam e apontam o caminho para os rebentos.

Um pouco mais crescida a criança tomará contato com o outro grande formador do seu caráter; uma pessoa que, além disso, terá a responsabilidade de prepará-la para a vida social e profissional. O professor é o grande guia que segura na mão do aluno e o conduz pela longa jornada do conhecimento, lhe proporcionando os instrumentos e habilidades necessários para que possa se integrar plenamente ao convívio dos seus semelhantes de forma sadia e construtiva. Daí, que a relação professor/aluno é muito forte. A criança percebe a função construtiva do seu professor; ela absorve a energia emanada do mestre e essa força vai elucidando os enigmas do mundo. Na idade adulta, o homem terá cristalizado na sua alma as palavras e as lições aprendidas dos seus pais e professores.

É prazeroso perceber no aluno a inquietação que atiça a sede de conhecimento. O conhecimento liberta o homem da dúvida e da escuridão; leva a um relacionamento fraternal com o próximo e a ações altruístas. Uma única aula é capaz de provocar uma revolução da cabeça de um aluno, o que nos faz refletir sobre a grandiosidade e responsabilidade do papel do professor. É muito importante que o professor tenha consciência das suas atribuições, as quais se revestem de dignidade sacerdotal. Quando isso acontece o trabalho junto aos alunos ganha uma aura de encantamento e elevação. Caso contrário, uma atuação protocolar, desprovida de comprometimento e entusiasmo, torna o aprendizado insosso e vazio. Por isso, não é nada bom que alguns profissionais trabalhem na docência sem abraçá-la com a sua alma; não é recomendável que busquem apenas um complemento de renda financeira.

O aluno precisa sentir que o conteúdo recebido está vitaminado com empenho e dedicação do mestre. Dessa forma, os aprendizes ficarão mais fortes e preparados para os embates fora da sala de aula. O mestre dever ter sensibilidade aguçada para perceber a capacidade cognitiva dos seus alunos; deve conduzir seus aprendizes por caminhos psicológicos até que cheguem à compreensão de um assunto complexo; deve trabalhar os modelos mentais dos educandos, fazendo com que aprendam mesmo sem se darem conta disso. Quando o professor trabalha dessa forma, os resultados são impressionantes e os alunos respondem de forma espetacular. Toda pessoa sente as boas intenções daqueles que querem o nosso bem – isso é algo tão primário que até um bicho fica quieto quando está sendo cuidado por um médico veterinário. O compromisso com a qualidade do ensino deve estar impregnado nas atividades diárias do professor. Dessa forma, ele pode estabelecer uma fina sintonia com seus alunos, gerando assim benefícios para todos.

O trabalho conjunto de vários profissionais está proporcionando excelentes resultados na Fametro, sendo que grandes esforços têm sido empreendidos no aprimoramento da qualidade do ensino. Inspirados pelos valores da instituição, alunos e professores são conclamados a unirem forças na busca de melhores níveis de excelência acadêmica. Dessa forma, está sendo moldada uma estrutura que muito em breve ganhará seu merecido destaque na sociedade manauense. É importante destacar que muito além de belas, modernas e confortáveis instalações, o professor continuará ocupando o centro de toda a dinâmica educacional.



quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ÁREAS DE RESPONSABILIDADE

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 15/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo31.rg3.net

As organizações com certo grau de complexidade são divididas em departamentos os quais funcionam como subsistemas de um sistema maior que é a empresa. Cada departamento possui um nível de autonomia suficiente para que possa funcionar como uma unidade de negócio. Modernos modelos de gestão são estruturados a partir de células altamente especializadas que se relacionam com as demais observando todo um conjunto de preceitos e valores estabelecidos pela alta direção. Dessa forma, o conjunto ganha força e eficácia porque todos querem demonstrar altos níveis de desempenho. E a sinergia só poderá acontecer se houver mecanismos capazes de aferir com precisão os recursos consumidos e os resultados produzidos nas respectivas áreas de responsabilidade.

Cada área de responsabilidade deve ser administrada como se fosse uma pequena empresa. Os responsáveis deverão ser capazes de elaborar orçamento, gerenciar diversos tipos de recursos, saber se relacionar com outras áreas, ficar atento aos indicadores de desempenho etc. Esse modelo de gestão distribui a responsabilidade, diminui o fardo administrativo do executivo principal e não sobrecarrega as áreas de controle interno. O departamento de contabilidade é o maior beneficiado, visto ser a desembocadura de todos os processos que afetam o patrimônio da organização.

Vale ressaltar que não é função da contabilidade ficar corrigindo erros de outros departamentos. Cada erro detectado deverá ser objeto de comunicação formal ao setor competente cabendo adoção de medidas corretivas pelo respectivo gestor. Adicionalmente, o contador providenciará um registro do fato em algum tipo de relatório de ocorrências. O importante é reforçar mais e mais a idéia da responsabilização – o que os americanos chamam de accountability. Problemas graves acontecem nas empresas devido ao jogo de responsabilidade. Ou seja, enquanto um não faz o serviço, o outro trabalha dobrado. Assim, o sistema inteiro fica desregulado. E, como todos sabem, uma máquina desregulada consome mais recursos e produz menos.

É impressionante o poder destrutivo encerrado em comportamentos corriqueiros que ocorrem diariamente em muitas empresas: É programação intempestiva de suprimento, é imposto pago indevidamente, é produto entregue ao cliente errado, é cadastro incompleto, é informação distorcida, é máquina quebrada por mau uso, é contrato assinado sem análise etc. Imaginemos uma grande organização que de uma hora para outra começa a pipocar problemas por tudo quanto é lado, e imaginemos o departamento que sofrerá todos impactos. Não é correto que a contabilidade absorva passivamente erros e mais erros. Ela deve sim, ao identificar um erro, recusar-se a receber o processo, fazendo de imediato a devolução ao setor competente para as devidas correções. Quando uma pessoa é obrigada a consertar um erro que cometeu e ainda sofrer grande exposição via relatório, ela certamente será mais cuidadosa. Agora, quando ninguém está olhando e os erros se dissolvem no caldo organizacional, pouquíssimos funcionários serão caprichosos nas suas tarefas.

Portanto, não é o contador que tem que adivinhar a origem de um crédito no extrato bancário; o responsável pelo esclarecimento deve ser alguém do departamento financeiro. A ausência de resposta satisfatória denunciará fortes indícios de ingerência, que poderá se agravar para suspeitas mais sérias quanto à condução de uma área de responsabilidade extremamente sensível. Da mesma forma, o responsável pelo suprimento deve responder por faltas de materiais ou distorções nos controles do seu setor. A empresa deverá se municiar de contra-argumentos propiciando uma estrutura de controle interno de alta performance para que as pessoas não escondam suas incompetências ou conduta reprovável nas falhas do sistema de gestão.

Um sistema de gestão bem estruturado e administrado faz emergir tanta coisa cabeluda que arrepia até casca de ovo. As delimitações de áreas de responsabilidade, com definições detalhadas de atribuições, metas, modelos de conduta, premiações, punições etc., provocam verdadeiras revoluções por simplesmente evidenciar as competências de cada um.

O ZELADOR DO BANHEIRO

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 08/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo30.rg3.net

Durante o processo de análise contábil de uma empresa industrial, o contador arrolou uma série de pendências documentais e em seguida solicitou esclarecimentos dos setores competentes. Para sua surpresa não houve retorno das solicitações; as pessoas que produziam determinadas informações ou operacionalizavam atividades administrativas ou produtivas simplesmente não se sentiam responsáveis por prestar nenhum tipo de esclarecimento ao departamento de contabilidade. Nas suas concepções, a contabilidade é que deveria se virar para fazer o seu trabalho. Tal comportamento seria aceitável até certo ponto se a estrutura organizacional interna fosse de uma eficiência primorosa. Um dos problemas é que constava nos extratos bancários um rol de operações de fechamento de câmbio relacionado a operações de importação, sendo que o departamento financeiro não sabia fazer conexão entre os débitos na conta corrente com os processos de entrada de insumos importados. O setor responsável pela recepção e controle de materiais tinha um grande volume de documentos de importação arquivado em pastas, mas ninguém sabia vincular as operações de recepção de materiais com as operações financeiras. Para complicar um pouco, os fechamentos de câmbio eram feitos por uma unidade comercial que ficava a 5000 km de distância, que simplesmente ia pagando, pagando...

O contador, claro, trabalhou feito louco para montar um imenso quebra-cabeça onde ficaram faltando muitos esclarecimentos. Mesmo com muita cobrança e insistência os documentos não apareceram e ninguém foi responsabilizado pelos desmandos. Os diretores achavam que o contador era o único responsável e que, portanto deveria dar um jeito na situação.

Continuando seu trabalho, o contador passou dias relacionando listas imensas de retenções de impostos com os respectivos recolhimentos. Ao final do trabalho entregou a lista de pendências ao departamento financeiro. O contador identificou também operações bancárias na casa de milhões de reais que ninguém sabia dizer do que se tratava – uma coisa simplesmente assustadora. O encarregado financeiro dizia que quem movimentava tais contas “era o pessoal de São Paulo”. Ao contactar o escritório de São Paulo, a resposta é que quem “cuidava” dessas operações era o setor financeiro da sede do grupo empresarial, sendo que essa tal pessoa era incomunicável. Mas aí, surgiu a possibilidade de
uma terceira pessoa, que tinha uma empresa parceira em Curitiba, que poderia ajudar nos esclarecimentos das operações.

O absurdo do absurdo é que se tratava de valores de grande monta. Não eram cifras na casa de mil, dois ou dez mil reais. Eram milhões!!! O contador ficou apavorado com essa configuração financeira de alta densidade nebulosa. Na realidade, uma negríssima nuvem encobria as operações financeiras dessa empresa. Mais isso não era o bastante. O contador verificou vários lançamentos que levaram a conclusão de que a empresa possuía mais contas bancárias além das conhecidas. Mexendo, mexendo, percebeu que faltavam extratos bancários de oito contas bancárias, o que redundou em mais lutas e cobranças até os extratos aparecerem. Quando apareceram, a coisa ficou mais enrolada devido ao aumento das dúvidas. Ou seja, quanto mais documento aparecia, mais feia ficava a coisa.

A empresa havia adquirido um sistema de gestão que era o supra-sumo dos sistemas ERP. A questão é que as características do sistema estavam anos luz distante da habilidade dos seus operadores. É como se fosse entregue um submarino nuclear para um motorista de táxi. As consequências, obviamente, foram desastrosas: era informação que entrava automaticamente, era informação que entrava manualmente (e errada); era estorno para todo lado, ajustes, controles paralelos em planilhas eletrônicas etc. Para completar a contabilidade era quebrada em três pedaços, como se fossem três empresas. O motivo dessa fragmentação era a falta de um módulo integrador.

Havia muitas outras escabrosidades, mas mesmo assim somente o contador era cobrado por resultados. Ele tinha que fazer o balanço devido a uma necessidade imperiosa da empresa. Após estafantes e longas jornadas de trabalho, o balanço ficou pronto, mas cheio de pendências. O diretor da empresa ainda teve o atrevimento de dizer que o balanço estava errado. Na cabeça do diretor, a contabilidade tinha a obrigação de adivinhar tudo que um batalhão de funcionários fazia, mas que não contava para ninguém; tinha que dar um jeito em tudo quanto era baderna que rolava solta no ambiente de trabalho.

Diferencial competitivo do voluntariado

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 01/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo29.rg3.net

Vivemos um tempo onde as pessoas se isolam uma das outras e dessa forma algumas delas padecem de necessidades básicas e outras amarguram o vazio existencial. A consequência da objetividade pragmática que domina o senso comum daqueles que estão numa fatigante escalada social é o bloqueio da percepção para a poesia da vida, para o valor do abraço de um amigo ou para uma agradável brisa de um dia reconfortante. Quando atingimos o tão sonhado patamar social - objeto de um plano cuidadosamente posto em prática, descobrimos muitas vezes que de tanto lutar pela vida esquecemos de viver. Reconhecemos que o grande e verdadeiro projeto é aquele que nos enche de satisfação e orgulho quando é realizado. E esse sentimento está diretamente ligado à idéia de fazer a diferença nesse mundo sendo útil ao próximo e a comunidade em que vivemos; é o ideário de ser parte integrante de um grupo, de ser aceito, de interagir com as energias positivas à nossa volta.

A prática do voluntariado é uma excelente oportunidade de experimentar o prazer de fazer outra pessoa feliz, além de aprender com as diferenças. Ao mesmo tempo, ainda nos ajuda a refletir sobre a nossa vida e o que fazemos dela. Muitas vezes reclamamos de tudo e de todos como se o mundo fosse nossa babá. A proximidade com pessoas que vivem numa realidade bem diferente da nossa nos faz mais humanos e maduros, visto que nesse processo é feito o exercício da empatia, qualidade essencial nos relacionamentos interpessoais nas empresas. O voluntário é como um ator social e agente de transformação, que doa seu tempo e conhecimentos e presta serviço não remunerado beneficiando a comunidade ao qual está inserido, manifestando assim seu espírito solidário.

Oferecer-se voluntariamente para trabalhar em atividades de cunho social transforma seu praticante numa pessoa muito bem quista pela sociedade e pelas empresas. O trabalho voluntário está evoluindo para se transformar num diferencial competitivo no futuro, apesar de atualmente ainda não ser considerado como critério de desempate em processos de seleção. Destarte, campanhas e as diversas mídias têm trabalhado intensamente na valorização do voluntariado. Nesse ritmo, quem sabe assim possamos um dia nos igualar a Europa, que inseriu a prática do trabalho voluntário no seu padrão de currículo. No nosso dia-a-dia já se observa em muitos formulários on-line de currículos de importantes empresas um destaque para a atividade voluntária, indicando desse modo uma tendência de evolução do assunto. Pode-se dizer que a importância do voluntariado toma corpo de tal modo como os conceitos de sustentabilidade e preservação do meio ambiente.

Quem se dispõe a prestar um serviço voluntário demonstra espírito de engajamento, maturidade, responsabilidade e nobreza de caráter. Muitos e muitos jovens de todas as idades são extremamente receptivos à idéia de atuar em um projeto social, mas vêem seu entusiasmo se esvaziar por ausência de ressonância aos seus anseios. Ou seja, faltam empreendedores sociais que liderem uma marcha e conduzam ávidos atores até o palco do voluntariado. Esse tipo de coisa deveria ser fomentado nas escolas. Seria muito proveitoso para o aluno, principalmente para o jovem ansioso por fazer e acontecer. Resumindo, faltam líderes, falta ação.

No ano de 2002 um grupo de três alunos da Universidade Federal do Pará resolveu promover uma palestra num depauperado auditório do campus da UFPA com o intuito de arrecadar alimentos para ajudar uma comunidade carente. Foi então que entrou em cena o quarto integrante que fez uma proposta arrojada, ou seja, promover um evento de envergadura e alto nível profissional. A idéia assustou o trio de estudantes, que em pouco tempo abraçou o desafio. O projeto foi refeito e o quarteto partiu em busca de recursos, além de trabalhar duro durante um bom tempo. O resultado da saga estudantil foi um acontecimento nunca visto e nunca repetido por alunos de Ciências Contábeis na cidade de Belém. O grupo conseguiu uma robusta arrecadação proveniente de contribuições de várias empresas. Foi feito um grandioso trabalho de programação visual com banners, grandes cartazes, certificados, crachás, folders, panfletos etc.; foram realizadas muitas visitas a várias instituições de ensino, uma instituição particular cedeu um luxuoso auditório, pessoas de renome local e nacional palestraram; houve todo um procedimento de credenciamento, cerimonial, shows, sorteio de brindes, prestação de contas etc. E no final, o objetivo, que era a arrecadação de alimentos, foi um sucesso estrondoso. E tudo foi fruto do trabalho de quatro simples alunos, que andavam de ônibus e que se entregaram a uma causa de corpo e alma. O registro desse fato memorável está no site www.jornadacontabil.rg3.net

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Conflito no topo - Contabilidade em ação

Reginaldo de Oliveira
E-mail - reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 24/09/2009 – Manaus/AM - Pag. A3
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A falta de informações confiáveis acerca do desempenho econômico e financeiro de uma empresa é o grande motivador de conflitos entre sócios, e o melhor instrumento para produzir tais informações é a contabilidade. Durante muitas décadas desprezou-se o poder dessa eficiente ferramenta de controle, a qual era e ainda é tida por muitos profissionais como uma máquina de calcular imposto, somente. O desenvolvimento da tecnologia da informação e a disseminação dos sistemas de gestão integrada nas organizações de médio porte potencializaram as características gerenciais da ciência contábil. Na realidade, o que aconteceu foi que o óbvio ficou patente. Difícil, é quebrar paradigmas solidamente incrustados no espírito de experientes empresários.

O óbvio é que todo aluno de Ciências Contábeis aprende que contabilidade é um instrumento de registro e controle do patrimônio. O desvirtuamento dessa maravilhosa ciência foi patrocinado pela nossa onipresente e onipotente Receita Federal do Brasil que fez o grande favor de desmoralizar toda uma classe de profissionais através de interferências e deturpações na técnica contábil, obrigando ou induzindo a produção de informações distorcidas. Seria como se engenheiros fossem obrigados a combinar inadequadamente os compostos de uma concretagem ou utilizar vergalhões inadequados à estrutura da edificação. Ora, bolas! Quem entende de construção é o engenheiro, que usa técnicas adequadas para o bom desempenho das suas atividades. Da mesma forma, quem entende de contabilidade é o contador, ao qual são conferidas prerrogativas legais para desempenhar suas funções em prol da qualidade da informação contábil. O problema é que se fizer isso, o oceanógrafo que passou no concurso da Receita Federal para auditor fiscal pode multar a empresa por ela não depreciar "corretamente" um molde que foi descartado após seis meses de uso. Um verdadeiro atentado ao bom senso.

Com a contabilidade cheia de crateras por conta dos bombardeios da RFB, os administradores, obviamente, passaram a não acreditar que ela poderia ser usada como instrumento de produção de informações gerenciais confiáveis, valendo-se de outros meios para buscar mecanismos de aferição de resultados do negócio. Agrupamento de elementos obtidos no setor financeiro combinados com dados da produção, informações de vendas etc. carecem de sustentação por causa da ausência do elemento consolidador que aglutine os eventos patrimoniais em um grande encadeiamento lógico de informações - uma espécie de longa espiral de DNA que confere integridade ao conjunto de informações contábeis. A falta de integridade abre amplo espaço para contestações, o que impacta diretamente os interesses de sócios que não acreditam nos números apresentados pelo contador. Exemplo: um caminhão que está trabalhando a pleno vapor consta na contabilidade como totalmente depreciado – um absurdo técnico.

No final do ano de 1994, uma empresa sediada na capital maranhense apresentava uma rentabilidade fabulosa. Para completar, os cuidados com os aspectos legais eram extremamente rigorosos, onde todas as obrigações fiscais, tributárias, previdenciárias etc. eram seguidas à risca. Em meio a tantos elementos positivos havia uma situação de grande poder destrutivo: Os sócios estavam numa feroz e violenta discórdia porque não acreditavam nos demonstrativos contábeis, mesmo apresentando excelentes resultados. A desconfiança era que tais resultados seriam muito mais robustos, além de acusações de existência de várias operações que não transitavam pela contabilidade, beneficiando diretamente dois sócios tidos como comparsas. O Contador era considerado conivente de todo o imbróglio, sendo acusado de ajustes inadequados na escrituração contábil.

Quando a ruptura parecia iminente, o sócio mais respeitado contratou os serviços de um importante consultor organizacional, que por sua vez convidou um contador com grande experiência em gestão e informática. A empresa fez um expressivo investimento num avançado sistema de Contabilidade Gerencial. O contador projetou a mudança para a nova sistemática contábil através de um projeto bem elaborado, cujo desenvolvimento levou oito meses para ser concluído. A mudança foi profunda e radical. Toda a arcaica e pesada metodologia contábil foi virada pelo avesso. Trabalhos que demoravam uma semana passaram a ser feitos numa tarde e a montoeira de caixas e papéis simplesmente desapareceu; as mesas ficaram limpas, o oxigênio da sala mais puro, o estresse caiu para níveis muito baixos, o quadro de pessoal ficou sessenta por cento mais enxuto e por fim, a qualidade da informação foi conquistada e os demonstrativos contábeis ganharam credibilidade dos sócios. Com o passar do tempo a tensão foi diminuindo assim como a quantidade de advogados que cada sócio havia contratado. Surgiu um novo problema: Teve sócio que até tentou, mas ninguém conseguiu fazer maracutaias depois das mudanças.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

ARQUIVAR É PRECISO

Reginaldo de Oliveira
E-mail - reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 17/09/2009 – Manaus/AM - Pag. A3
www.artigo27.rg3.net

Organizar documentos de forma adequada é uma tarefa que exige boa dose de disciplina e atenção. Em casa, por exemplo, quem é que tem paciência de arquivar tudo quanto é comprovante de pagamento e outros documentos em pastas separadas e etiquetadas? Pouca gente, com certeza. Fazer esse tipo de coisa é um trabalho muito chato. Assim, as pessoas costumam guardar documentos em caixas, gavetas etc. “Guardar” é um eufemismo, visto que tudo fica embaralhado. Quando ocorre a necessidade de localização de um papel importante, a papelada é espalhada no chão da sala onde o interessado passa a fazer uma verdadeira garimpagem atrás do que procura.

Muita gente leva essa prática para a empresa - um comportamento extremamente arriscado, visto que não se deve brincar com documentos. Há o antigo caso de um dono de escritório que “arquivava” a documentação dos seus clientes em uma caixa vazia de geladeira. Quando um cliente fazia uma solicitação a caixa era tombada espalhando papéis no piso do escritório. Em seguida dois funcionários reviravam a papelada até localizar o documento solicitado. A maioria das pessoas desorganizadas não chega a esse ponto, mas não fica muito longe.

É curioso como as pessoas e empresas desenvolvem as mais criativas e preguiçosas formas de arquivar documentos. É uma multiplicidade de estilos, cada um mais interessante que o outro.

Um consultor contratado para fazer um trabalho organizacional em uma empresa observou que determinados tipos de documentos eram arquivados num período específico em pastas suspensas. De certo tempo em diante em caixas de arquivo morto. Depois, em pastas A-Z e por fim em pastas coloridas com elástico. Ele descobriu que haviam passado quatro funcionários pelo setor financeiro, cada qual com estilo e personalidade próprios. O problema é que parte da papelada estava em um arquivo de aço; as pastas A-Z, num armário e os demais documentos estavam guardados em grandes caixas de papelão que ficavam num depósito empoeirado. A atividade de organização desse arquivo foi uma experiência de descobertas semelhante a um trabalho de arqueologia. Foram descobertos fósseis de documentos tidos como extintos, além de muita coisa menos importante, como revistas velhas, folhetos de propaganda, papéis internos absolutamente inúteis, listas de aniversário de funcionários, lindos cartões de natal etc. Resumindo, um monte de coisa que deveria estar no lixo, misturada com contrato social original, nota fiscal de aquisição de veículo, comprovantes de pagamentos de impostos etc.

Em uma bela manhã de verão essa mesma empresa recebeu a notícia de que estava sendo processada pelo proprietário do prédio que cobrava o equivalente a quatro anos de aluguel atrasado, além de uma série de taxas extras. Para preparar a defesa, foi necessário compor um processo que deveria conter, obviamente, todos os comprovantes de pagamentos efetivados, além de verificar no contrato do aluguel se as taxas eram procedentes. O que se seguiu a partir desse problema foi uma sequência rocambolesca de sobressaltos e aberrações. Primeiramente, não foram encontrados todos os comprovantes de pagamento. Descobriu-se que alguns pagamentos foram feitos em recibo simples que nem sequer indicava se era pagamento de aluguel, visto que mal continha valor e um rabisco do recebedor no lugar da assinatura. E para completar, o contrato do aluguel havia sumido. Foram meses de muito estresse onde uma montoeira de papel foi revirada. A consequência (previsível) foi um acordo judicial extremamente desfavorável para a empresa onde o proprietário do prédio explorou o quanto pode a desorganização do seu inquilino.

Há duas formas de aprender. Uma, pelo uso do bom senso, que é a mais nobre. E outra, pela experiência, que é a mais amarga. E tendo amargado uma dura experiência, o proprietário da empresa resolveu tratar o assunto arquivo com a seriedade devida – foi quando contratou o consultor organizacional e outro profissional para implantar um programa de qualidade ISO 9000. Primeiramente, construiu um bem estruturado conjunto de prateleiras e admitiu duas pessoas para auxiliar o consultor organizacional. O trabalho de organização do arquivo foi focado no aspecto padronização, ordem, disciplina, endereçamento etc. Ao final, tudo foi mapeado no computador e um funcionário ficou responsável pela administração da documentação arquivada. O momento de transformação foi aproveitado para trazer todos os controles contábeis para serem executados internamente na empresa, trabalho que antes era feito por uma prestadora de serviços contábeis.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Consequências desastrosas da desorganização

Reginaldo de Oliveira
E-mail - reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 10/09/2009 – Manaus/AM - Pag. A3
www.artigo26.rg3.net

Um empresário grandalhão e famoso por suas artimanhas resolveu contratar um profissional para desenvolver uma contabilidade gerencial para sua empresa. Na reunião de contratação o assunto principal tomou ares sofisticados onde o contratante delineou um cenário do mais alto dos níveis organizacionais e expôs suas expectativas ao consultor ali presente. O contratado se empolgou com o belo discurso e imaginou um caso de sucesso no seu currículo, já que o proprietário da empresa lhe transmitiu a imagem de um empresário maduro e visionário. Fechado o acordo de prestação de serviço ficou marcado o dia do início dos trabalhos. Ao se despedir do grande chefe e se dirigir ao local de saída, chamou a atenção do consultor as expressões de apatia dos funcionários e instalações marcadas pelo improviso, além de certo desleixo. O item mais curioso foi a inexistência de uma portaria – o portão era aberto ou fechado de acordo com o som de buzina que um funcionário do setor de faturamento entendia por fechar ou abrir usando um pequeno dispositivo de controle remoto que continha um único botão. Na realidade, o funcionário que ficava numa sala fechada, de tanto abrir e fechar, acabava se perdendo na sequência dos apertos do botão. Vez por outra o patrão saia da sua sala, via o portão aberto e dava uns gritos para que fosse fechado.

Esse quadro foi uma avant-première do que viria em seguida. No dia de estréia, o consultor estava ali cedo para começar a grande jornada. Entrou numa sala que continha duas mesas entulhadas de papel e dois funcionários mal encarados, além de paredes e piso sujos. Na sala ao lado estava um funcionário atarantado e com expressão assombrada. Na lateral da sala havia um balcão largo e alto onde ficavam “arquivados” os documentos mais recentes. O consultor começou então a levantar com o assustado funcionário uma série de informações sobre o funcionamento da empresa e a estrutura de controle existente, quando de repente o sócio do seu contratante entra na sala e solicita um comprovante de entrega de mercadoria. Rapidamente, e de forma nervosa o dito funcionário abre uma grande caixa de papelão cheia de papeis e começa a procurar o tal documento. Enquanto está revirando os papéis, alguém faz uma nova solicitação que o faz iniciar uma outra busca em uma pilha de outros papéis que se encontravam em cima da sua mesa. Passam-se vários minutos quando o primeiro solicitante liga aos gritos cobrando o primeiro documento. O funcionário volta para a caixa de papelão e, para seu grande alívio, encontra o que procurava e corre para entregar o documento ao chefe. De volta, o incansável funcionário comenta que aquele era um dia de sorte por ter encontrado “rapidamente” o que procurava.

O consultor resolve fazer uma verificação no repositório de documentos – o robusto e pesado balcão. Encontrou ali pilhas e pilhas de documentos dos mais diversos. Por exemplo, em uma pilha de uns 40 centímetros de altura encontrou nota fiscal, contrato social original, cadastro de funcionário, certidão negativa de órgão governamental, folhetos de propaganda, revista velha, cópias de documentos dos sócios etc. Em uma caixa de papelão encontrou um pacote com muitos documentos dos vários veículos da empresa – novos, vencidos, vendidos etc. O consultor perguntou se todos os documentos da empresa se resumiam a papelada existente naquela sala, ao que o funcionário disse que os mais antigos estavam no “arquivo morto”. Quando o consultor viu o “arquivo morto” quase cai de costas. Só não caiu porque os documentos estavam amontoados no teto de um depósito para produtos especiais (entre a laje de concreto do tal depósito e o teto de metal o espaço era de pouco mais de um metro). A cena era surreal: caixas e caixas de vários tamanhos cobertas por uma fina poeira preta e dispostas de forma como se tivessem sido arremessadas como bolas de basquete.

De volta ao solo, o consultor solicitou a aquisição imediata de um arquivo de aço para organizar a documentação dos empregados, tarefa que lhe pareceu mais urgente. Após quase três semanas e muita briga, o dono apareceu com um arquivo velho e enferrujado. Várias outras solicitações foram feitas para adequar a realidade vivida pela empresa à belíssima estrutura existente no imaginário do diretor. O grande e crítico problema era a desconsideração por parte desse diretor de que entre início e fim existe o meio. Ou seja, ele só enxergava o produto acabado, mas se recusava a aceitar o processo de fabricação. Todas as ações de profissionalização da empresa foram boicotadas tendo como consequência a desastrosa perda da exclusividade de distribuição de uma valiosa marca internacional, além de uma série de ações judiciais, disputas ferozes entre os sócios, a quase falência do negócio e um conturbado e melancólico ato final marcado pela venda da empresa para um comprador que apareceu para juntar os despojos e fazer um trabalho de restauração.

O DILEMA DO CHICOTE

Reginaldo de Oliveira
E-mail - reginaldo@reginaldo.cnt.br

Publicado no Jornal do Commercio em 03/09/2009 – Manaus/AM - Pag. A3
www.artigo25.rg3.net

Uma sequência do grandioso filme Ben Hur, do diretor William Wyler, mostra uma embarcação movida pela força de vários homens que aparentemente remam sem parar. Há também um homem que dá ritmo às remadas tocando um tambor e ou outro que garante por meio de chicotadas que o ritmo permaneça inalterado. A imagem de vários homens trabalhando sob sucessões de chibatadas revolta o espectador, sem que se pense que o chicoteador está ali cumprindo a sua função. Ou seja, chicoteando aqueles que não acompanham o ritmo e prejudicam o desempenho global do trabalho. O problema é que mesmo que os remadores se organizem de forma que a produtividade do grupo atinja altos índices eles não estariam livres do chicote, pois este é o único instrumento motivador conhecido. Além do mais o chicoteador precisa dar suas chicotadas, não importando como o trabalho está sendo desenvolvido, visto que ele não sabe trabalhar de outra forma e precisa garantir o seu emprego reforçando a importância da sua função.

Pode parecer uma comparação grosseira, mas muitos daqueles que gerenciam pessoas e processos pensam e agem dessa forma. Acreditam que só podem ter um pouco de tranquilidade ou consciência do dever cumprido se estiverem chicoteando seus colaboradores, não importando a forma como desempenham suas funções. Tal procedimento transforma os subordinados em pessoas defensivas que gastam a maior parte das suas energias imaginando formas de se defender das chicotadas inevitáveis, o que é um tremendo desperdício do talento que cada um carrega consigo. Em vez de ficarem preocupados com as chibatadas, os trabalhadores poderiam concentrar suas capacidades na otimização de todo um conjunto de processos para alcançar a eficácia organizacional. Só que para o administrador arcaico seria terrível o fato da inexistência diária de confusões, de não ver o dia inteiro seus subordinados pulando feito pipoca e apagando intermináveis incêndios. Esse clima destemperado dá a esse administrador a sensação de que seu pessoal está fazendo por merecer o salário que recebem ao final de cada mês.

Essa concepção provinciana demonstra uma mentalidade primitiva daqueles que exercem essa prática, resquício de um tempo que ficou perdido lá atrás. E o mais incrível é que tal comportamento é visto com naturalidade por muitos gestores, arregimentando mais e mais seguidores desse regime, desconsiderando assim uma forte rejeição dos trabalhadores ao autoritarismo.

O administrador carrança não compreende que sua função é buscar meios de obter a eficiência e eficácia organizacional. Ou seja, garantir o cumprimento dos procedimentos e atingir as metas contidas no planejamento da empresa. E administrar de forma fluida evitando o desgaste exagerado das pessoas, visto que os desequilíbrios comprometem a produtividade condenando os integrantes do grupo de trabalho à mediocridade, tirando-lhes a esperança de crescimento profissional. Além do mais, o ambiente insalubre resultante de circunstâncias rocambolescas tolhe toda e qualquer iniciativa que porventura possa brotar dos indivíduos das camadas menos privilegiadas da hierarquia. Isso, evidentemente, castra o progresso de todos sem que haja uma consciência generalizada de que as pessoas envolvidas no processo nutrem-se de um mesmo organismo, que é a empresa. Dessa forma, o bom senso recomenda que a postura geral do conjunto deveria ser orientada para tornar esse organismo forte e produtivo. Infelizmente, o modelo de gestão arcaico tente a permanecer inalterado enquanto tudo estiver funcionando, não importando se aos trancos e barrancos.

Porém, quando num dado momento todos começarem a sentir que estão sendo engolidos por uma força que mal permite consciência do seu caráter, as pessoas cairão em si e concluirão que toda uma cultura precisará ser modificada. Farão isso porque as ameaças advindas de mudanças econômicas, culturais, tecnológicas, conceituais etc., pressionam a organização, arremessando-a numa arena de disputas sangrentas pela sobrevivência onde somente instituições com alto grau de adaptabilidade não são pulverizadas.

A estratégia dos vencedores concentra-se muito na concepção de que os elementos e etapas do processo devem funcionar como engrenagens fortes e precisas, atuando como um bloco, para só assim fazer frente aos concorrentes. É importante frisar que atualmente a excelência não ganha mais o jogo – só permite jogar. É evidente que para a viabilização de um modelo de negócio bem sucedido é necessário e fundamental que seja feita uma revisão crítica de toda uma cultura sedimentada sobre anos e anos de chicotadas. Agora, a organização depende de todo o potencial criativo e produtivo que seus colaboradores puderem desenvolver e que o chicote não consegue extrair.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

DE DENTRO PARA FORA

Reginaldo de Oliveira

Publicado no Jornal do Commercio em 27/08/2009 – A24

ARTIGOS PUBLICADOS

Uma grande edificação precisa, obviamente, de um alicerce que suporte sua estrutura. Se lá pelas tantas alguém decide acrescentar mais andares, as fundações deverão passar por um processo de revisão e reforço. A imprudência de não fortalecer a base ao acrescentar sobrepeso à construção resulta em uma série de efeitos colaterais antes de um provável desastre final. Não adianta colocar uma coluna extra aqui e revigorar outra viga ali. Ou seja, ir empurrando o problema com a barriga e torcendo para que o prédio aguente até o dia que for possível fazer um trabalho decente na sua base.

Alguns empreendimentos não conseguem sustentar seu próprio crescimento, sua própria estrutura. Negócios concebidos em um modesto formato que de uma hora para outra se veem violentamente alçados a um estrondoso sucesso, deixam seus dirigentes atordoados como se tivessem comido uma panela de feijoada de uma só vez. Assim, indispondo de tempo apropriado para digestão os diretores vão ficando empanzinados com tantos assuntos e problemas que se multiplicam como coelhos, sinalizando assim os limites das suas competências. Nesse caso, o modelo de gestão de um despretensioso negócio vai se mostrando cada vez mais incompatível com a realidade vivida na organização; tão contrastante como uma barata passeando numa fatia de pudim. Os esforços então são concentrados na dimensão estética com o propósito de camuflar as panelas sujas e amassadas da cozinha. Investe-se em instalações bonitas, limpas e confortáveis. Mas, seguindo um corredor meio que labiríntico chega-se a uma sala com computadores envolvidos em uma trama de fios dispostos em mesas bem diferentes das encontradas no hall de entrada da empresa. Acrescenta-se a isso uma parede quebrada, sala escurecida, rabiscos na parede, objetos espalhados pelo chão, pessoas com barba por fazer, e temos o Departamento de Tecnologia da Informação da empresa.

Algo semelhante acontece quando um cliente vai ao caixa para pagar um boleto ou solicitar informações sobre a troca de um produto. Nesse caso o atendente demonstra um ótimo aspecto e o ambiente é muito bonito - tem até cafezinho e água gelada. Até aí, tudo bem. O mingau encaroça quando um assunto relativamente simples se transforma num pandemônio. O funcionário responde de um jeito, depois muda de opinião; chama um supervisor, que liga para outro departamento etc., etc. Resumindo, a reluzente casca da fruta não condiz com a polpa azeda e indigesta.

Tudo tem uma ordem natural e seu tempo de desenvolvimento, mas a ânsia de querer aproveitar oportunidades a qualquer custo atropela o processo natural das coisas. Os árabes são mais prudentes nesse assunto. Eles iniciam um negócio, mantém seu formato por um tempo adequado e resistem às tentações de mudanças bruscas e intempestivas nas suas atividades. Preferem operar a mudança de dentro para fora, como acontece com o embrião no ovo da galinha que vai crescendo e se desenvolvendo. Quando a casca é rompida, surge uma outra realidade, só que mais bem estruturada, dinâmica e amadurecida. Deturpar esse processo é sempre uma manobra arriscada.

Se a realidade de uma empresa se apresenta de uma forma e uma série de fatores aponta para outra mais grandiosa, a prudência recomenda a revisão da estrutura funcional e adequações necessárias ao atendimento das novas demandas. O Planejamento é uma ferramenta de gestão que está aí, disponível para uso. É só usá-lo. Se faltar habilidade, basta procurar ajuda de profissionais especializados. Os serviços de consultoria trazem oxigênio e ajudam arejar a mente do empreendedor brilhante, o qual não deve ser presunçoso por achar que pode fazer tudo sozinho. Grandes homens cometem grandes erros e por isso é importante parar um pouco, respirar fundo e vez por outra dar uma olhada panorâmica no desenho da sua organização. Se tal desenho não existe, contrata-se então um desenhista (consultor organizacional) para fazê-lo.

A boa gestão é o núcleo de um negócio bem sucedido e na órbita do comandante do navio devem gravitar profissionais com mentalidade de gestores das suas respectivas áreas de responsabilidade. Tal conceito deve ser de domínio geral na organização, desde o encarregado do estacionamento até o diretor de recursos humanos. E todas as ações devem ser pautadas segundo um propósito que confira caráter e personalidade a entidade, e a torne respeitável perante a sociedade.




quinta-feira, 20 de agosto de 2009

APALPANDO O ELEFANTE

Reginaldo de Oliveira

Publicado no Jornal do Commercio em 20/08/2009 – A23

ARTIGOS PUBLICADOS

A um grupo de cegos foi incumbida a tarefa de identificar um objeto e cada um tinha somente três segundos para fazer isso. Após a sessão de rápida apalpação o primeiro voluntário descreveu uma grossa mangueira de calibre menor na ponta e dois furos na extremidade. O segundo destacou ter tocado em uma forte coluna. O seguinte relatou que se tratava de um animal com um chifre imenso. Outro participante da experiência mencionou algo que lembrava uma parede de textura áspera e o último reclamou que estava havendo exagero, visto ter percebido um objeto que lembrava um chicote. Cada cego traduziu o elefante levando em conta a particular limitação da sua percepção do mundo. Ou seja, os dados que acessaram eram muito limitados e não foi dada a eles a oportunidade de explorar por completo o objeto de estudo. Assim, cada qual estabeleceu em sua mente um juízo e um paradigma, sendo que o conceito perduraria enquanto não houvesse uma nova oportunidade para corrigir o equívoco.

 Algo semelhante acontece no ambiente organizacional, principalmente quando se trata de uma grande e complexa estrutura. Caso fosse feito um estudo aprofundado com cada empregado sobre a imagem que tem da empresa que trabalha, surgiria uma grande variedade de visões e interpretações, sendo que muitas delas surpreenderiam os membros da alta direção. Esse é um fenômeno recorrente nos ambientes organizacionais, fruto das deficiências de gerenciamento dos seus recursos humanos e até crise de identidade da empresa.

 A empresa é um ente detentor de personalidade e sua idiossincrasia a distingue das demais organizações – nenhuma empresa é igual a outra. Ela é resultado de uma série de variáveis que passaram por um complexo processo de catalisação de opiniões, valores, conceitos até se consubstanciar naquilo que se conhece como cultura organizacional. O grande problema é que todo esse processo pode acontecer sem gerenciamento e sem controle. Ou seja, a administração competente nunca se dispõe a fazer um exercício de introspecção com o intuito de refletir sobre o que ela é, o que quer ser, o que faz, o que quer fazer, para onde quer ir e de que forma. Deixando essas questões ao léu, um belo dia o dono não reconhecerá aquilo que achava ser sua empresa e que deveria ter a sua cara. Os exercícios de implantação de programas de qualidade possuem a virtude de provocar tais reflexões, levando a empresa a se situar em termos de objetivos e valores, definindo sua missão e visão, e comunicando tudo isso aos seus públicos interno e externo.

 Cada empregado ao ser admitido precisa tomar conhecimento dos valores do seu novo ambiente de trabalho. Necessita também saber do seu papel da organização, o que dele é esperado, quais são as recompensas; além de várias informações importantes sobre o que fabrica, para quem vende, posição no mercado, hierarquia, horários, regulamentos, procedimentos etc. A falta de visão sistêmica (onde o organismo empresarial é tido como um grande corpo com vários órgãos, fluxos, subsistemas e processos) pode ser comparada a inexistência de monitoramento de uma máquina onde uma engrenagem aqui e outra ali pode estar com um desgaste ou falha que compromete o funcionamento de todas as outras peças. Consequentemente, a coisa começa a se arrastar ou consumir muito mais energia para obter o mesmo resultado. Da mesma forma que um trabalho de manutenção visa identificar e corrigir uma peça defeituosa, também a iniciativa voltada para a gestão de processos e informações pode identificar entraves, gargalos e deficiências que, corrigidas, promovem a desobstrução dos fluxos normais de trabalho.

 A mudança depende de uma ação administrativa. Uma empresa que consiga fazer um bom trabalho com cada um dos seus empregados, será recompensada com uma estrutura altamente produtiva. Uma força de trabalho que atua como um bloco uniforme é um ativo de alto valor no mercado, mesmo que ainda não se consiga mensurar o capital intelectual das organizações. Mas, com certeza, uma equipe de alta competência é o que diferencia uma empresa bem sucedida, visto que as variáveis tecnologia, mercado, acesso aos insumos e aos canais de distribuição já são questões de amplo domínio entre as organizações mais maduras. É preciso então ampliar as capacidades intelectuais, perceptivas e produtivas dos funcionários e isso só se consegue com muito investimento em educação empresarial.



quinta-feira, 13 de agosto de 2009

GUERRA DO ARCO-ÍRIS

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 13/08/2009 página A3 - A022

Era uma vez três reinos que ficavam assentados em três grandes nuvens: o reino vermelho, o reino amarelo e o reino azul. Os integrantes de uma localidade podiam avistar ao longe os dois vizinhos, mas não dispunham de tecnologia que permitisse o deslocamento de uma nação à outra. As pessoas estavam separadas por um profundo abismo. Cada cidadão era obrigado a contemplar, valorizar e defender a cor dominante do seu povo. No reino vermelho tudo era vermelho, as roupas, as joias, as paredes, os tapetes etc. Afinal de contas, o vermelho era lindo. No reino amarelo, da mesma forma. Os habitantes do reino azul eram ardorosamente fanáticos pela cor safira, sendo que, se alguém criasse um novo tom para o azul, logo se transformava numa celebridade instantânea.

Numa bela manhã de outono o cientista mais famoso do reino amarelo criou um revolucionário equipamento de transporte aéreo. Então, logo em seguida ele resolveu fazer um teste: viajou no protótipo até o reino vermelho. Chegando lá, encontrou uma bela mulher de lábios saborosamente vermelhos que, obviamente, vestia um magnífico vestido vermelho. Os dois se apaixonaram de imediato e começaram a namorar. Uma denúncia anônima levou os agentes da lei a perseguir o casal até que foram apanhados em flagrante. A mulher foi presa, mas o homem fugiu para o reino amarelo levando consigo uma rosa vermelha que recebeu da sua amada. Estando de volta à sua terra natal, o inventor apresentou sua criação às autoridades que de imediato prepararam uma grande cerimônia para comemorar tão importante conquista. Eis que ao receber a premiação o homem exibiu a rosa vermelha para um grande público. O gesto chocou a todos. Por causa de tamanha heresia o inventor foi do céu ao inferno em poucos minutos, sendo recolhido de pronto a uma penitenciária de segurança máxima.

Com a tecnologia de transporte dominada, um imenso contingente de soldados amarelos partiu para a conquista do reino vermelho. Mal sabiam eles que o reino azul estava fazendo a mesma coisa. Ou seja, o reino vermelho estava sendo simultaneamente atacado pelos dois vizinhos. Cada grupamento desembarcou no terreno inimigo armado até os dentes com pincéis e latas de tinta. O objetivo era mudar a cor de tudo que fosse encontrado pela frente. Os bravos soldados vermelhos resistiram heroicamente. Em meio a tantos jatos de tinta aconteceu um fenômeno inusitado, que foi a explosão de belíssimas outras cores desconhecidas dos presentes até então. Por isso, todos pararam e ficaram encantados com o que viram. Os combatentes nunca poderiam imaginar que o trabalho conjunto poderia resultar em possibilidades tão diversificadas. Ou seja, em vez de passar a vida inteira presos numa vida monocromática, eles agora poderiam interagir e trocar experiências para conferir mais alegria e enriquecimento às suas atividades diárias. Desse dia em diante os reinos passaram a ser multicoloridos.

Essa história, que fez sucesso na forma de vídeo, mostra como as pessoas tendem a se fechar em grupos herméticos. Nas empresas, constroem os famosos setores estanque, onde proliferam rivalidades e hostilidades entre colegas de trabalho. Até a comunicação entre indivíduos de grupos rivais tende ser meramente protocolar e limitada, concorrendo assim para o isolamento dos funcionários. Cada grupo faz um imenso esforço para ser mais importante do que o vizinho. Nessa disputa, diversas armas são usadas e cada conquista é comemorada, gerando ciúme e desavença nos demais. A rivalidade mais comum acontece entre o pessoal da administração e o da produção. Geralmente, os funcionários da administração são os queridinhos da diretoria enquanto que os empregados da produção ficam meio que esquecidos em galpões imensos, quentes e barulhentos.

Do seu posto de trabalho numa linha de produção o operário levanta o olhar e observa através de uma janela ao longe a ocorrência de uma festinha de aniversário da secretária do chefe. Ele vê pessoas sorrindo e se regalando com salgadinhos, tortas e refrigerantes numa sala aconchegante. De repente seu supervisor dá um grito e manda se concentrar no serviço. Com a atenção de volta ao seu trabalho o operário reflete sobre sua condição de cidadão de segunda classe, que nunca terá o mesmo tratamento do pessoal da administração.


A rivalidade entre setores só enfraquece a empresa e, de alguma forma ou em algum momento, todos são prejudicados. A maioria desconhece as infinitas possibilidades de crescimento profissional e de melhoria do ambiente de trabalho caso resolvessem se comportar como um único grande grupo que pudesse compartilhar experiências e cerrar fileiras numa batalha em prol do bem comum.


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NÓS NUNCA SOBREVIVEREMOS

Reginaldo de Oliveira

Publicado ERRONEAMENTE no Jornal do Commercio em 06/08/2009 – Manaus/AM - Pag. A3

Publicado CORRETAMENTE no Jornal do Commercio em 07/08/2009 – A21
 

ARTIGOS PUBLICADOS

O cantor inglês Seal diz em uma de suas canções: “We're never gonna survive, unless we get a little crazy”. Está impregnada na alma do homem comum a noção muito clara do que ele deve e do que não deve fazer. Ou seja, quais ações são lesivas às outras pessoas e quais providências são necessárias para defender sua vida, sua família e suas posses. Não é necessário passar cinco anos numa faculdade de Direito para saber disso. No filme O Patriota, Mel Gibson mostra os extremos que um homem chega quando sua família é violentamente atacada. O que se segue é uma sequência de atrocidades e banhos de sangue - cenas chocantes que não condizem com o nosso modelo tradicional de civilidade. Só que no final o pai violentado ficou de alma lavada por ter feito o que sua natureza ardorosamente clamava. A suprema corte dos Estados Unidos da América reforçou o direito constitucional do cidadão americano de possuir uma arma. Lá, o direto à defesa da família e da propriedade é sagrado e que ninguém se atreva brincar com essas coisas.

 O cliente pergunta para a vendedora se tem gravata ao que ela responde que sim, tem. Mas está faltando. Ou seja, não tem. O homem comum do nosso meio social não pode protagonizar atitudes semelhantes ao do personagem do Mel Gibson. Ninguém pode sair por aí fazendo justiça com as próprias mãos, visto que isso inviabilizaria a nossa estrutura social tal qual fomos moldados segundo seu conjunto de valores. Em vários momentos históricos e em várias culturas os valores sociais eram ou são pautados por práticas abomináveis, como por exemplo, a escravidão, o açoitamento em praça pública, a santa inquisição, o código draconiano etc. Os integrantes de tais culturas acabam convivendo com as práticas, mesmo que alguns discordem. Só muitas gerações à frente é que é avaliada a extensão das abominações cometidas. Nesse caso, o que será que o nosso tão avançado momento social está fazendo de tão terrível que somente os netos dos nossos netos dos nossos netos ficarão horrorizados? Será que o nosso fictício sistema judicial estará incluído em uma futura lista de horrores?

 Foi arrancado do homem o seu natural direito de se defender ou de reagir às agressões advindas do seu semelhante, mas, na prática, nada foi colocado no seu lugar. Foi colocado no seu lugar um conceito, uma efêmera idéia, somente. Pelo menos para nós, brasileiros. Em alguns países o cidadão vive com a percepção de que o crime precede o castigo; ele confia na justiça e o criminoso sabe que vai ser punido. Nesse caso, o cidadão vive sob o conforto da lei. Aqui, a coisa é bem diferente. As pessoas rezam para que nunca venham a precisar da justiça, considerando-se que ela só funciona terrivelmente ruim para uma camada privilegiada; para os pobres, inexiste. Para os muito ricos e poderosos, esses tem suas próprias formas de fazer a justiça funcionar. O homem já com certa idade vê na televisão o assaltante que matou seu filho e sabe que o dito cujo está preso na 11DP. Ele vai lá com a intenção de encontrar um jeito de matar o bandido, mesmo que isso arruíne mais ainda a sua vida. Esse homem é absolutamente descrente de que o bandido ficará preso por muito tempo. Ele não está nem aí, só que aliviar um pouco a sua dor.

 A impressão é que existe um velado sistema paralelo, uma espécie de rota alternativa. Aqueles que tentam se apegar fortemente aos valores formais são consumidos, injustiçados e massacrados pelo sistema oficial. Tem justiça, mas só no texto da lei, nas suntuosas instalações dos imponentes tribunais, nos rios de dinheiro que inunda o bolso dos mais espertos, nos discursos de falta de estrutura. Ou seja, não tem. O cidadão é obrigado a se conformar com as desculpas já tão esfarrapadas da ineficiência do estado de direito. Ele então é forçado a engolir seco tudo quanto é desaforo e na sua garganta é empurrada uma bucha até o estômago. O resultado é que todas essas coisas ficam fermentando na sua alma e produzindo terríveis amarguras. Esse homem é assaltado, é agredido, é mutilado e quando procura uma delegacia ou um defensor público ele é submetido a um longo e doloroso processo burocrático que o levará a esperar décadas até que nada aconteça.

 Aquele homem que foi até a delegacia com a intenção de matar o assassino do seu filho sofrerá muito menos por absolutamente não confiar no sistema. Daí, que racionalizar tantas e tantas deformidades sociais sem perder de vez a sanidade é muito difícil. Seal tem razão. “Nós nunca sobreviveremos a não ser que fiquemos um pouco loucos”.



quinta-feira, 30 de julho de 2009

Artificialismos nas relações de trabalho

Reginaldo de Oliveira  

Publicado no Jornal do Commercio em 30/07/2009 – A020

ARTIGOS PUBLICADOS

Que estranhos fenômenos comportamentais se escondem nos subterrâneos da alma humana que faz com que tanta gente dedique sua vida ao estudo desse assunto, tentando decifrar mecanismos que leve à compreensão das ações e reações das pessoas. Apesar de tantos avanços científicos, várias circunstâncias teimam em surpreender os xamãs da psicologia. Parece que a natureza humana se recusa ser estudada e dissecada como um sapo de laboratório, impedindo que seus estudiosos sejam elevados a um estágio divino de consciência. Mesmo assim, muita gente se reveste do manto da presunção e toma para si a autoridade de avaliar pessoas através de métodos maniqueístas e reducionistas, como se a psique humana fosse polarizada entre bem e mal, verdadeiro ou falso; desconsiderando assim um matiz de infinitas possibilidades entre os extremos. A adoção de critérios objetivos de avaliação psicológica é comum em muitos ambientes organizacionais e nessa brincadeira muitas atrocidades são cometidas, muitas vidas destroçadas.

 Pessoas gostam de ser tratadas como pessoa e não como objeto; principalmente, objeto de estudo ou de programas, ou de políticas, ou de qualquer forma de artificialismo. Lamentavelmente, a boa convivência nos sujeita a uma gama de preceitos onde passamos boa parte do tempo fingindo. Tal comportamento é mais acentuado nas empresas onde a palavra de ordem é autopreservação. Todos tentam se proteger das ações dos colegas e ao mesmo tempo respeitar o espaço do outro - tudo, em observância a um padrão de conduta estabelecido pela empresa. Os seja, as pessoas se relacionam seguindo rigorosamente o manual interno e as recomendações mencionadas nos vários treinamentos promovidos pela empresa.

 Quando um funcionário cumprimenta seu colega de trabalho ou quando o chefe faz um belo elogio, o que vem à mente é a sensação de que o protocolo de comunicação prescrito em algum capítulo do manual interno de conduta está sendo obedecido. Ou seja, a formalidade foi cumprida e o ambiente está sob níveis aceitáveis de temperatura e pressão. O problema é que palavras politicamente corretas são contrariadas pelo olhar de desprezo e arrogância. O faxineiro sente na carne a corrosão da indiferença e o operário sabe que a função do seu supervisor é espremê-lo ao máximo. Tanto paradoxo nos faz pensar até que ponto a falta de naturalidade desumaniza a criatura humana.

 Em meio a tanta aridez e dissimulações, a sinceridade torna-se uma rara virtude. Aquele que consegue cumprir o manual e voltar todos os dias para casa com sua alma incólume se transforma em potencial líder e fonte de apoio e proteção. Os líderes formais têm suas ações potencializadas quando aplicam as determinações do manual respeitando verdadeiramente a dignidade das pessoas. Ninguém é tolo o suficiente para não perceber a malícia enfronhada nos sofismas das palavras e nos gestos ensaiados, visto que nossos sentidos nunca nos enganam. O que nos engana são nossos julgamentos, interesses e conveniências. Portanto, manual nenhum é capaz de suscitar no colaborador o entusiasmo necessário ao empreendimento de grandes esforços, aquela chama tão cobiçada pelos gerenciadores dos mais diversos tipos de organizações.

 Alguns podem dizer que dinheiro é o grande e talvez único motivador, mas isso não é verdade. As pessoas são capazes de imensos sacrifícios em prol de uma causa quando são arrebatadas pelo líder carismático, firme, competente e leal. E ainda se sentem extremamente gratificadas quando participam de uma notável construção onde sabem que a obra final terá a sua marca. As pessoas gostam de ser desafiadas e fazem de tudo para mostrar que são capazes quando alguém aposta nas suas potencialidades. Por tudo isso, tanto o bolso como a autoestima precisam ser alimentados. De formas criativas, as empresas precisam encontrar caminhos que possibilitem a liberação da grande energia produtiva dos seus colaboradores, sem esquecer que a dignidade humana é prioridade máxima.

 Como o formalismo é necessário à manutenção da ordem e não é possível fazer todos se amarem uns aos outros, é preciso ao menos investir em um rigoroso conjunto de princípios éticos, além de políticas de transparência das ações da empresa. Igualmente importante é a abertura de canais de comunicação a todos os colaboradores, além da disseminação da ideia de que todas as atividades devem ser valorizadas, independente da posição de cada empregado no organograma. Portanto, repensar o papel da liderança e conciliar valores humanos com a realidade mercadológica é uma árdua, porém necessária tarefa dos grandes líderes.



quinta-feira, 23 de julho de 2009

Qual é mesmo o papel do contador?

Reginaldo de Oliveira

Publicado no Jornal do Commercio em 23/07/2009 – A019

ARTIGOS PUBLICADOS

O tradicional conceito diz que contabilidade é a ciência com metodologia especialmente concebida para cumprir as funções de registro, controle e interpretação dos fenômenos que afetam o patrimônio das organizações. Ou seja, cabe ao contador interpretar os eventos patrimoniais, efetuar os registros, analisá-los e preparar uma série de relatórios que demonstrem o desempenho das organizações num período específico. Essa prática artesanal perdurou por muitas gerações de contadores onde os mesmos eram tidos como alquimistas dos números – aqueles que tinham o poder de transformar prejuízo em lucro, e vice-versa. Livros mágicos e formulações incompreensíveis guardavam operações mirabolantes convertendo o seu artífice em um poço de segredos inconfessáveis. Assim, o sacerdote das organizações reinou impávido sob o guarda-chuva tecnicista por muitos e muitos anos.

 A revolução das relações comerciais e da tecnologia elevou as operações de muitas empresas a um grau altíssimo de complexidade. E nesse contexto não coube mais o emérito e empoeirado contador com sua viseira e seus livrões medievais. Nesse cenário a informação foi desembargada e a contabilidade saiu das sombras juntamente com o contador. Os processos operacionais passaram a ser evidenciados com clareza e a metodologia contábil virou objeto de intensa discussão por parte de uma gama de entidades ao redor do mundo. A ciência do registro passou a ser a ciência do esclarecimento e o administrador deixou de ser o agente passivo, passando a contribuir sobremaneira no aprimoramento do pensamento contábil. Por sua vez, o contador incorporou atribuições de um gestor de alto nível de responsabilidade e competência técnica, abraçando outras áreas do conhecimento, como administração, economia, tecnologia da informação etc.

 Os avanços exponenciais da tecnologia da informação impactaram violentamente a prática contábil. Primeiramente, o contador foi poupado do esforço estafante de calcular blocos e mais blocos de arranjos numéricos, mas ainda assim continuou classificando e inserindo os dados manualmente no computador. Em seguida, estruturas flexíveis permitiram a modelagem de leiautes e relatórios, além de mecanismos voltados para mitigação de erros. A alimentação do sistema continuava manual, sendo que a análise passou a ganhar uma importância maior devido à alta plasticidade da informação, que nas mãos do contador passou a ser modelada de acordo com a conveniência do momento. O passo seguinte foi a popularização dos fenomenais sistemas ERP (Enterprise Resource Planning) com seu ousado propósito de automatização total de todos os processos organizacionais.

 Na maratona contábil os sistemas de gestão ERP cruzaram a linha de chegada, mas a maioria esmagadora de contadores ainda está correndo contra o tempo e muitos ficaram pelo caminho. Essa nova realidade põe em cheque o modelo tradicional de contabilidade. A engenharia da informação alcançou o mais alto posto que uma atividade de assessoria à gestão poderia alcançar. Agora, a área de TI só está subordinada ao mais alto executivo de uma organização. Os administradores de TI não estão capacitados para gerenciar a informação e os contadores não são preparados para utilizar os modernos instrumentos da tecnologia da informação. Entra em cena o controller, que mesmo sendo um super contador continua posicionado no organograma abaixo do administrador de TI.

 Uma empresa que consiga atingir níveis extremos de automatização dos seus processos de forma que sejam dispensadas até a atividade de análise das informações produzidas nas suas diversas áreas, pode questionar o seguinte: Qual é mesmo o papel do nosso contador? Pode até ser que não exista uma situação tão extremada, mas é fato que departamentos inteiros foram devastados pelo furacão ERP. Há casos de empresas com várias mesas vazias e salas onde funcionavam departamentos administrativos sendo usadas como depósito. Mesmo assim ainda existem empresas de grande expressão regional e nacional apinhadas de funcionários burocráticos.

 No momento em que o contador não precisar mais registrar nem analisar lançamentos contábeis, ele terá a chance de recuperar os dons sagrados perdidos lá atrás. Será preciso repensar profundamente suas atribuições e competências. Será que contador e administrador se transformarão em uma única pessoa?




quinta-feira, 16 de julho de 2009

GESTÃO CENTRADA NA INFORMAÇÃO

Reginaldo de Oliveira

Publicado no Jornal do Commercio em 16/07/2009 – A018

ARTIGOS PUBLICADOS

Alfred Sloan, considerado pela Economist como o mais original executivo do século XX, afirmou que sem informação confiável é impossível pôr em prática uma política sólida de gestão. Disse ainda que diante de um cenário de mudanças é fundamental administrar com a força dos fatos. Isso significa que o modo como a informação é reunida, administrada e estrategicamente utilizada, determina quem vence e quem perde no jogo dos negócios. Interessante, é que a tão necessária informação que não aparece no momento oportuno está em algum lugar da empresa; está escondida em alguma planilha, relatório, formulário, banco de dados etc. O problema reside na falta de gerenciamento adequado dos processos internos de modo que as demandas específicas de diversas pessoas na empresa sejam atendidas. Resumindo, a informação existe, mas não é acessível.

 Um bom sistema de informação deve tornar a empresa sensível aos humores do mercado e às mais diversas ações de agentes externos e internos, o que se traduz em respostas rápidas e na medida certa. Trabalhar a informação é um exercício que pode levar ao desenvolvimento dos mais variados modelos de análise de desempenho de um negócio. Para isso, é preciso estar atento aos sinais e submeter os procedimentos a reavaliações periódicas. Também, é importante capitalizar o máximo de ideias brotadas nas cabeças dos funcionários, visto que são eles que estão em contato mais direto com os processos e com os clientes. O conjunto dessas ações produz o conhecimento essencial à manutenção das operações da empresa e sustentação dos projetos de crescimento.

 Muitos administradores reclamam que grandes volumes de recursos investidos em tecnologia da informação não são traduzidos em ganho de desempenho operacional. Talvez isso aconteça devido ao fato da informatização apenas automatizar processos ultrapassados e ineficientes. Ou seja, computadores e softwares caros por si só não fazem milagres administrativos. O restante dos ingredientes passa pelo investimento no capital humano e desenvolvimento de modelos de gestão que melhorem o funcionamento da empresa e obtenham pleno proveito das habilidades dos funcionários.

 O ponto-chave está na integração de processos e em políticas de combate contra a dispersão de dados na organização. É preciso ir atrás de tudo quanto é planilha, formulário, softwares paralelos etc.; e estudar meios de integrá-los ao sistema principal. As planilhas devem ser usadas apenas para melhorar apresentações de relatórios. Caso seu uso seja inevitável para produzir algum tipo de informação inexistente no sistema ERP (Enterprise Resource Planning), as mesmas devem ser mapeadas dentro de uma política de gerenciamento da informação. Quanto mais dados são disponibilizados aos membros da empresa, maior possibilidade de melhoria da qualidade da informação. A centralização da informação resulta na constituição de um grande banco de dados, onde infinitas possibilidades de arranjos de números podem produzir o relatório que a imaginação mandar.

 Ainda se observa em muitas organizações o grande problema de um rico banco de dados contrapor-se com dificuldades imensas de disponibilidade de relatórios. Em tais ambientes surgem demandas e mais demandas de relatórios específicos para determinados tipos de análise enquanto o sistema impossibilita o usuário comum de produzir o relatório desejado. O desenvolvimento dos relatórios fica nas mãos de um determinado funcionário ou um prestador de serviço que pouco aparece na empresa. Ou pior, as solicitações são feitas por E-mail a uma pessoa que está a milhares de quilômetros. Às vezes, dá um desespero no usuário quando ele se confronta com tamanhas dificuldades - é quase uma perversão do fornecedor do sistema ERP.

É preciso então desatar todas as amarras que impedem o desenvolvimento de uma política eficiente de produção e utilização da informação. É necessário combater com muita determinação os atravancadores da produtividade. Muitas vezes, é mais barato ir atrás da solução lá na sede do fornecedor do software do que ficar batendo cabeça com o prestador de serviço local. Um sistema ERP confere imenso poder ao seu domador e por isso vale a pena qualquer sacrifício para adestrá-lo.