quinta-feira, 25 de junho de 2009

POSTURA PROFISSIONAL

Reginaldo de Oliveira

Publicado no Jornal do Commercio em 25/06/2009 – A015 


Certa vez, em um processo de seleção de uma grande empresa de auditoria, um grupo de jovens candidatos aguardava o inicio do processo em um auditório. Quando o responsável pela condução dos trabalhos adentrou no ambiente, de imediato observou uma série de aspectos comportamentais das pessoas na platéia e dispensou sumariamente vários dos presentes. A justificativa era que os dispensados não tinham postura adequada ao padrão da empresa.

 Em um outro processo de seleção para o cargo de diretor de uma multinacional, o candidato chegou na hora marcada, se apresentou a recepcionista onde lhe foi solicitado que aguardasse alguns minutos para ser atendido. Enquanto isso os entrevistadores observavam todos os detalhes através de um circuito interno de TV, tais como o tratamento dispensado às pessoas, o tom de voz, grau de ansiedade e o comportamento de forma geral. O objetivo era capturar impressões espontâneas, visto que o candidato poderia ser um bom ator e representar o papel de um excelente candidato perante os entrevistadores.

 Há casos de headhunters que convidam o candidato a um cargo executivo para almoçar, ocasião em que é observada a forma como o garçom é tratado, que itens do cardápio são escolhidos, se bebidas alcoólicas são consumidas; se o candidato fuma, como usa os talheres, sua linguagem, expressões etc. Enfim, e novamente, o ambiente descontraído é aproveitado para observações que vão além das formalidades. Existem situações em que o entrevistado é convidado para dar um passeio onde conversas formais e informais vão se misturando na medida em que entrevistado e entrevistador apreciam a paisagem.

 Essas situações retratam bem o quanto pesa a postura profissional em face de uma série de critérios de avaliação utilizados em processos seletivos. Destaca-se aqui que a adoção de uma postura profissional exemplar não é privilégio de executivos ou membros de grandes consultorias. Qualquer empresa, principalmente prestadores de serviços podem e devem ter funcionários de todos os níveis que adotem comportamentos e posturas merecedoras de admiração e respeito. A questão é a seguinte: Por que funcionários de um escritório de contabilidade ou de um restaurante não podem merecer o mesmo respeito que um outro de uma auditoria internacional ou de um grande escritório de advocacia? Por que normas de conduta profissional adotadas em um não podem se estender ao outro? Por que eu não posso ser tão bom quanto o outro se tudo é uma questão somente de atitude, de querer fazer bem feito? Por quê?

 É provável que uma pessoa acometida de alguns desvios de comportamento em um determinado ambiente organizacional possa se enquadrar perfeitamente em um outro com sólidos códigos de ética e conduta profissional estabelecidos, o que nos leva a deduzir, apesar do clichê, que o ambiente faz o profissional. Mudemos então o ambiente em vez de mudar as pessoas. A empresa pode desencadear um processo de profissionalização baseado no respeito, na ética, na disciplina e na confiança. Sabemos nós que o grande responsável pela degeneração ética de um ambiente organizacional é o mau exemplo vindo do topo. E, obviamente, o compromisso de mudar deve partir também da alta administração. A coisa acontecendo lá em cima, aos poucos irá se irradiando para baixo. E é preciso ter paciência porque leva tempo até que todos acreditem na nova ordem estabelecida.

 O profissional, individualmente, pode construir uma imagem baseada nas melhores práticas de conduta e aos poucos contaminar os demais ao seu redor. Para começar, é preciso rever o visual envolvendo trajes adequados, barba, cabelo, unhas, decote, perfume etc. Em seguida fazer uma autocrítica das atitudes no ambiente de trabalho, como por exemplo, uso da internet para assuntos pessoais, uso excessivo do telefone, barulho do toque do celular, lanches na mesa de trabalho, deixar cair restos de comida em gavetas que posteriormente atrairão pragas, conversas inadequadas, músicas no computador, vendas de rifas, brincadeiras com colegas, alto grau de informalidade, uso do ambiente da empresa para negócios particulares, uso de recursos da empresa para fins estranhos à mesma, e, principalmente, a mais grave de todas as falhas que é chegar atrasado ao trabalho ou aos compromissos.


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quinta-feira, 18 de junho de 2009

XBRL, a nova linguagem dos negócios

Reginaldo de Oliveira

Publicado no Jornal do Commercio em 18/06/2009 – A014


ARTIGOS PUBLICADOS

Estamos vivendo uma época onde muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo no universo dos controles empresariais e contábeis. As poderosas forças da globalização estão empurrando os países para a arena do comércio internacional e exigindo preparação cada vez maior dos membros partícipes. As regras são estabelecidas e quem não as cumprir estará em grande desvantagem frente às nações mais bem preparadas. Tal habilitação é fruto da prática de modelos administrativos aprovados por investidores internacionais, que priorizam a lisura da informação financeira. A busca pela uniformidade da informação tem mobilizado entidades reguladoras ao redor do mundo, as quais vêm se dedicando incansavelmente ao processo de convergência dos relatórios financeiros. O epicentro dessa agitação fica na capital britânica, mas precisamente no IASB (International Accounting Standards Board), entidade responsável pela modernização do pensamento contábil em nível mundial. O objetivo desse movimento é dar transparência aos processos empresariais através da utilização de mecanismos que evidenciem grau de risco e perspectivas consistentes de geração de caixa futuro, dentre outros fatores demandantes de análise.

 As políticas de governança corporativa são cada vez mais abastecidas de novos conceitos e novas tecnologias a fim de transmitir mensagens de confiabilidade ao mercado. A aprovação da Lei Sarbanes-Oxley nos Estados Unidos é um grande exemplo, assim como o processo de convergência dos relatórios financeiros ao redor do mundo. Paralelamente a esses acontecimentos, um outro grande fenômeno ganha escala. Trata-se da linguagem XBRL (eXtensible Business Reporting Language), a qual permite a comunicação sem erros entre vários softwares levando a integração de balanços. O contador americano Charles Hoffman é quem propôs o primeiro modelo da linguagem extensível de informações empresariais, que se tornou obrigatória para as 500 maiores empresas de capital aberto do seu país neste ano de 2009, sendo estendida para todas as empresas dos Estados Unidos em 2011.

 Até o momento o Brasil só aderiu ao padrão internacional de convergência dos relatórios financeiros através da instituição da Lei n° 11.638/2007. As empresas brasileiras já estão com dificuldades de digerir uma mudança tão profunda nos seus métodos contábeis. Mudança essa, que aconteceu em pleno processo de implementação do SPED (Sistema Público de Escrituração Digital). Mesmo assim, várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas pelo TECSI-FEA-USP, de onde se originou a primeira taxonomia brasileira. Também, algumas empresas nacionais que têm ADRs em Nova York, como Bradesco, Petrobrás e Itaú já adotaram a linguagem XBRL aos seus reportes financeiros.

 A tecnologia XBRL é baseada no conceito da metalinguagem, recurso engenhoso onde as informações são dispostas de forma padronizada, através de “etiquetas” (labels) e a elas associadas, as quais são convertidas para outras linguagens através de um dicionário taxonômico, que possibilita a tradução para outros idiomas. Analogamente, funciona como o HTML, que permite a visualização de páginas em computadores ao redor do mundo com plataformas e configurações variadas. Cabe aqui a leve comparação com o plano de contas referencial do SPED. Em vista das peculiaridades contábeis, cada país deve constituir sua jurisdição, estruturar uma taxonomia e submetê-la a aprovação do consórcio XBRL international, organismo responsável pela unificação do formato XBRL.


A grande vantagem em relação aos tradicionais veículos eletrônicos de informações contábeis (PDF, DOC, XLS, HTML) reside na preservação da informação original. O usuário poderá elaborar uma variada gama de comparativos de balanços de forma dinâmica, ágil e precisa. E ainda de maneira interativa visto que o XBRL dispõe de um recurso semelhante ao sistema de divulgação de notícias RSS, o que promete revolucionar o trabalho das auditorias. Essa linguagem será de grande valia para investidores, órgãos reguladores, governos e demais agentes econômicos. Mais um desafio para contadores e administradores.




quinta-feira, 11 de junho de 2009

RECUPERABILIDADE DE ATIVOS

Reginaldo de Oliveira

Publicado no Jornal do Commercio em 11/06/2009 – A013 

ARTIGOS PUBLICADOS

A Lei n° 11.638/2007 provocou impactos imediatos no nosso sistema contábil e vem provocando impactos contínuos até chegarmos ao ponto de convergência com as normas internacionais de contabilidade. Para isso, será necessária uma mudança integrada (embedding) envolvendo processos, sistemas, negócios, pessoas, tecnologias etc. Uma das disposições da lei supra mencionada de maior complexidade de operacionalização é a Redução ao Valor Recuperável de Ativos. Os testes de “impairment”, originados do pronunciamento IAS 36, do International Accounting Standards Board (IASB), estão previstos no Pronunciamento Técnico CPC-01, o qual foi ratificado pela Comissão de Valores Mobiliários (Deliberação CVM n° 527/2007); também, pelo Conselho Monetário Nacional (Resolução CMN n° 3.566/2008) e pelo Conselho Federal de Contabilidade (Resolução CFC n° 1.110/2007).

Toda organização econômica, principalmente as de cunho industrial, gera riqueza a partir da utilização de uma estrutura física por parte do seu quadro de recursos humanos. Plantas industriais em funcionamento são resultantes do investimento de grandes volumes de recursos financeiros e existem para produzir uma riqueza que posteriormente é distribuída a determinados beneficiários. Zelar por essa estrutura para que ela se mantenha produtiva por muitos anos é uma tarefa no mínimo óbvia. Desenvolver mecanismos eficientes de controle sobre esse patrimônio, também.

 Uma prática atualmente proibida pela Lei n° 11.638/2007 e que foi amplamente utilizada por muitos anos é a Reavaliação Espontânea do Ativo Imobilizado, cujo objetivo era trazer parte relevante dos ativos de uma empresa ao valor de mercado - valor esse que havia sido distorcido pelos anacrônicos critérios fiscalistas de depreciação. Agora, os ativos são avaliados segundo critérios desenvolvidos pelo IASB (International Accounting Standards Board) através do pronunciamento IAS 36, onde os valores deixam de ser mantidos com base no custo histórico e passam a ser contabilizados com base nos benefícios econômicos futuros prováveis. É o teste de “impairment” que permite identificar se o valor líquido contábil de um ativo não é superior ao seu valor recuperável. O valor recuperável é o maior entre o valor líquido de venda e o valor em uso.

 A empresa deverá fazer um estudo com a finalidade de identificar um ativo ou grupos de ativos capazes de gerar entradas de caixa representativos e independentes de outros ativos ou grupos de ativos. Esse levantamento identificará as unidades geradoras de caixa (cash-generating unit). Quando um ativo por si só não tiver a função de gerar entradas de caixa, ele será agregado a grupos que tenham essa característica. O mesmo estudo contemplará o valor de mercado de um ativo, líquido dos custos correspondentes, em uma data futura e condições normais de mercado, no contexto do planejamento da empresa em descontinuar o seu uso. Dessa forma será identificado o valor futuro de venda do ativo. Os ajustes dos valores dos ativos terão contrapartida a conta de Ajustes de Avaliação Patrimonial (AAP), no grupo Patrimônio Líquido. Assim, os registros contábeis evidenciarão os valores dos ativos dentro de uma realidade econômica e mercadológica.

 Vários fatores concorrem para a determinação da vida útil econômica de um ativo, tais como decrepitude, obsolescência tecnológica, manutenção inadequada, conjuntura mercadológica etc. Cabe a direção da empresa, orientada pelo seu contador, buscar soluções ao enquadramento dessa nova realidade contábil. Por exemplo, definir valor em uso é um processo que envolve um alto nível de julgamento profissional por abranger estimativas de fluxo de caixa futuro para cada unidade geradora de caixa.

 Não resta dúvida que o conjunto de procedimentos referente a Recuperabilidade de Ativos é de uma complexidade tamanha e dificilmente uma empresa terá em seus quadros profissionais preparados para conduzir tal processo com a qualidade técnica necessária. Existem profissionais na nossa cidade com experiência no assunto de reavaliação patrimonial, com destaque para uma empresa que há mais de dez anos vem desenvolvendo expertise técnica que resultou em contratos com grandes indústrias do PIM.




quinta-feira, 4 de junho de 2009

Desafios do novo modelo contábil

Reginaldo de Oliveira

Publicado no Jornal do Commercio em 04/06/2009 – A012 

ARTIGOS PUBLICADOS

Os procedimentos de adequação ao novo modelo contábil para fins de atendimento das disposições contidas na Lei n° 11.638/2007 são revestidos de grande complexidade e os desdobramentos derivados a partir do denso texto dessa lei têm se multiplicado em escala exponencial. O fato é que um grande volume de estudos e metodologias que estavam represados no âmbito de atuação do IASB foi, de uma hora para a outra, despejado no cotidiano empresarial brasileiro. O rompimento da barragem arrasou o nosso descontextualizado sistema contábil, deixando incautos contadores desorientados até agora. Não é por acaso que muitos profissionais estão enfrentando verdadeiras maratonas de seminários, palestras etc., para digerir tão profundas mudanças e se debruçando sobre uma gama de estudos voltados para a dimensão financeira da contabilidade. A capacidade de geração de caixa é agora mais importante que o enigmático lucro líquido do exercício.

 Está em curso um fenômeno cognitivo onde experiências são compartilhadas por diversos profissionais das áreas contábil e administrativa – uma sinergia de esforços empenhada em dar forma e esclarecimento a uma estrutura contábil alinhada com o modelo proposto pelo IASB. Quem vem dando contribuição significativa nesse ambiente de transformação são as empresas de auditoria. São elas que estão recomendando a conversão total aos padrões IFRS, mesmo para empresas enquadradas em algum tipo de limitação legal. Ainda assim, há casos em que algumas auditorias não exigiram AVP nem AAP, mas solicitaram DVA de sociedade limitada.

 O fato é que as empresas de auditoria estão encontrando contadores despreparados e tendo pouco tempo para trabalhar grandes volumes de dados, com o agravante de encontrar pela frente estruturas contábeis desorganizadas. Aliás, organização é a palavra-chave que sintetiza a infraestrutura capaz de viabilizar uma série de processos necessários à adequação ao novo padrão legal. Dificuldades de esclarecimentos de operações econômicas e financeiras, agravadas pela desorganização de documentação suporte podem tornar o processo muito doloroso além de comprometer a imagem da empresa.

 A parte simples do processo de conversão se refere à estrutura do plano de contas. Os Ativos são agora classificados em Circulante e não Circulante. O Ativo não Circulante é composto pelos grupos Realizável a Longo Prazo, Investimentos, Imobilizado e Intangível. O grupo Diferido foi eliminado pela MP 449/2008, sendo que seus saldos poderão ser descarregados como despesas do exercício ou reclassificados para o Ativo Intangível. Da mesma forma, o Passivo passa a ser classificado em Circulante e não Circulante. Não existe mais a conta Resultados de Exercícios Futuros. O grupo do Patrimônio Líquido ganha a conta Ajustes de Avaliação Patrimonial e perde a conta Lucros Acumulados. A conta Reserva de Reavaliação foi também eliminada e o seu saldo poderá ser baixado para despesas ou mantido de acordo com o resultado do teste de recuperabilidade “impairment”. Foram extintas as contas de Receitas e Despesas Não-Operacionais.

 A parte trabalhosa diz respeito à elaboração dos Demonstrativos de Fluxo de Caixa (DFC) e Demonstração do Valor Adicionado (DVA), sendo a primeira obrigatória para empresas com PL acima de dois milhões de reais e a segunda, para empresas de capital aberto. Outra atividade que requer muita atenção são os cálculos de Ajuste a Valor Presente (AVP) que deverão ser aplicados a determinados direitos e obrigações de longo prazo, e de curto prazo quando houver relevância. Mais trabalhoso ainda é a análise de recuperação dos ativos cujos resultados irão para a conta Ajustes de Avaliação Patrimonial (AAP). Prevalece aqui o conceito de vida útil econômica de um bem em substituição ao tosco método de índices fixos de depreciação. Ou seja, capacidade de geração de riqueza determinada por mudança de tecnologia, influência de órgãos reguladores, modificação na estratégia do negócio etc. Muito cuidado na definição do que é resultado e o que é AAP. É importante a atenção referente modificações nos métodos de equivalência patrimonial, nos conceitos de arrendamento mercantil, no tratamento de instrumentos financeiros dentre outros casos.

A parte complexa tem a ver com análise, quantificação e agregação de riscos que tenham como objetivo influenciar o custo do capital e se alinhar as melhores práticas de governança corporativa. A qualidade da informação contábil será avaliada em função de estimativas consistentes com o mercado; que demonstre a sustentabilidade do negócio, transparência dos processos internos e capacidade de geração de caixa. O Contador deverá então deixar as atividades de classificação e análise contábil para os sistemas ERP e concentrar sua atenção no trabalho de prospecção e elaboração de cenários econômicos.