terça-feira, 17 de janeiro de 2012

LEALDADE E COMPROMETIMENTO

Reginaldo de Oliveira

A glória de Roma foi conquistada pela bravura dos soldados que davam o melhor de si no campo de batalha. Eles sabiam que os esforços seriam recompensados pelos seus líderes via distribuição do espólio da guerra. Afinal de contas, soldado feliz era um soldado leal. A generosidade dispensada aos impávidos guerreiros era um traço marcante do império que viu seu domínio se esparramar por meio mundo. Quando os governantes passaram a inebriar-se com altas doses de mesquinhez os soldados responderam com falta de entusiasmo e Roma caiu.

O filme Gladiador, de Ridley Scott, demonstra tacitamente que lealdade é uma via de mão dupla. O general Maximus Decimus Meridius inspira a lealdade dos seus soldados pela lealdade que continuamente demonstra por quem luta ao seu lado. Ele encarna o pleno espírito do líder que congrega todos à sua volta em torno de um objetivo grandioso, e fala diretamente ao espírito dos seus homens quando diz “o que fazemos em vida ecoa pela eternidade”. O resultado da afinada sintonia entre comandante e comandados é demonstrado numa sequência espetacular onde um pequeno grupo de pessoas derrota outro contingente bem maior e mais equipado. O improvável acontece devido à sinergia que multiplica a força de homens movidos por um poder superior. Muitos dos que se dizem líderes deveriam mesmo era se envergonhar ao assistir a essa bela produção cinematográfica.

O caráter leal do líder marca para sempre seus liderados. Talvez isso aconteça pela escassez de grandeza no espírito de tantos chefes e dirigentes que se acanham frente às injustiças, onde acabam optando pela pequenez da dissimulação e da demagogia – o foco dessa gente é a sobrevida do emprego. Os liderados de pessoas assim são marcados pelo desamparo; passam a desacreditar de tudo e consequentemente fecham seus centros nervosos e criativos. Obviamente, é muito difícil cultivar lealdade e comprometimento num ambiente árido e insalubre. A reclamação é generalizada, as chefias são carregadas de desconfiança e a legitimidade dos chefes é permanentemente questionada. Como no exemplo do Gladiador, um grupo pessoas pode produzir um brilhante resultado ou se refugiar no porão da mediocridade. Tudo depende do desempenho do líder. Por isso mesmo, as empresas poderiam dedicar mais atenção a essas questões, visto que podem ser cruciais para a sobrevivência do negócio. Ou seja, não é somente o empregado que deve vestir a camisa da empresa. A empresa também poderia vestir a camisa do empregado, assim como fazem os desportistas que trocam uniformes com os adversários no final de grandes campeonatos.

Em vez de desenvolver um ambiente propício à formação de líderes verdadeiros, muitas empresas recorrem aos pacotes motivacionais oferecidos por consultorias especializadas, que prometem aumento de produtividade através da oferta de soluções pasteurizadas e embaladas a vácuo. Tais pacotes parecem substratos de uma lógica cartesiana ou de um algorítmico matemático. Transformar funcionários apáticos em pessoas produtivas tornou-se um mero procedimento burocrático onde tudo é dimensionado, equacionado, implementado, aferido e demonstrado em gráficos 3D. Ou seja, basta seguir à risca uma receita de bolo para que as coisas fiquem cor-de-rosa. O aplicador de tal receita se volta para o processo e ignora a existência da pessoa por trás da mão-de-obra. Assim, o estudo do comportamento se desloca das ciências humanas para as ciências exatas. Não existe alma, não existe empatia.

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