quinta-feira, 29 de outubro de 2009

ÉTICA E DESENVOLVIMENTO

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 29/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo33.rg3.net

Do ponto de vista filosófico, ética é uma reflexão sobre a moral. Isso significa que os valores, os costumes e a práxis de uma sociedade precisam ser periodicamente reavaliados. O resultado desse exercício é a conquista de um ambiente propício ao desenvolvimento cultural e tecnológico de uma nação. Assim, surgem e se mantém vivas as grandes civilizações, sendo que os valores de algumas delas atravessaram os séculos com um vigor monumental, como é o caso das culturas grega e judaica. A força para alcançar a grandeza está na capacidade de conciliação de interesses pessoais e adoção de um padrão de comportamento que coloca o grupo acima do indivíduo. Pesa também nesse processo o aprimoramento do senso crítico e alto grau de instrução dos construtores da pátria.

A combinação de uma série de variáveis positivas acaba criando condições necessárias ao avanço social e tecnológico de uma nação. No sentido inverso, o conjunto de variáveis negativas pode frear ou estagnar um progresso em curso. Foi o que aconteceu com os árabes, que prosperaram na época em que a igreja manteve a Europa nos porões do obscurantismo. Quando os ideais iluministas libertaram o povo europeu das garras da tirania papal, os árabes fizeram o contrário: tomaram o caminho do dogmatismo fundamentalista. As consequências estão aí, à vista de todos, com a opressão de um lado produzindo pobreza, guerras e atraso; e a liberdade do outro, gerando altos índices de desenvolvimento humano.

A medida do desenvolvimento de um país é a medida do desenvolvimento de cada um dos seus membros. É o resultado conjugado das idéias evoluídas de um povo que forma uma grande nação; é o conjunto da sociedade que determina a sua forma de funcionamento, ou seja, qualidade dos serviços públicos, distribuição justa de oportunidades, liberdade de expressão e, obviamente, o exercício da ética que lubrifica as engrenagens da máquina social. Quando um pai, passeando pela cidade acompanhado do filho, joga papel no chão, cruza o sinal vermelho, xinga outros motoristas, compra produto roubado ou estaciona na vaga de um deficiente, além de ser, estar formando outro péssimo cidadão. Esses maus cidadãos são presas fáceis – são eles que colocam no poder as suas cópias amplificadas: gente da pesada que atua de forma predatória, que se comporta como um câncer social.

A falta da visão de conjunto e de noção da importância do ator social produz uma massa de cidadãos de baixo senso crítico. Assim sendo, uma nação não conseguirá caminhar tendo os pés amarrados pela ignorância da maioria dos seus integrantes. Grupos políticos ou sociais não podem, presunçosamente, pretender andar ao lado das nações desenvolvidas tendo os pés leprosos. É preciso antes, curar as feridas culturais através de políticas eficientes de educação e justiça social. O fato é que desenvolvimento humano não combina com falta de ética, visto que ética é a pedra angular da estrutura social. Um povo ético exigirá governantes éticos, práticas éticas na política e em todas as ramificações da sociedade.

O processo de globalização está acirrando a competitividade e estabelecendo padrões mais rígidos de qualificação profissional, além de exigências relacionadas a práticas de responsabilidade social e ambiental. Quiçá, os interesses econômicos desencadeiem um processo de evolução da nossa sociedade, visto que os concorrentes internacionais estão se destacando graças a altos níveis de desenvolvimento humano. As empresas forçarão o poder público a tratar com seriedade o assunto educação, e quanto maior for o número de cidadãos bem educados, menor será a quantidade de dirigentes ruins; menor o grau de cinismo, demagogia e politicagem.

Os esforços que a nossa sociedade vem fazendo na área educacional já mostram resultados positivos. Prova disso são os discursos artificiosos, repetitivos, cansativos e grotescos de políticos que expõem sua ridícula imagem na televisão. Esse fenômeno acontece quando o eleitor usa filtros éticos adquiridos na sua formação educacional. Queira Deus, um dia possamos, verdadeiramente, repudiar as podridões que borbulham diariamente na mídia, assim como fazem os países escandinavos, onde qualquer desvio de conduta é tratado como uma falha grave. Nós, aqui, por enquanto, continuamos engolindo sapos, lagartos, cobras, desmandos, desvios, agressões, injustiças, demagogias, corrupções etc. – tudo temperado com a fortíssima pimenta impunidade.

domingo, 25 de outubro de 2009

RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 22/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo32.rg3.net

Na caminhada da vida temos necessidade de que alguém nos guie, e depois de certo momento nos tornamos um navegador solitário. Quando nos sentimos um pouco perdidos nos damos conta de que não seguimos mais com o nosso guia - traçamos nossa meta totalmente a sós e depois nos apercebemos de que alguém está ao nosso lado. Aquele que nós seguíamos não é mais o nosso guia, mas ele está em nós. Nós o absorvemos.

Cada pessoa que chega a esse mundo traz consigo a árdua missão de escrever infinitas páginas da gigantesca enciclopédia da sua vida. Muita ajuda dos que chegaram antes será necessária nessa jornada épica. Os mais velhos terão a função de retransmitir os códigos necessários à formação de mais um componente do tecido social. As primeiras e mais importantes referências são os pais, que contribuirão de forma intensa para a formação do caráter dos seus descendentes. Os vínculos afetivos entre pais e filhos são poderosos, visto que além de dar a vida, são os genitores que pavimentam e apontam o caminho para os rebentos.

Um pouco mais crescida a criança tomará contato com o outro grande formador do seu caráter; uma pessoa que, além disso, terá a responsabilidade de prepará-la para a vida social e profissional. O professor é o grande guia que segura na mão do aluno e o conduz pela longa jornada do conhecimento, lhe proporcionando os instrumentos e habilidades necessários para que possa se integrar plenamente ao convívio dos seus semelhantes de forma sadia e construtiva. Daí, que a relação professor/aluno é muito forte. A criança percebe a função construtiva do seu professor; ela absorve a energia emanada do mestre e essa força vai elucidando os enigmas do mundo. Na idade adulta, o homem terá cristalizado na sua alma as palavras e as lições aprendidas dos seus pais e professores.

É prazeroso perceber no aluno a inquietação que atiça a sede de conhecimento. O conhecimento liberta o homem da dúvida e da escuridão; leva a um relacionamento fraternal com o próximo e a ações altruístas. Uma única aula é capaz de provocar uma revolução da cabeça de um aluno, o que nos faz refletir sobre a grandiosidade e responsabilidade do papel do professor. É muito importante que o professor tenha consciência das suas atribuições, as quais se revestem de dignidade sacerdotal. Quando isso acontece o trabalho junto aos alunos ganha uma aura de encantamento e elevação. Caso contrário, uma atuação protocolar, desprovida de comprometimento e entusiasmo, torna o aprendizado insosso e vazio. Por isso, não é nada bom que alguns profissionais trabalhem na docência sem abraçá-la com a sua alma; não é recomendável que busquem apenas um complemento de renda financeira.

O aluno precisa sentir que o conteúdo recebido está vitaminado com empenho e dedicação do mestre. Dessa forma, os aprendizes ficarão mais fortes e preparados para os embates fora da sala de aula. O mestre dever ter sensibilidade aguçada para perceber a capacidade cognitiva dos seus alunos; deve conduzir seus aprendizes por caminhos psicológicos até que cheguem à compreensão de um assunto complexo; deve trabalhar os modelos mentais dos educandos, fazendo com que aprendam mesmo sem se darem conta disso. Quando o professor trabalha dessa forma, os resultados são impressionantes e os alunos respondem de forma espetacular. Toda pessoa sente as boas intenções daqueles que querem o nosso bem – isso é algo tão primário que até um bicho fica quieto quando está sendo cuidado por um médico veterinário. O compromisso com a qualidade do ensino deve estar impregnado nas atividades diárias do professor. Dessa forma, ele pode estabelecer uma fina sintonia com seus alunos, gerando assim benefícios para todos.

O trabalho conjunto de vários profissionais está proporcionando excelentes resultados na Fametro, sendo que grandes esforços têm sido empreendidos no aprimoramento da qualidade do ensino. Inspirados pelos valores da instituição, alunos e professores são conclamados a unirem forças na busca de melhores níveis de excelência acadêmica. Dessa forma, está sendo moldada uma estrutura que muito em breve ganhará seu merecido destaque na sociedade manauense. É importante destacar que muito além de belas, modernas e confortáveis instalações, o professor continuará ocupando o centro de toda a dinâmica educacional.



quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ÁREAS DE RESPONSABILIDADE

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 15/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo31.rg3.net

As organizações com certo grau de complexidade são divididas em departamentos os quais funcionam como subsistemas de um sistema maior que é a empresa. Cada departamento possui um nível de autonomia suficiente para que possa funcionar como uma unidade de negócio. Modernos modelos de gestão são estruturados a partir de células altamente especializadas que se relacionam com as demais observando todo um conjunto de preceitos e valores estabelecidos pela alta direção. Dessa forma, o conjunto ganha força e eficácia porque todos querem demonstrar altos níveis de desempenho. E a sinergia só poderá acontecer se houver mecanismos capazes de aferir com precisão os recursos consumidos e os resultados produzidos nas respectivas áreas de responsabilidade.

Cada área de responsabilidade deve ser administrada como se fosse uma pequena empresa. Os responsáveis deverão ser capazes de elaborar orçamento, gerenciar diversos tipos de recursos, saber se relacionar com outras áreas, ficar atento aos indicadores de desempenho etc. Esse modelo de gestão distribui a responsabilidade, diminui o fardo administrativo do executivo principal e não sobrecarrega as áreas de controle interno. O departamento de contabilidade é o maior beneficiado, visto ser a desembocadura de todos os processos que afetam o patrimônio da organização.

Vale ressaltar que não é função da contabilidade ficar corrigindo erros de outros departamentos. Cada erro detectado deverá ser objeto de comunicação formal ao setor competente cabendo adoção de medidas corretivas pelo respectivo gestor. Adicionalmente, o contador providenciará um registro do fato em algum tipo de relatório de ocorrências. O importante é reforçar mais e mais a idéia da responsabilização – o que os americanos chamam de accountability. Problemas graves acontecem nas empresas devido ao jogo de responsabilidade. Ou seja, enquanto um não faz o serviço, o outro trabalha dobrado. Assim, o sistema inteiro fica desregulado. E, como todos sabem, uma máquina desregulada consome mais recursos e produz menos.

É impressionante o poder destrutivo encerrado em comportamentos corriqueiros que ocorrem diariamente em muitas empresas: É programação intempestiva de suprimento, é imposto pago indevidamente, é produto entregue ao cliente errado, é cadastro incompleto, é informação distorcida, é máquina quebrada por mau uso, é contrato assinado sem análise etc. Imaginemos uma grande organização que de uma hora para outra começa a pipocar problemas por tudo quanto é lado, e imaginemos o departamento que sofrerá todos impactos. Não é correto que a contabilidade absorva passivamente erros e mais erros. Ela deve sim, ao identificar um erro, recusar-se a receber o processo, fazendo de imediato a devolução ao setor competente para as devidas correções. Quando uma pessoa é obrigada a consertar um erro que cometeu e ainda sofrer grande exposição via relatório, ela certamente será mais cuidadosa. Agora, quando ninguém está olhando e os erros se dissolvem no caldo organizacional, pouquíssimos funcionários serão caprichosos nas suas tarefas.

Portanto, não é o contador que tem que adivinhar a origem de um crédito no extrato bancário; o responsável pelo esclarecimento deve ser alguém do departamento financeiro. A ausência de resposta satisfatória denunciará fortes indícios de ingerência, que poderá se agravar para suspeitas mais sérias quanto à condução de uma área de responsabilidade extremamente sensível. Da mesma forma, o responsável pelo suprimento deve responder por faltas de materiais ou distorções nos controles do seu setor. A empresa deverá se municiar de contra-argumentos propiciando uma estrutura de controle interno de alta performance para que as pessoas não escondam suas incompetências ou conduta reprovável nas falhas do sistema de gestão.

Um sistema de gestão bem estruturado e administrado faz emergir tanta coisa cabeluda que arrepia até casca de ovo. As delimitações de áreas de responsabilidade, com definições detalhadas de atribuições, metas, modelos de conduta, premiações, punições etc., provocam verdadeiras revoluções por simplesmente evidenciar as competências de cada um.

O ZELADOR DO BANHEIRO

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 08/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo30.rg3.net

Durante o processo de análise contábil de uma empresa industrial, o contador arrolou uma série de pendências documentais e em seguida solicitou esclarecimentos dos setores competentes. Para sua surpresa não houve retorno das solicitações; as pessoas que produziam determinadas informações ou operacionalizavam atividades administrativas ou produtivas simplesmente não se sentiam responsáveis por prestar nenhum tipo de esclarecimento ao departamento de contabilidade. Nas suas concepções, a contabilidade é que deveria se virar para fazer o seu trabalho. Tal comportamento seria aceitável até certo ponto se a estrutura organizacional interna fosse de uma eficiência primorosa. Um dos problemas é que constava nos extratos bancários um rol de operações de fechamento de câmbio relacionado a operações de importação, sendo que o departamento financeiro não sabia fazer conexão entre os débitos na conta corrente com os processos de entrada de insumos importados. O setor responsável pela recepção e controle de materiais tinha um grande volume de documentos de importação arquivado em pastas, mas ninguém sabia vincular as operações de recepção de materiais com as operações financeiras. Para complicar um pouco, os fechamentos de câmbio eram feitos por uma unidade comercial que ficava a 5000 km de distância, que simplesmente ia pagando, pagando...

O contador, claro, trabalhou feito louco para montar um imenso quebra-cabeça onde ficaram faltando muitos esclarecimentos. Mesmo com muita cobrança e insistência os documentos não apareceram e ninguém foi responsabilizado pelos desmandos. Os diretores achavam que o contador era o único responsável e que, portanto deveria dar um jeito na situação.

Continuando seu trabalho, o contador passou dias relacionando listas imensas de retenções de impostos com os respectivos recolhimentos. Ao final do trabalho entregou a lista de pendências ao departamento financeiro. O contador identificou também operações bancárias na casa de milhões de reais que ninguém sabia dizer do que se tratava – uma coisa simplesmente assustadora. O encarregado financeiro dizia que quem movimentava tais contas “era o pessoal de São Paulo”. Ao contactar o escritório de São Paulo, a resposta é que quem “cuidava” dessas operações era o setor financeiro da sede do grupo empresarial, sendo que essa tal pessoa era incomunicável. Mas aí, surgiu a possibilidade de
uma terceira pessoa, que tinha uma empresa parceira em Curitiba, que poderia ajudar nos esclarecimentos das operações.

O absurdo do absurdo é que se tratava de valores de grande monta. Não eram cifras na casa de mil, dois ou dez mil reais. Eram milhões!!! O contador ficou apavorado com essa configuração financeira de alta densidade nebulosa. Na realidade, uma negríssima nuvem encobria as operações financeiras dessa empresa. Mais isso não era o bastante. O contador verificou vários lançamentos que levaram a conclusão de que a empresa possuía mais contas bancárias além das conhecidas. Mexendo, mexendo, percebeu que faltavam extratos bancários de oito contas bancárias, o que redundou em mais lutas e cobranças até os extratos aparecerem. Quando apareceram, a coisa ficou mais enrolada devido ao aumento das dúvidas. Ou seja, quanto mais documento aparecia, mais feia ficava a coisa.

A empresa havia adquirido um sistema de gestão que era o supra-sumo dos sistemas ERP. A questão é que as características do sistema estavam anos luz distante da habilidade dos seus operadores. É como se fosse entregue um submarino nuclear para um motorista de táxi. As consequências, obviamente, foram desastrosas: era informação que entrava automaticamente, era informação que entrava manualmente (e errada); era estorno para todo lado, ajustes, controles paralelos em planilhas eletrônicas etc. Para completar a contabilidade era quebrada em três pedaços, como se fossem três empresas. O motivo dessa fragmentação era a falta de um módulo integrador.

Havia muitas outras escabrosidades, mas mesmo assim somente o contador era cobrado por resultados. Ele tinha que fazer o balanço devido a uma necessidade imperiosa da empresa. Após estafantes e longas jornadas de trabalho, o balanço ficou pronto, mas cheio de pendências. O diretor da empresa ainda teve o atrevimento de dizer que o balanço estava errado. Na cabeça do diretor, a contabilidade tinha a obrigação de adivinhar tudo que um batalhão de funcionários fazia, mas que não contava para ninguém; tinha que dar um jeito em tudo quanto era baderna que rolava solta no ambiente de trabalho.

Diferencial competitivo do voluntariado

Reginaldo de Oliveira
E-mail – reginaldo@reginaldo.cnt.br
Publicado no Jornal do Commercio em 01/10/2009 – Manaus/AM – Pág. A3
www.artigo29.rg3.net

Vivemos um tempo onde as pessoas se isolam uma das outras e dessa forma algumas delas padecem de necessidades básicas e outras amarguram o vazio existencial. A consequência da objetividade pragmática que domina o senso comum daqueles que estão numa fatigante escalada social é o bloqueio da percepção para a poesia da vida, para o valor do abraço de um amigo ou para uma agradável brisa de um dia reconfortante. Quando atingimos o tão sonhado patamar social - objeto de um plano cuidadosamente posto em prática, descobrimos muitas vezes que de tanto lutar pela vida esquecemos de viver. Reconhecemos que o grande e verdadeiro projeto é aquele que nos enche de satisfação e orgulho quando é realizado. E esse sentimento está diretamente ligado à idéia de fazer a diferença nesse mundo sendo útil ao próximo e a comunidade em que vivemos; é o ideário de ser parte integrante de um grupo, de ser aceito, de interagir com as energias positivas à nossa volta.

A prática do voluntariado é uma excelente oportunidade de experimentar o prazer de fazer outra pessoa feliz, além de aprender com as diferenças. Ao mesmo tempo, ainda nos ajuda a refletir sobre a nossa vida e o que fazemos dela. Muitas vezes reclamamos de tudo e de todos como se o mundo fosse nossa babá. A proximidade com pessoas que vivem numa realidade bem diferente da nossa nos faz mais humanos e maduros, visto que nesse processo é feito o exercício da empatia, qualidade essencial nos relacionamentos interpessoais nas empresas. O voluntário é como um ator social e agente de transformação, que doa seu tempo e conhecimentos e presta serviço não remunerado beneficiando a comunidade ao qual está inserido, manifestando assim seu espírito solidário.

Oferecer-se voluntariamente para trabalhar em atividades de cunho social transforma seu praticante numa pessoa muito bem quista pela sociedade e pelas empresas. O trabalho voluntário está evoluindo para se transformar num diferencial competitivo no futuro, apesar de atualmente ainda não ser considerado como critério de desempate em processos de seleção. Destarte, campanhas e as diversas mídias têm trabalhado intensamente na valorização do voluntariado. Nesse ritmo, quem sabe assim possamos um dia nos igualar a Europa, que inseriu a prática do trabalho voluntário no seu padrão de currículo. No nosso dia-a-dia já se observa em muitos formulários on-line de currículos de importantes empresas um destaque para a atividade voluntária, indicando desse modo uma tendência de evolução do assunto. Pode-se dizer que a importância do voluntariado toma corpo de tal modo como os conceitos de sustentabilidade e preservação do meio ambiente.

Quem se dispõe a prestar um serviço voluntário demonstra espírito de engajamento, maturidade, responsabilidade e nobreza de caráter. Muitos e muitos jovens de todas as idades são extremamente receptivos à idéia de atuar em um projeto social, mas vêem seu entusiasmo se esvaziar por ausência de ressonância aos seus anseios. Ou seja, faltam empreendedores sociais que liderem uma marcha e conduzam ávidos atores até o palco do voluntariado. Esse tipo de coisa deveria ser fomentado nas escolas. Seria muito proveitoso para o aluno, principalmente para o jovem ansioso por fazer e acontecer. Resumindo, faltam líderes, falta ação.

No ano de 2002 um grupo de três alunos da Universidade Federal do Pará resolveu promover uma palestra num depauperado auditório do campus da UFPA com o intuito de arrecadar alimentos para ajudar uma comunidade carente. Foi então que entrou em cena o quarto integrante que fez uma proposta arrojada, ou seja, promover um evento de envergadura e alto nível profissional. A idéia assustou o trio de estudantes, que em pouco tempo abraçou o desafio. O projeto foi refeito e o quarteto partiu em busca de recursos, além de trabalhar duro durante um bom tempo. O resultado da saga estudantil foi um acontecimento nunca visto e nunca repetido por alunos de Ciências Contábeis na cidade de Belém. O grupo conseguiu uma robusta arrecadação proveniente de contribuições de várias empresas. Foi feito um grandioso trabalho de programação visual com banners, grandes cartazes, certificados, crachás, folders, panfletos etc.; foram realizadas muitas visitas a várias instituições de ensino, uma instituição particular cedeu um luxuoso auditório, pessoas de renome local e nacional palestraram; houve todo um procedimento de credenciamento, cerimonial, shows, sorteio de brindes, prestação de contas etc. E no final, o objetivo, que era a arrecadação de alimentos, foi um sucesso estrondoso. E tudo foi fruto do trabalho de quatro simples alunos, que andavam de ônibus e que se entregaram a uma causa de corpo e alma. O registro desse fato memorável está no site www.jornadacontabil.rg3.net