terça-feira, 30 de dezembro de 2014

BRASIL, terra da bandidagem institucionalizada

compartilhe esse post com seus amigos


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 30/12/2014 - A196

O pai traficante soube que o filho foi preso por furtar as economias do tio estelionatário. A mãe ficou desesperada com a notícia e por isso deixou sua clínica de aborto clandestino às pressas para se dirigir à casa de detenção. Chegando ao local da prisão o traficante descobriu que seu primo, dono de um desmanche de carros roubados também teve seu dinheiro subtraído pelo famigerado larápio. Mesmo diante de tanto nervosismo o sangue frio do pai foi suficiente para administrar a situação. Conversa daqui, conversa dali, muito papo ao pé do ouvido e, daqui a pouco o filhinho querido acabou sendo liberado sem maiores complicações. Tal desfecho só foi possível porque tanto o delegado quanto os demais policiais recebiam uma mesada semanal dos chefões da comunidade onde ocorreu o flagrante da prisão. Resolvida essa primeira parte do problema, a bronca agora era com os tio e primo do meliante. O pai, macaco velho, se valeu de todo seu estoque de astúcia para engabelar os otários, fazendo isso de tal forma que as tensões foram arrefecidas e os ânimos apaziguados: Argumentou que os jovens eram impulsivos, inconsequentes etc. Afinal de contas, quem já não cometeu a mesma tolice? Também, ali, todos tinham pecados bem maiores. E, de certa forma, estava tudo em família.

O ano de 2014 foi profundamente marcado pelo escândalo Petrobras – mais um dentre tantos que permanentemente vem manchando a já esculachada imagem do Brasil, o qual está pessimamente posicionado na escala internacional da corrupção. Trocando em miúdos, vivemos na terra da bandidagem institucionalizada. Só que dessa vez a coisa extrapolou todos os limites do razoável, revelando-se uma monstruosidade sem tamanho. Os números da roubalheira são simplesmente espantosos. Parece que os eventos criminosos resolveram se estabelecer na casa dos bilhões. Outro fato assustador revelado pela Polícia Federal tem a ver com a voracidade dos investigados que demonstraram uma ganância incomensurável. Dessa vez os corruptos não pouparam esforços para ir fundo, mas bem fundo na bandidagem. Como o alvo dos ataques é uma empresa que movimenta cifras astronômicas, naturalmente, o volume de atos criminosos foi além da estratosfera. E o mais impressionante desse enredo sujo é o fantástico arsenal de provas, documentos e depoimentos repleto de detalhes.

O caso Petrobras escancarou um problema mais amplo e muito mais profundo dos que os bilhões de reais vinculados à operação Lava-Jato. O delator do esquema e ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa, disse em audiência pública que “o que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos, nas hidrelétricas! É só pesquisar”. Ou seja, a roubalheira sistêmica é de uma magnitude inimaginável. A próxima onda tsunâmica a varrer o país, tudo indica, virá com a etiqueta BNDES. Só que dessa vez não mais se falará em bilhão e sim, em meio trilhão de reais. Atingiremos outro patamar na escala da corrupção. Isso, se as obras públicas não forem investigadas. Se o Juiz Sérgio Moro resolver mexer na podridão das obras públicas, aí, sim, seremos catapultados para a casa dos trilhões de reais roubados dos pesadíssimos impostos cobrados por um governo apinhado de bandidos. 

E o que faz o governo diante desse estado calamitoso? Age com a maior naturalidade do mundo. O que faz as criaturas do congresso? Vale-se do momento para tirar proveito da situação com ardilosas negociatas. No legislativo, todo acontecimento é sempre visto como oportunidade de fortalecer posições partidárias. Tudo é muito elástico, maleável, negociável, contornável. Tudo que importa é o poder. Questões éticas fazem parte do lúdico mundo dos discursos; não, da vida prática. O discurso é a interface entre o político e o povo. Lá, dentro, no íntimo, entre os políticos, o discurso é puro teatro. E lá, mais intimamente, na calada da noite, a conversa é outra, o esquema é outro – bem diferente dos clichês proferidos na televisão.

A expectativa do governo e da politicada em geral é que o assunto Petrobras, aos poucos, vá sendo contornado, vá sendo contemporizado, vá sendo esquecido e se acomodando para daqui a pouco tudo voltar “ao normal”. Afinal de contas, tá tudo em família. Os políticos barulhentos vão sendo acalmados com propinas. O Judiciário, esse é comandado por controle remoto; só faz o que o Executivo manda. Até mesmo, porque o encrenqueiro Joaquim Barbosa não está mais lá para atrapalhar os esquemas. Então, é só deixar que o tempo cuide do resto. Quanto ao povo, o povo está totalmente alienado – acha que corrupção é coisa natural da política. Só tem um problema. E sério. O sistema judicial americano não tolera corrupção nem bandidagem empresarial que cause prejuízos aos investidores. Os fundos ianques que aplicaram dinheiro em ações da Petrobras querem ser ressarcidos por prejuízos decorrentes dos escândalos que derrubaram a cotação na bolsa de valores. Isso pode ter um perigoso efeito dominó e piorar ainda mais a tensão com a firma de auditoria PricewaterhouseCoopers, que se recusa a aprovar o balanço da companhia.

Pois é. Lá fora é lá fora. Não tem como subornar os juízes nem as leis americanas. Que pena. Aqui, é tão fácil comprar tudo e a todos..!! 



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

INCURÁVEL VÍCIO DO JEITINHO

compartilhe esse post com seus amigos


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 23/12/2014 - A195

O Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) promoveu no último dia 11 um evento transmitido para todo o Brasil por videoconferência. O assunto tratado em cansativas explanações foi acompanhado por vários convidados no Conselho Regional de Contabilidade aqui de Manaus. Os mais ilustres e expoentes técnicos da Receita Federal se desdobraram na enfadonha tarefa de destrinchamento das disposições contidas na Instrução Normativa 1.515/2014, que disciplinam as alterações tributárias trazidas pela Lei 12.973/2014. E, claro, como era de se esperar, o que houve foi uma sequência de palavras e expressões pronunciadas com hesitação, gaguejos e falta de clareza. Isso, fora alguns momentos em que os melhores cérebros da RFB simplesmente não tinham resposta para questionamentos recebidos de contribuintes desorientados. Pode-se afirmar que o balanço geral de tanto esforço do Fisco só revelou o tamanho do abismo ainda existente entre a contabilidade societária e a contabilidade fiscal, sendo que a função dessa última é invalidar o propósito da primeira.

A discussão é antiga. Desde que a Lei 11.638/2007 promoveu acentuadas modificações na Lei 6.404/1976, o que temos vivenciado nos últimos anos é uma violenta instabilidade no sistema regulatório fisco/contábil. Ocorre que uma profusão de conceitos e interpretações explodiu nesse período, deixando toda uma classe de profissionais mais perdida do que cego em tiroteio. Isso ficou claro em dois painéis competentemente conduzidos por duas grandes auditorias internacionais no SESI da Bola da Suframa (10/06/2013 KPMG; 07/11/2013 EY), quando as regras ainda estavam sob os efeitos da MP 627/2013. Os palestrantes dessas auditorias demonstraram, à época, uma infinidade de furos e inconsistências no dispositivo legal em questão. Problemas, esses, que pelo visto, continuam até o momento.

Tantos infortúnios e solavancos podem nos fazer crer na impossibilidade de harmonização dos elementos imposto de renda versus contabilidade. Obviamente que isso é uma praga sem tamanho a comprometer seriamente qualquer esforço de fazer valer a técnica e os registros contábeis, uma vez que o elemento fiscal contamina o ambiente contábil por inteiro, da mesma forma que um enxame de moscas inferniza a vida do confeiteiro. O fantasma tributário é um encosto grudado no cangote do contador que fica o tempo todo lembrando que isso ou aquilo é ou não dedutível do imposto de renda. Por isso é que algumas correntes de pensamento apregoam a ideia de separação total das contabilidades societária e fiscal, deixando uma, bem distante da outra. Quem mais sai prejudicada nessa história toda é a qualidade da informação, tão necessária, principalmente nos momentos de turbulência ou de redefinição de objetivos empresariais. Prejudicados também são os profissionais idealistas e engajados que se esforçam na tentativa de construir uma contabilidade depurada e refratária.

Identificar o lucro de uma empresa com precisão milimétrica é uma tarefa praticamente impossível, uma vez que milhares de voláteis e frenéticas variáveis não param nem por um minuto de interferir na estrutura do patrimônio. Daí, a razão de tanta efervescência em torno das discussões provocadas pela adesão ao padrão IFRS. Ou seja, só há poucos anos a contabilidade passou de fato a existir no Brasil. Antes, ela era apenas uma rarefeita peça de ficção.

A pergunta que fica no ar é a seguinte: Essa confusão toda existe só no Brasil? Talvez a resposta esteja na nossa genética latina. O fisco americano, como o fisco alemão, aceita algumas provisões que aqui são absolutamente rechaçadas pela RFB, por se tratar de questões carregadas de subjetivismo e por isso mesmo, dependente da honestidade do contribuinte. O brasileiro, assim como italianos e espanhóis, tem incutido na sua cultura o hábito de sempre tirar vantagem em tudo que faz. Ou seja, se algum espaço for aberto para deduções com alto grau de subjetividade, as nossas empresas seriam inundadas de prejuízos artificiosos, comprometendo com isso o sistema de arrecadação tributária. Na realidade, o contador americano não ousa manipular descaradamente os registros contábeis porque simplesmente sabe que se o fizer irá direto para a cadeia, o que não ocorre por aqui. Uma palestrante muito famosa da nossa região afirmou que a corrupção precisa ser evitada porque depois de roubado o dinheiro não mais é recuperado. Em outras palavras, ela disse que roubo e sonegação não dá cadeia no Brasil. Eis a chave da questão.



terça-feira, 16 de dezembro de 2014

DESCOMPASSO DO SPED (pessoas X tecnologia)

compartilhe esse post com seus amigos


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 16/12/2014 - A194

Não há dúvida de que a tecnologia é uma força que se torna cada vez mais presente nas nossas vidas, sendo que seu rápido desenvolvimento é visto pelo cientista britânico Stephen Hawking como uma ameaça à própria humanidade. Ou seja, a inteligência artificial poderia chegar num ponto em que daí pra frente ela iria progredir por si mesma. O ciberativista Julian Assange lançará em fevereiro próximo o livro Quando o Google Encontra o WikiLeaks, onde retrata o poderio do gigante das buscas na internet e sua estreita relação com a bisbilhoteira agência americana NSA, denunciada por Edward Snowden. Segundo Assange a vigilância em massa funciona da mesma forma que a religião. Isto é, uma entidade que tudo vê, é invisível, influencia sua vida e não pode ser enganada. Traduzindo tudo isso: o Google, com seus mecanismos facilitadores das nossas atividades diárias é tudo o que as religiões ambicionaram ser e não conseguiram devido a inúmeros filtros e interesses distintos presentes na sua periferia de atuação. Portanto, nem o Vaticano em nenhum momento da sua história conseguiu exercer um controle tão direto sobre a vida das pessoas.

Por esses dias, o diretor de uma empresa paraense ficou desapontado com o resultado de uma fiscalização da fazenda estadual que analisou seus arquivos SPED do ano de 2012 e não detectou erro algum, validando assim a auditoria sem nenhum tipo de penalidade. Esse diretor sabe que havia inconsistências nesse período porque foi justamente nessa época que a troca de sistema ERP resultou em muitos problemas na emissão de notas fiscais. Há muitos anos a empresa decidiu seguir rigorosamente as normas fiscais com investimentos pesados em tecnologia, processos e gestão do negócio, com vistas a garantir sustentabilidade das operações e drástica redução de riscos fiscais. A expectativa era que o poder de fogo do SPED viria a ser um diferencial determinante no fator competitividade entre seus concorrentes. Em outras palavras, seus competidores estariam predestinados a sucumbir no abismo da sonegação detectada pelo SPED. Até o momento, parece, não é isso que está acontecendo. Esse dito diretor soube que sonegadores contumazes e sem nenhuma estrutura de controle interno não foram penalizados nas fiscalizações da secretaria de fazenda estadual de que foram alvo recentemente. Tantos desapontamentos suscitaram a dúvida: O SPED é a reedição do Sintegra?

Sabemos todos nós que o Sintegra foi a grande piada sem graça que ninguém nunca levou a sério. Acredita-se que os arquivos Sintegra solicitados pela fiscalização não eram analisados adequadamente porque os auditores fiscais não tinham absolutamente nenhuma intimidade com a tecnologia. Mesmo assim, não há dúvida da importância desse sistema eletrônico de controle fiscal, uma vez que ele pavimentou o caminho que levou ao Projeto SPED. O temor do diretor paraense é que os efeitos práticos do SPED não aconteçam, invalidando assim todo o investimento que fez para cumprir a legislação tributária. Será que a decisão de cumprir a lei foi uma grande burrice, visto que seus concorrentes continuam ganhando muito dinheiro com velhas práticas de sonegação fiscal?

O grande tributarista e professor do IPOG, sr. Edgar Madruga, afirmou tempos atrás que as dificuldades de avanço do projeto SPED estão relacionadas ao fator humano e não a tecnologia. A tecnologia embarcada no Projeto SPED é de uma envergadura monumental. O problema é que seu domínio está restrito a um pequeno grupo de pessoas, quase todas pertencentes ao quadro da Receita Federal. Na realidade, é a RFB que está à frente desse empreendimento. Enquanto isso, os entes tributantes da esfera estadual se esforçam para acompanhar o ritmo ditado pelo órgão centralizador federal. Os funcionários das secretarias de fazenda estaduais ainda se debatem na dificuldade de digerir tantos avanços ocorridos em tão pouco tempo. As novas tecnologias de fiscalização simplesmente não conseguem entrar na cabeça endurecida de alguns fiscais carrancudos. Muitas vezes, a estrutura inteira do órgão fiscalizador não sabe administrar situações de alta complexidade, como por exemplo, validação da tributação de ICMS das milhões de operações processadas nos gigantescos sistemas das empresas de telefonia. Ou então, a análise aprofundada e precisa de alguns modelos de planejamento tributário engenhosamente construídos por profissionais altamente gabaritados. Ou ainda (o calcanhar de Aquiles), a transformação da massa de dados do repositório SPED em informações relevantes e direcionadas segundo um escopo definido pelo departamento de inteligência fiscal e investigativa (que não existe efetivamente).

Com tantos avanços tecnológicos presentes no mundo, as nossas secretarias de fazenda estaduais ainda patinam sobre dificuldades primárias de gerenciamento do seu corpo técnico desalinhado de uma diretiva ainda por construir. Essa diretriz deveria ser emanada justamente do núcleo de inteligência fiscal, organismo encarregado de garantir a aplicação da legislação fiscal através do uso inteligente dos recursos tecnológicos disponíveis, mas ainda pouco utilizados.




quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

QUEM PAGA A CONTA DA CORRUPÇÃO?

compartilhe esse post com seus amigos

Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 11/12/2014 - A193

“O que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos, nas hidrelétricas! É só pesquisar”. Essa declaração do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, prestada na sessão da CPI Mista da Petrobras no último dia 2, evidencia aquilo que todo mundo está careca de saber. Mesmo assim, o choque de realidade dilacera nosso espírito, jogando por terra qualquer ínfimo traço de esperança de que o Brasil ainda pode ter jeito. Por mais que sejamos plenamente convictos da existência do diabo ninguém é capaz de imaginar o pavor de estar frente a frente com o chifrudo. Pois é. Todo o frenesi provocado pela Operação Lava Jato nos colocou de cara com aquilo que sabíamos, mas que temíamos de fato existir. Ou seja, uma monumental e ultra hiper capilarizada estrutura de corrupção presente em TODA administração pública. É como se o Brasil inteiro fosse um grande reduto de criminosos afeitos à pratica do peculato (cerca de 11 milhões de indivíduos). E para tornar o quadro ainda mais sombrio, o diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, sr. Claudio Abramo, afirmou à Revista Exame que a corrupção brasileira só teria algum tipo de solução se todos os funcionários públicos fossem substituídos, demonstrando assim o estado crônico e irreversível da corrupção no país.

Segundo o sr. Abramo os partidos querem cargos para roubar. Suas palavras nos levam a deduzir que toda a estrutura da administração pública foi construída sob medida para facilitar e fomentar a roubalheira, ainda mais quando tudo é acobertado por um sistema legal prontinho para facilitar a vida dos ladrões. Daí, a impossibilidade de estancar a sangria dos cofres públicos. A tal sessão da CPI mista da semana passada se mostrou um grotesco teatro de dissimulações, visto que todos os presentes são ativos protagonistas de esquemas ilegais. Dessa forma, o ex-diretor Paulo Roberto Costa, assim como o juiz federal Sérgio Moro e também o ministro Joaquim Barbosa podem ser considerados produtos de uma anomalia do sistema corrupto, uma vez que perverteram totalmente a ordem estabelecida e cristalizada na deteriorada cultura do povo brasileiro que encara a corrupção com a maior naturalidade do mundo. O padrão, o padrão vigente é representado pela postura do outro ex-diretor presente na mesma CPI mista, sr. Nestor Cerveró, que simplesmente afirmou desconhecer qualquer tipo de irregularidade na Petrobras. Esse argumento do sr. Cerveró é o que será acatado pelo Supremo Tribunal Federal, anulando assim todo o trabalho do juiz federal Sergio Moro. Essa é a função STF: Inocentar bandidos do círculo íntimo do poder. Afinal de contas, todos os ministros devem lealdade a quem os nomeou. Ou seja, mais uma artimanha do sistema corrupto que ninguém quer mexer porque funciona muito bem. Os figurões do mensalão já estão em casa graças aos malfadados embargos infringentes. É uma festa...

O que mais assusta nessa história toda é que o gigantesco volume de provas e depoimentos em nada abalou o governo, como também não foi suficiente para refrear os infinitos outros esquemas de corrupção que estão em andamento nesse exato momento. Também, provavelmente, tudo que foi levantado não será suficiente para condenar qualquer um dos investigados, visto que nosso sistema judicial está prontinho e disponível para liberar geral, mesmo que milhões e bilhões de reais sejam encontrados em contas criminosas no exterior. Nada, absolutamente nada será capaz de resultar em punição porque todo mundo tá no esquema: de cima a baixo; de ponta a ponta: federal, estadual, municipal; legislativo, executivo, judiciário. Tá tudo dominado. É a máfia Brasil em seu pleno vigor.

Outro fato assustador revelado nos últimos dias tem a ver com as cifras estratosféricas. Aquela prosaica história do Fiat Elba do ex-presidente Collor deu lugar a números bilionários. Só o doleiro Alberto Youssef movimentou dezenas de bilhões de reais. Agora, multiplique isso pelos milhares de outros Youssefs que estão nesse exato momento operando outros ainda desconhecidos e multibilionários esquemas de corrupção. É muito, muito dinheiro.

E adivinha quem paga a conta da corrupção? Claro, os impostos. É do nosso suor que sai o dinheiro que abarrota o bolso dos corruptos de todos os naipes e facções. Por isso é que pagamos impostos nórdicos sem que nenhum retorno seja percebido. Taí o motivo de tantas mortes nos corredores dos hospitais por falta de atendimento médico. Taí a falta de estradas, de escolas, de qualidade dos serviços públicos em geral. Taí a raiz da esculhambação que se transformou a administração pública brasileira. Taí o motivo de tanto imposto arrecadado nunca ser suficiente, fazendo com que todo dia sejamos notificados das intenções governamentais de aumento da carga tributária. Afinal de contas, a fome do corrupto é insaciável. Recentemente, o governo do Paraná anunciou um brutal aumento de ICMS para milhares de produtos. E como é de praxe, basta um fazer para os outros seguirem o mesmo caminho. A pergunta que fica no ar é a seguinte: Quem está disposto a continuar financiando passivamente os bilionários esquemas de corrupção com tantos e pesadíssimos impostos? Quem?


#corrupção

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

CONTRATAR OU NÃO UMA AUDITORIA

compartilhe esse post com seus amigos

Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 02/12/2014 - A192

Alguns empresários acreditam que somente companhias de capital aberto devem contratar serviços de auditoria. Na realidade, a auditoria contábil, por exemplo, é parte integrante e necessária da estrutura de controle de qualquer empresa, seja ela grande ou pequena, uma vez que seu papel principal é averiguar o cumprimento da correta aplicação de normas técnicas e legais. O trabalho do auditor visa não somente garantir a redução de riscos relacionados a autuações fiscais, mas principalmente assegurar um padrão razoável de controle dos processos internos de qualquer tipo de organização. Com isso é possível reduzir drasticamente as perdas decorrentes de ineficiência operacional ou de fraudes internas, muito comuns num país contaminado até o último fio de cabelo pela corrupção. Portanto, quem não dispõe de mecanismos minimamente estruturados de controle interno fica exposto a todo tipo de intempérie.

Ao contrário do que ocorre em diversos países, a auditoria é um elemento exótico na cultura empresarial brasileira. De acordo com estudos da consultoria Crowe Horwath RCS/10, o Brasil é uma das nações com a menor taxa de auditores por habitante, o que poderia justificar o motivo de tantas fraudes e de tanta corrupção no nosso país. Enquanto aqui a taxa é de um auditor para cada 24.600 habitantes, na Holanda é um para cada 900 habitantes. Na Inglaterra a taxa é de 1 para 1.300; Canadá, 1 para 1.500. Ou seja, existe aqui uma demanda reprimida para o mercado de auditoria, como também para o próprio mercado contábil de alto nível, visto que só há poucos anos as empresas começaram a despertar para a real importância de controles contábeis eficientes. Por sorte, muita gente está descobrindo que o custo dos serviços de auditorias especializadas é menor que o preço cobrado pelas fraudes e pelos riscos fiscais.

Firmas de auditoria renomadas e com grande expertise acumulada podem auxiliar as empresas em outros assuntos, como por exemplo, reestruturação societária, sucessão familiar, redesenho de diversos tipos de processos organizacionais, recuperação de créditos tributários, assessoramento na implantação de projetos de grande porte, reformulação de controles de inventários para redução de perdas e, principalmente, estruturação de um sistema de controladoria capaz de dar subsídios consistentes à tomada de decisões gerenciais. Outra área sensível que pode ser alvo de melhorias é a de gestão de pessoas, com vistas à redução de riscos trabalhistas. Uma boa firma de auditoria é capaz de resolver um dos mais tormentosos problemas presentes hoje nas empresas: aquele ERP desajustado que inferniza a vida de todo mundo, consome rios de dinheiro e que ainda por cima fragiliza os controles em vez de reforçá-los. 

Mesmo após maciços investimentos em recursos técnicos e humanos, é muito comum o diretor de uma empresa de porte expressivo sentir que sua estrutura de apoio não é suficiente para lhe garantir boas doses de sono tranquilo. Esse apoio complementar pode ser fornecido por uma boa assessoria externa que seja capaz de compensar as defasagens tecnológicas e com isso tornar a estrutura de controle mais forte e as pessoas mais capacitadas para as atividades operacionais. Pesa também a questão do confinamento de modelos administrativos fechados e obsoletos, descompassados com a evolução de práticas modernas e mais eficientes. Quem se isola do mundo envelhece mais rápido, tornando-se vulnerável às ameaças externas. Dessa forma, os serviços especializados de uma auditoria funcionam como um sopro a oxigenar e renovar as estruturas, impedindo assim que elas enferrujem.

As necessidades surgem e com elas as dúvidas: Que tipo de serviço contratar? Quem de fato pode fazer a diferença e efetivamente atender as expectativas de melhorias dos processos operacionais? Quais serviços de auditoria e/ou consultoria possuem uma imagem suficientemente forte no mercado que justifique a contratação de olhos fechados?

Por ser uma atividade muito sensível e fortemente alicerçada na tradição por bons serviços prestados, as firmas de auditoria mais expressivas cobram valores astronômicos, principalmente as famosas “big four”. Acontece que existem alternativas viáveis e adequadas ao objeto da investigação. Também, há diversas situações que merecem uma visão de fora para dentro.


Curta doutorimposto no facebook