terça-feira, 14 de março de 2017

PERDIDOS NO LABIRINTO TRIBUTÁRIO


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 14 / 3 / 2017 - A285

Por esses dias houve ampla divulgação na mídia de que estamos passando pela maior recessão da nossa história. Como solução para tal nível de calamidade econômica o governo propõe aumento de impostos. A montanha de dinheiro roubado pelos corruptos reduziu um pouco as práticas recorrentes de desperdícios com obras inacabadas ou com orçamentos que explodem aos borbotões. O dinheiro desviado para o exterior também está fazendo falta para sustentar a pompa dos infinitos privilégios e das ostentações da realeza governamental, onde presidentes disso ou daquilo moram em palácios cuja reforma dum simples banheiro custa um milhão de reais. Isso, sem falar nos salários astronômicos. Na folha de pagamento da administração federal há porteiros que ganham dez vezes mais que um professor. Na estatal de saneamento (DF) o salário duma advogada é de 95 mil reais. Desembargadores ganham centenas de milhares de reais por mês etc., etc. O histórico é longo e escabroso. Nos últimos tempos vem ocorrendo uma feroz agitação de ilustres figuras públicas por aumentos de salários e de privilégios. Conclui-se assim que não existe crise no setor público. Ou seja, quanto mais pressionado é o trabalhador de salário mínimo ou quanto mais intensa é a perda de patrimônio do empresário, maior é o luxo e a ostentação do funcionalismo público. Vide bacalhoada do TCE.

Temos duas classes de pessoas no Brasil. Uma delas trabalha na lavoura de sol a sol ou passa o dia nas atividades de construção civil ou fica numa luta permanente para não ter que demitir mais um funcionário. O outro grupo tem o seu belo salário garantido, não importando o grau de crise econômica – esse tipo de gente vive do suor daqueles que geram a riqueza nos setores primário, secundário e terciário. Na realidade, o poder público é o grande sumidouro de dinheiro. Não bastasse o parasitismo, a ineficiência, a empáfia, o desperdício, ainda tem a praga da corrupção entranhada em cada fresta do sistema público. E toda essa monstruosidade é intocável. O governo deixa muito claro a intenção de não mexer em nada (nem na corrupção). A prova disso está no projeto “Dez Medidas Contra a Corrupção”, que foi jogado no lixo pelo partido que está no comando do país. O pior de tudo é que os políticos rasgaram esse projeto de iniciativa popular no maior descaramento, sinalizando a manutenção do atual sistema cleptocrático.

O governo não quer mexer em nadica de nada; nem na ineficiência, nem no desperdício, nem nas mordomias, nem nas pompas, nem na corrupção. Afinal de contas, o povo está aí para ser espremido até a última gota de sangue. Toda essa onda de reforma tributária que invadiu o noticiário nada mais é do que artimanhas para aumentar o peso da carga tributária. Administrações fazendárias de todo o país estão numa sôfrega comichão por majorações de impostos. Técnicos e legisladores estão debruçados dia e noite em projetos que visam trazer mais dinheiro para o erário. O lado perverso desse movimento exacionista está no alvo preferencial do Fisco, que são os pequenos e os mais pobres. No ano de 2016 a Receita Federal totalizou R$ 121 bilhões em autos de infração, sendo que somente 1,35% dessas autuações foram efetivamente pagas. As infinidades de recursos judiciais utilizados pelos devedores arrastam os processos por cerca de dez anos (em média). Por isso, os grandes conglomerados econômicos não pagam somas astronômicas ao governo porque o intrincado sistema jurídico fiscal permite que a coisa funcione dessa forma. Para compensar a falta de recursos o governo ataca os pequenos empresários e o consumidor de produtos e serviços, aproveitando-se da sistemática dos tais “tributos por dentro” que chega a ter carga de 400% em alguns produtos ditos supérfluos.

Atacar o consumo é atacar o mais pobre, que morre sem saber de onde veio o tiro. Dias atrás, o incensado economista Bernard Appy afirmou que é impossível saber quanto se paga de imposto sobre qualquer bem ou serviço quando se considera toda a cadeia produtiva.  







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