segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

DISRUPTURA CONTÁBIL



Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio  dia  21 / 01 / 2020 - A386

Não faz muito tempo, uma contadora me confessou sua preocupação com a dita cuja contabilidade digital, a qual possui ferramentas capazes de automatizar as tarefas do contador e por tal motivo poderia arrebatar os clientes das firmas tradicionais de serviços contábeis. O estabelecimento dessa contadora insiste no modelo de trabalho que concentra tudo no escritório. Eu então disse para a minha colega que já estamos vivendo uma era disruptiva da nossa profissão, uma vez que a tecnologia da informação avança sobre as atividades mais diversas com o propósito de automatizar aquilo que envolve lógica matemática, que é repetitivo, que é volumoso e que pode ser classificado como elemento integrante de qualquer tipo de sistema ou processo. Desse modo, sobra para a criatura humana as prerrogativas vinculadas à criatividade, à análise ou funções de cunho estratégico.

Lamentavelmente, para o pessoal das antigas, aquele contador escriturário morreu. Muitos deles ainda estão por aí, vagando pelas repartições públicas como zumbis desorientados em meio ao furacão de obrigações eletrônicas altamente complexas e indecifráveis. Daí, a razão de vários rebuliços societários ou fechamento de portas dos escritórios tradicionais. Isso acontece quando funcionários egressos desses estabelecimentos, geralmente jovens e antenados, abrem um escritório moderno e trazem consigo os clientes insatisfeitos com o serviço anterior.

A onda do momento é o “escritório sem papel”, que não tem a ver somente com digitalização de documentos – o conceito vai muito além disso. Ferramentas como Nibo, Conta Azul ou Omie conferem um altíssimo nível de eficiência aos processos empresariais com um custo infinitamente menor do que os paquidérmicos ERP. Detalhe importante: As soluções são adequadas ao porte do cliente. Ou seja, o pequeno utiliza um software intuitivo capaz de abastecer sua escrituração fisco/contábil sem necessidade de custos exorbitantes. O médio pode suportar um conjunto maior de ferramentas e até empresas maiores ficam dispensadas dos famosos ERP. A função do contador que inicia um trabalho no novo cliente é identificar as necessidades operacionais e verificar se o software existente está habilitado para atender as demandas apresentadas. Na sequência, é feita a incorporação das ferramentas supramencionadas. Os funcionários do escritório sem papel atuam como provedores de soluções administrativas, contábeis, trabalhistas, societárias, tributárias etc. Suas incumbências estão voltadas para a manutenção e funcionamento das soluções instaladas, uma vez que tudo funciona na nuvem, fazendo com que a empresa esteja inteiramente dentro da firma de contabilidade. O escritório se encarrega de cumprir os acordos firmados no contrato pactuado com o cliente. Nesse ambiente, todos os atores precisam de raciocínio dinâmico e estratégico.

Além da função operacional referente a cumprimento de obrigações principais e acessórias, o contador moderno atua fortemente como planejador tributário e consultor organizacional. Por exemplo, o contador Marcelo iniciou seu trabalho numa grande empresa cujo ERP estava totalmente desconfigurado, apesar dos gastos astronômicos com TI. Ele então conseguiu alinhar todos os processos dentro do TOTVS, alavancando assim a dinâmica operacional da empresa. Além disso, já conseguiu soluções para muitos problemas tributários, dentre os quais, fazer o Perd/Comp de R$ 20 milhões onde já conseguiu homologar R$ 12 milhões. Fora isso, o Marcelo afastou consultorias caríssimas que não geravam resultados esperados, substituindo por pessoas competentes.

O contador Wesley atua como um planejador tributário de alto nível que fornece aos clientes diversos procedimentos normativos capazes de gerar benefícios financeiros substanciais. E tudo com embasamento jurídico ou anuência dos órgãos fazendários. Na realidade, os contadores mais arrojados estão trabalhando com parcerias jurídicas e software houses para oferecer soluções diferenciadas, em face dum ambiente legal cheio de instabilidades geradas pelo poder público.

Pois é. As pequenas empresas não estão fora desse universo disruptivo, significando assim que seus contadores precisam se adaptar rapidamente antes da onda transformadora varrer o modelo anacrônico que já teve a sua importância. Curta e siga @doutorimposto




































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