terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O GAROTO DO PROSTÍBULO


















Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 11/02/2014 - A157

O país da copa vem há um bom tempo se desnudando frente ao mundo; mostrando suas mazelas, suas idiossincrasias, suas feiuras. Melhor dizendo, ele sempre esteve despido. A massa populacional mais adensada é que não enxergava ou então tinha sérias dificuldades de compreender o que estava diante dos olhos. Aquele garotinho criado no prostíbulo encara tudo a sua volta com naturalidade absoluta; ele passa o dia brincando aqui e ali ou se distrai com uma coisa ou outra etc. No horário agitado de expediente ele dorme no quartinho dos fundos. Dessa forma, a vida vai passando, passando... Somente depois de bem crescido é que as circunstâncias se apresentam ao menino com uma nova coloração, com um novo significado. É como se de repente a cortina caísse revelando o cenário degradante em que vivia. Na realidade, o ambiente é o mesmo; o que mudou foi o olhar, a percepção, o juízo da coisa.

Nós, brasileiros, estamos no meio da travessia onde parte da cortina já despencou. Ou seja, começamos a enxergar características asquerosas naquilo que antes tratávamos com naturalidade. E até o objeto de observação já está incomodado com o nosso olhar de censor. Como bem disse Cazuza na canção “O tempo não para”, transformaram o país inteiro no degenerado ambiente do garotinho supracitado, para assim se ganhar mais dinheiro. E por mais que os promotores da balbúrdia continuem tentando nos engabelar, seus velhos e eloquentes discursos agora soam como ridículos cacoetes. Portanto, cresce num ritmo acelerado o nojo e a repulsa do povo aos grandes ícones da nossa classe política. É interessante observar certas criaturas abomináveis desfiando toscas peças de oratória na televisão, ao mesmo tempo em que manifestam um pesado semblante demagógico. É como se o orador tivesse uma protuberante verruga cabeluda bem na ponta do nariz. Nossa incipiente maturidade política já nos permite olhar as coisas dessa forma. Resta-nos então rezar para que muitas outras pessoas saiam da escuridão.

O esforço do governo de todas as esferas é sempre insistir na tese da normalidade. Por esses dias, o presidente do TJ-AM afirmou por diversas vezes que não existe morosidade na tramitação de processos que possa beneficiar esse ou aquele acusado, mesmo diante da prescrição de um desses ditos processos por falta de julgamento. A população tem que entender que a justiça no Brasil é lenta. A população tem que entender (engolir) que a impunidade é um fato inexorável e que nada pode ser feito para mudar esse quadro. A população tem que entender que a corrupção está em toda parte e que todo mundo roubaria se tivesse no lugar do corrupto. A população tem que entender que o corrupto precisa ser deixado lá, quietinho, vivendo a vida dele. A população tem que entender que a explosão da violência é um fenômeno natural. A população tem que entender que o Estado é um péssimo administrador a torrar montanhas de dinheiro em obras superfaturadas. Esse pessoal que sai às ruas para protestar contra essa “normalidade” deveria ser preso. Afinal de contas, não há outra forma de governar que não seja pela corrupção e pela impunidade. Mesmo porque, os nossos políticos foram forjados no molde da corrupção; eles não conhecem outro caminho.

Pois é. Somos o garotinho crescido, já adulto, enojado com a casa onde fomos criados. O pior é que não temos pra onde ir; somos obrigados a conviver com tantas mazelas e feiuras à nossa volta. Isso é uma opção. Podemos também lutar para modificar esse ambiente degradado, mesmo que o grau avançado de degradação não aponte nenhuma esperança de que um dia possamos viver num país civilizado. Talvez a tarefa possa não ser tão árdua. Os nossos políticos linha dura já demonstraram uma frouxidão vexatória quando extremamente pressionados. Basta lembrar a radical mudança de tom do governador Geraldo Alckmin no momento em que a população foi pra cima com uma energia nunca imaginada. Podemos mudar. Podemos botar toda a corja pra correr. Também, podemos exigir o efetivo funcionamento das instituições que hoje só fazem de conta que trabalham. A Fiat bem que poderia trazer de volta aquele comercial maravilhoso de junho passado.


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