terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

HORA DE ACORDAR

Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 19/02/2013 - A110
Artigos publicados

Um deputado engajado em causas que visem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa possui um valor absurdamente inestimável diante de uma árida brutalidade moral que diariamente nos apavora e destrói nossa perspectiva de futuro. Pena que haja tão poucos homens públicos comprometidos com o exercício de convicções nobres e edificantes. A maioria utiliza o cargo como uma instrumentalização de vaidades e de satisfação da sede de poder político e econômico. Talvez o grande culpado pelo estabelecimento de tantas distorções sejamos todos nós, que optamos pelo analfabetismo político. Como disse o poeta alemão Bertolt Brecht, "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."

Por sorte, observa-se uma movimentação positiva nas redes sociais, o que é um alento em meio ao pântano apodrecido das ignomínias onde estão mergulhadas as nossas instituições legalmente constituídas. Aquele cidadão solitário que achava que só ele se indignava com a safadeza política agora encontra ressonância nas postagens denunciatórias do Facebook. Um caso recente e emblemático é a proliferação virulenta dos protestos contra a escandalosa nomeação do ilustre deputado Renan Calheiros para a presidência do senado federal; uma afronta, um tapa na cara da sociedade brasileira, que atiçou a ira daqueles que estão cansados da bandalheira política. Essa firme reação dos internautas é um bom sinal. É curioso observar muitos internautas externando seus compromissos com os valores postulados por seus avós. Percebe-se uma espécie de vagaroso despertar e ao mesmo tempo um exercício de reflexão sobre a nossa condição de sociedade entorpecida de tantas, gritantes e ostensivas violações da moralidade, a qual só existe no discurso demagógico. A nossa realidade moral é tão invertida que o cérebro de uma pessoa lúcida e esclarecida traduz todo discurso político de forma contrária. Estamos tão escaldados e descrentes que desenvolvemos anticorpos agressivos contra tudo e contra todos que nos pedem um voto de confiança. É como se houvesse um “google translate” na nossa alma, que vai antonimonizando cada palavra pronunciada por autoridades legalmente constituídas. E o pior é que isso vai se estendendo também às pessoas que convivemos diariamente.

Talvez a nossa própria sociedade seja a culpada por esse estado de coisas quando optou em abdicar dos princípios morais em prol de um objetivismo pragmático. É como, por exemplo, o caso da atriz de filmes pornográficos que ajuda vários parentes com a excelente remuneração do ofício. Assim, o dinheiro, o conforto e o luxo falam mais alto e dessa forma todos fingem não sentir o fedor do cano quebrado do esgoto. Em vez de cada cidadão se levantar em protesto, todos querem mais é entrar no esquema, querem uma ponta. Em vez de sair às ruas para protestar contra a corrupção cada um está em casa exercitando a arte do puxa-saquismo para tentar abocanhar um naco de vantagem junto a algum figurão do governo. O problema é como explicar esse pragmatismo aos filhos; o que dizer para eles, o que desdizer o que eles ouviram na escola ou que leram nos livros. Na realidade, todas essas distorções morais acabam nos mergulhando numa esquizofrenia coletiva e nos enfraquecendo como nação. O errado vira certo e o certo vira errado. O corrupto é glorificado pela sua esperteza enquanto que o honesto é taxado de mané. O homem honesto acaba se dando conta da solidão e do abandono, deslocado no tempo e no espaço, vendo suas crenças pisoteadas pela “Lei do Gerson”.

Assim, só nos resta cantar o nosso iluminado poeta Renato Russo: “Vamos celebrar a estupidez do povo, nossa polícia e televisão. Vamos celebrar nosso governo e nosso Estado que não é nação. Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos; tudo que é gratuito e feio, tudo o que é anormal. Vamos cantar juntos o hino nacional. Vamos celebrar a aberração de toda a nossa falta de bom senso, nosso descaso por educação. Vamos celebrar o horror de tudo isto com festa, velório e caixão. Venha!! Meu coração está com pressa. Quando a esperança está dispersa só a verdade me liberta. Chega de maldade e ilusão. Venha!!”



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua mensagem será publicada assim que for liberada. Grato.