terça-feira, 17 de setembro de 2013

RAÍZES DA CORRUPÇÃO

Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 18/09/2013 - A138

Um olhar minucioso ao tema corrupção nos faz perceber que suas raízes são muito mais profundas e capilarizadas do que o senso comum possa imaginar. Estamos tão entorpecidos de graves perversões morais que só enxergamos os casos folclóricos e midiáticos de corrupção. Na realidade, essa doença se transformou num sinônimo de política, como se fatos correspondentes ocorridos no cotidiano de pessoas comuns fossem deslizes inconsequentes. Dessa forma, a esperteza, tão glamourizada e “tão necessária” para a garantia do sucesso profissional acaba frequentemente ultrapassando as fronteiras do tolerável. E como nunca se pergunta ao vencedor se ele trapaceou no jogo, mais e mais pessoas vão deixando pelo caminho alguns princípios éticos que não encontram lugar na vida prática. E assim a epidemia da corrupção se alastra de forma virulenta. Claro, sabemos que tudo isso só nos enfraquece como nação e nos condena a um atraso crônico. Muitas empresas já se conscientizaram das consequências nefastas da corrupção e seus impactos danosos ao patrimônio de qualquer negócio. Daí, o crescente interesse pelos programas de compliance e de governança corporativa.  

Na quarta-feira passada a novela Amor à Vida ilustrou de forma didática como a corrupção está entranhada na vida do povo brasileiro e como ela corrói o bolso dos que pagam impostos. Numa reunião de prestação de contas da auditoria convidada para analisar contratos superfaturados, o personagem Félix foi identificado como responsável por vários casos de extorsão aos fornecedores da empresa do pai. Depois muita discussão e baixaria a personagem Vega interferiu na polêmica ao afirmar que a corrupção é algo comum nesse país; não só na política como também nas empresas, e que funcionários do setor de compras costumam “levar um por fora” para escolher esse ou aquele produto. O Félix complementou o assunto dizendo que os médicos também cobram o “por fora” dos pacientes e que assim ele só fez o que todo mundo faz. Daí sua revolta. Por que só ele deveria ser crucificado? Em outra cena, Félix reconheceu o erro, mas disse que não roubou; só superfaturou alguns contratos para aplicar o dinheiro desviado na constituição da própria empresa. Sua avó então perguntou qual era a diferença entre uma coisa e outra.

Várias e várias respeitadas empresas são fruto da “árdua dedicação” de pessoas “honradas” que no passado trabalharam no setor de compras dos seus antigos patrões. O tempo passou, os negócios prosperaram e a origem “daquele” capital inicial que antes incomodava, agora é visto como uma esperta manobra do vencedor, que hoje é um ferrenho defensor da ética empresarial. Os compradores das empresas são normalmente pessoas distintas dos demais e alvo da inveja de colegas porque prosperam muito rapidamente. Alguns têm o desplante de ostentar pompa e fausto sem a mínima preocupação com a opinião alheia. Mas, curiosamente, seus pares se derramam em elogios ao sucesso conquistado. Claro, quem não deve achar graça em nada disso é o patrão.

Como então fugir da corrupção se ela está em todo lugar? Parece até aqueles filmes de terror onde o vilão sempre surge com um machado em punho. Para piorar de vez e matar o fio de esperança que nasceu nas areias da desolação através do empenho do ministro Joaquim Barbosa, estamos contemplando o triunfo incandescente da impunidade a brilhar na mais alta corte do país como uma chama ofuscante a legitimar toda bandalheira presente em cada canto da vida do povo brasileiro. O ministro Celso de Melo sinalizou que seu voto eternizará o julgamento do mensalão, frustrando assim as expectativas da sociedade quanto à prisão dos envolvidos. Sabe Deus quantas manobras tenebrosas estão acontecendo nos bastidores para que ninguém seja punido. Dessa forma, quantos anos de frustração ainda teremos que viver sabendo que almas escondidas em togas luxuosas e discursos embusteiros são tão parecidas com outras que nos embrulham o estômago quando se mostram de forma crua? Aquelas pessoas asquerosas que aparecem no programa Cidade Alerta, do apresentador Marcelo Rezende; todas elas, juntas, não são tão nojentas quanto os que conspiram para confirmar que o Brasil é sim, a terra da bandidagem institucionalizada, onde poderosos fazem gato e sapato das instituições que deveriam proteger os sustentáculos da nação brasileira. Que Deus tenha piedade de todos nós.


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