quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O SETOR PÚBLICO É UM GRANDE LIXÃO



Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio  dia  7 / 2 / 2018 - A 324

No final da década de 60 um grupo de psicólogos americanos desenvolveu uma instigante experiência. Eles deixaram um automóvel abandonado num bairro pobre e outro veículo semelhante num bairro rico. Como esperado, o carro da periferia foi depredado enquanto seu similar permaneceu intacto. Mas os estudiosos continuaram o trabalho de investigação para comprovar uma suspeita conceitual. Dessa vez, quebraram a janela do carro abandonado noutro bairro rico. Foi então que os acontecimentos se deram de modo semelhante ao ocorrido no bairro pobre. Ou seja, o veículo foi totalmente depenado. Os professores americanos James Wilson e George Kelling explicam que, se a vidraça quebrada dum prédio não for consertada de imediato, a tendência é que vândalos sigam quebrando as outras janelas para ocupar ou destruir a edificação. Os pesquisadores concluíram que o comportamento degradante é fruto de relações sociais doentias. Em outras palavras, desordem gera desordem. E também: comportamentos antissociais não reprimidos dão origem a delitos mais graves.

Numa empresa privada, por maior que seja, há sempre um clima de ordem hierárquica; as pessoas sabem que alguém está de olho nos custos, nos processos e na sustentabilidade do negócio. Ou seja, o ambiente de trabalho não é um cabaré bagunçado ou uma terra de ninguém, onde todo mundo pode fazer o que bem quiser ou então roubar à vontade. Claro, obvio, fraudes são cometidas por empregados, mas isso não é fato sistemático nem epidêmico. Já, as ações do funcionalismo fogem desse paradigma.

No universo público, as leis da física quântica se manifestam de modo contrário ao do setor privado. Por exemplo, o preço dos planos de saúde concedidos aos funcionários públicos é quatro vezes mais caro do que o suportado pelas empresas que amparam seus empregados. As remunerações e aposentadorias do setor público são infinitamente maiores do que as praticadas no setor privado. As diferenças são gritantes também na jornada de trabalho, nas licenças para afastamento, nos carros oficiais com motorista para autoridades divinizadas e outras coisas mais. Muito raramente, um diretor industrial que ganha 30 mil de salário, tem a sua remuneração amplificada por força duma lista de penduricalhos que multiplica esse valor por 10 ou 20 vezes, como é muito comum no setor público, principalmente, no poder judiciário. No setor privado, o empregado não chega de manhã, bate o ponto e depois volta para seus assuntos particulares, como acontece com médicos contratados pelas prefeituras. As empresas não iniciam a construção monstruosa dum prédio e depois abandonam a obra até ela se deteriorar completamente. A diretoria dum grupo econômico não torra bilhões de reais num projeto recreativo e também não fica engolindo roubalheira de empregado sem fazer nada. A polêmica futura ministra do trabalho jamais seria nomeada para comandar um conglomerado empresarial porque é patente o despreparo.

O setor público brasileiro é um grande lixão.

Vamos imaginar que houve um tempo em que a honestidade e a limpeza eram preponderantes no poder público. Vamos supor que lá, pelas tantas, alguém quebrou os vidros da janela ou espalhou sujeira pelo chão. Os colegas presenciaram a atitude desordeira, mas ficaram quietos. Por conseguinte, aqueles que tinham um caráter pervertido se acharam no direito de também fazer o mesmo ou fazer pior. Daí, pra frente, a balbúrdia foi se expandindo numa escala geométrica até que todo mundo entrou no esquema predatório. O setor público é um terreno baldio, sem dono, onde qualquer um pode despejar entulhos ou imundícies variadas. No setor público, todo mundo pode roubar porque o dinheiro não tem dono. Na realidade, formalmente, há inúmeros mecanismos que supostamente conferem organização e probidade à gestão da coisa pública, mas tudo não passa de pantomima. Isto é, os organismos de controle acabam por fim se aliando com seus controlados em prol da manutenção de privilégios e da corrupção. Na prática, é cada um por si e Deus por todos.

Haveria ordem no setor público se o dono do cabaré (a sociedade) tomasse as rédeas do negócio. O que ocorre, é que esse mandante se comporta como o filho negligente que assume o comando dum negócio de bilhões de dólares por causa da súbita morte do pai. A sociedade brasileira é um corpo sem cabeça pilotado por mentes doentias instaladas no setor público.














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