sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

CLUBE DE LADRÕES


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 3 / 1 / 2016 - A280

O início de 2017 está sendo marcado pela posse dos novos administradores municipais. Prefeitos estão recebendo estruturas quebradas e finanças arruinadas dos seus antecessores. Isso está acontecendo de norte a sul do país, com poucos exemplos de sucessões honrosas e tranquilas. Alegações bradadas aos quatro ventos são de que todas as mazelas se devem à crise econômica e consequente queda na arrecadação de tributos. Mas não é bem assim. Mês passado o Ministério da Transparência (CGU) divulgou o resultado do terceiro Ciclo do Programa de Fiscalização em Entes Federativos. Durante os meses de julho e agosto, cerca de 400 auditores verificaram a regularidade da aplicação dos recursos federais destinados a 67 prefeituras municipais. No total, foram analisados R$ 1,5 bilhão transferidos pela União, em 2014 e 2015, para execução de políticas públicas. No desenvolvimento desse trabalho, houve fiscalização do programa de combate ao mosquito Aedes aegypti, programas de merenda e de transporte escolar, além de verificações pontuais de outros assuntos relevantes.

Quanto ao Programa de Merenda Escolar, foi identificado um grande volume de falhas, como por exemplo, armazenamento inadequado dos alimentos (48%); no Transporte Escolar, utilização inadequada dos veículos (47%) e dano ao Erário (45%). Na Saúde, 21% dos municípios não aplicaram tempestivamente os recursos destinados ao combate à dengue, zika e chikungunya.

De acordo como o relatório da CGU, grande parte dos problemas está diretamente relacionada à falta de controles internos de gestão, desinformação e despreparo do gestor público. As falhas são diversificadas, mas a principal delas está relacionada a desvios de dinheiro. Oficialmente, a incompetência gera uma série de rebuliços na operacionalização dos programas assistenciais. No entanto, uma análise mais aprofundada revela interesses espúrios de grande escala entranhados em cada ação do gestor público. Isso acontece na forma de aquisição de produtos de péssima qualidade, favorecimento a fornecedores, superfaturamento, licitações fraudulentas etc., etc. A lista de irregularidades é extensa. É como se uma caixa d’água tivesse muitos vazamentos. Antigamente, era um vazamento aqui e outro ali, mas agora a coisa mais se parece um chuveiro. É muita gente roubando. E roubando muito!!! Os números assombrosos da corrupção divulgados pela Operação Lava-Jato revelaram uma voracidade desmedida dos corruptos de agora. Ninguém mais quer saber de Fiat Elba ou de Land Rover. Tudo agora começa pela casa dos milhões. A meta está acima da estratosfera. Parece até que existe uma competição entre a politicada pra ver quem rouba mais. Não é de se duvidar da existência de um Clube de Ladrões, onde a roubalheira é tratada como matéria científica e as ações nefastas são meticulosamente esquadrinhadas para enganar autoridades ou então livrar aqueles que por ventura sejam alvos da Polícia Federal.

O fato é que os sedentos novos gestores que chegaram foram impactados pela decepção de encontrar cofres vazios e população enfurecida. Mas o pior de tudo é a pressão popular e a perseguição da mídia por uma gestão menos nefasta.

A corrupção dilapidou tudo. E isso está fazendo com que os olhos dos cidadãos se voltem para o funcionamento da máquina pública. É possível que os exércitos de indivíduos prejudicados por salários atrasados, como também a massa de doentes nas filas de hospitais quebrados; todas essas pessoas acabem, por fim, descobrindo que a solução de tantos males depende única e exclusivamente da vigilância das contas públicas. Quem sabe, uma seríssima crise force o amadurecimento do cidadão negligente com monitoramento dos atos dos seus representantes políticos.

Quem chegou com fome de roubar vai ter que esperar um pouco. Pelo menos, por enquanto, será preciso conferir seriedade ao trabalho de reconstrução financeira e administrativa das prefeituras. O fato é que estamos diante de duas grandes forças que nesse momento se atritam, expelindo faíscas pra todo lado, tal qual seja, a velha política contra o embrionário senso de accountability. O fato é que, mesmo considerando o massivo contingente de tolos desinformados, temos uma crescente onda de revoltados que se avoluma e se posiciona firmemente contra o sistema corrupto. É bom lembrar que os ideais revolucionários nascem de grupos pequenos que conseguem catalisar os anseios da maioria. 




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