quinta-feira, 25 de junho de 2015

MICROEMPRESÁRIO PAGA ICMS EM DOBRO

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Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 25/06/2015 - A003
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A IN RFB 1397/2013 obrigaria um enorme contingente de grandes empresas a refazer os cinco últimos balanços para assim recalcular o imposto de renda com base nas regras vigentes até o final de 2007. A expectativa da Receita Federal era arrecadar cerca de um trilhão de reais. Claro, óbvio, que a IN 1397 teve uma vida curtíssima, morrendo em poucos dias. E o motivo? O lobby dos grandes empresários deu uma prensa violentíssima no então ministro Guido Mantega, que rapidinho revogou o famigerado dispositivo legal.

Enquanto os grandes empreendimentos demonstram possuir um poder de fogo intimidador, a pequena empresa continua sendo o alvo preferido do agente fazendário, a qual costuma engolir abusos originados de todos os quadrantes. Tudo quanto é organismo fiscal procura meios de arrancar uma lasca de couro do lombo do pequeno empresário. E o mais curioso é que faz isso ao mesmo tempo em que propaga aos quatro ventos o “apoio” ao microempreendedor. As famosas “caravanas” percorrem o país gerando mais publicidade para o governo do que benefícios para os pequenos comerciantes.

O grande e ostensivo exemplo dessa desfaçatez está na maior deturpação tributária, hoje, existente no Brasil. A legislação que regulamenta a atividade do microempresário estabelece uma tributação diferenciada a fim de garantir meios de sobrevida aos pequenos. Para isso, existe uma taxação escalonada de acordo com o volume faturado. Pois bem. Os entes fazendários estaduais responsáveis pela cobrança do ICMS passaram com um trator por cima dessa regra ao cobrar ICMS Substituição Tributária da mesmíssima forma que cobra esse imposto das grandes empresas. Com um agravante. As grandes empresas possuem estrutura administrativa preparada para evitar a duplicidade tributária do ICMS, quando deixam de tributar um produto já taxado por ocasião da compra. E isso raramente acontece nas pequenas empresas por causa da complexidade burocrática dessa operação. Separar o joio do trigo exige pesados investimentos em tecnologia, processos e capacitação profissional. Um leigo não sabe de onde vem nem pra onde vai. Tudo é muito enigmático. A única coisa que sabe é da salgada conta tributária que todos os meses sangra o seu bolso.

Esse fato ocorre com mais frequência naqueles pequenos estabelecimentos comerciais que adquirem suas mercadorias dos distribuidores locais. Esse pessoal não costuma observar o CST ou o CFOP vinculados aos itens da nota fiscal de compra. CST 060 e CFOP 5405 indicam que a mercadoria está tributada em todas as etapas de comercialização dentro do estado do Amazonas. Por isso, as vendas dessas mercadorias devem ser excluídas para fins de determinação do ICMS na guia de recolhimento do SIMPLES. Lamentavelmente, tal cuidado não é observado em várias empresas, gerando assim um pagamento em duplicidade. Para piorar só um pouquinho, o microempresário é obrigado a pagar antecipação de ICMS, sem que isso possa ser ressarcido, como fazem as grandes empresas. Ou seja, lá se vai mais uma lasca de couro das costas.


terça-feira, 23 de junho de 2015

BRASIL, O PAÍS DA PROPAGANDA

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 23/06/2015 - A215
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Neste continente, os nossos antepassados doaram ao mundo uma nova nação concebida na liberdade e baseada no princípio de que todos os homens foram criados iguais. Estamos hoje envolvidos em uma grande guerra civil que provará se esta nação ou qualquer outra deste modo concebida pode perdurar. Encontramo-nos, neste momento, num dos grandes campos de batalha desta luta e queremos consagrar uma parte dele à última morada dos que aqui sacrificaram a própria vida pela existência do país. É justo que o façamos, porém, num sentido mais profundo. Não nos compete abençoar ou consagrar este solo. Os heróis, vivos ou mortos, que nele pelejaram, já o santificaram a tal ponto que as nossas fracas forças nada lhe podem acrescentar nem tirar. Mais tarde, o mundo esquecerá o que hoje foi dito aqui. Todavia, jamais poderá olvidar os feitos de que este campo foi teatro. Cabe-nos, a nós, vivos, dedicar-nos à continuação da obra de que os combatentes aqui iniciaram. Compete-nos realizar a sublime tarefa que esses grandes mortos nos legaram, e com crescente espírito de sacrifício levar à vitória a causa que aqui os fez exaltar o derradeiro alento. Cumpre-nos fazer que esses homens não tenham tombado em vão, que, com o auxílio de Deus, a nação assista à renascença da liberdade e que o governo do povo pelo povo não desapareça da face da terra.

Esse belo e magnânimo discurso foi proferido pelo Pai da Nação americana na tarde do dia 19 de novembro de 1863, quatro meses depois da vitória na batalha de Gettysburg, a qual foi decisiva para o resultado da Guerra da Secessão. As palavras de Abraham Lincoln ecoam até os dias de hoje arrebatando corações e mentes mundo afora. Vários homens públicos dos Estados Unidos marcaram seu nome na história pela eloquência e pela grandiosidade dos seus atos, enchendo de orgulho um povo que soube curar suas feridas mais graves e assim conquistar o planeta. Até mesmo o discurso do atual presidente Barack Obama já figura entre os melhores, o qual foi proferido no dia 4 de novembro de 2008, após ter vencido as eleições, onde disse: "E aqui estamos nós, frente a frente com o cinismo e as dúvidas daqueles que nos dizem que não somos capazes, e a quem respondemos com o credo intemporal que representa o espírito de um povo: Sim, somos capazes (yes, we can)."

Enquanto isso, nós, brasileiros, somos órfãos de ídolos e de grandes personagens da nossa história política. Isto é, pessoas capazes de arrebatar os nossos corações, como também de inspirar ações sublimes e grandiosas. Nossos políticos só nos envergonham. Geralmente, suas condutas e seu caráter revelam o que de pior e mais sombrio encontra-se guardado nas profundezas da alma humana. O recente festival de escândalos que saturou os canais midiáticos tem assustado a população pela envergadura e pela metástase cancerígena que tomou de assalto todas as células do poder público – onde ninguém é inocente (ou no mínimo, omisso).

Os nossos políticos substituíram a retórica autoral por peças publicitárias de prateleira. Impressiona o fato de tudo quanto é discurso ser proveniente de uma mesma matriz (artificiosa e cacofônica). E o mais incrível é que ninguém se mostra capaz de criar argumentos novos e confiáveis. A demagogia e a representação teatral ficam ainda mais vexatórias quando o orador insiste na representação de um papel absolutamente contrário ao da sua conduta. A aposta dos marqueteiros (criadores de ídolos de plástico) é ainda na grande massa de desinformados e analfabetos. Daí a razão de nos depararmos com toscas e demagógicas campanhas televisivas, as quais nos causam repúdio, mas que podem atingir em cheio um grande contingente de eleitores desprovidos de senso crítico.

Pois é. Infelizmente, somos o país da propaganda. Não à toa, nossos publicitários são internacionalmente reconhecidos pela inigualável criatividade. Daí que toda essa coisa de conduta e probidade, como também seriedade e honestidade; tudo pode ser desenhado e modelado ao gosto do freguês. Dessa forma, e dependendo do cacife, qualquer um pode conquistar altíssimos postos no universo do poder público. Enquanto isso, a população mais instruída reverencia as figuras históricas de outras nações. Ou seja, importamos ideias e exemplos positivos de fora, já que nada de bom consegue brotar do nosso árido e contaminado ambiente político


quarta-feira, 17 de junho de 2015

CLASSIFICAÇÃO FISCAL DE MERCADORIAS

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Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 17/06/2015 - A002
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Há uma crise de relacionamento entre muitos comerciantes e seus respectivos contadores, cujo epicentro está no processo de escrituração fiscal. Antigamente, era prática habitual passar o mês acumulando notas fiscais de compra e de venda que eram posteriormente encaminhadas ao escritório de contabilidade para serem escrituradas. O problema é que essa época romântica de caligrafias caprichadas ficou no passado sendo consumida pelas traças.

Os tempos são outros. A realidade hoje é totalmente diferente. E a mudança foi brutal. Tanto, que esses ditos comerciantes relutam em abandonar uma rotina que funcionava muito bem. A nota fiscal eletrônica, assim como a pressão da SEFAZ, está forçando todo mundo a enveredar pelo caminho da tecnologia da informação. Ou seja, o caderninho e as fichas de controle de estoque estão sendo aposentados na marra. Não há outra saída que não seja pela adaptação a esse novo ambiente tecnológico.

A complexidade estrutural de uma nota fiscal eletrônica em nada se compara ao talão de duas vias com carbono no meio. Hoje, cada item de produto possui uma identificação própria que é o resultado do alinhamento do NCM com CST com CFOP com alíquota de ICMS. E ainda CST de PIS e CST de Cofins. Alinhamento significa que esses elementos devem seguir uma mesma coreografia, como um grupo de dança sincronizada. Se um determinado elemento errar o passo a consequência será o enquadramento do comerciante em algum tipo de infração normativa, que, dependendo da gravidade pode resultar em autuação fiscal.

Pois é. O cuidado com todo esse detalhamento burocrático deve preceder a emissão da nota fiscal. Traduzindo, é preciso enquadrar de cada item do estoque na sua respectiva SITUAÇÃO TRIBUTÁRIA ESPECÍFICA. Ou seja, é necessário passar um pente fino no cadastro das mercadorias para que as notas fiscais de venda possam ser emitidas em conformidade com as exigências da SEFAZ. Para tanto, é essencial dominar a arte da CLASSIFICAÇÃO FISCAL de mercadorias, uma vez que esse trabalho não pode ser feito pelo Contador em vista do volume e da frequência em que os eventos acontecem.

Cabe ao escritório de contabilidade recepcionar o conjunto de dados da movimentação de mercadorias do mês para depois providenciar a escrituração fiscal e entrega das obrigações acessórias ao Fisco e também apurar os tributos devidos. Quando esse pacote de dados recebidos não estiver adequadamente estruturado, o Contador será obrigado a fazer verdadeiros malabarismos para deixar a coisa mais ou menos apresentável a SEFAZ. Claro, óbvio, é quase impossível deixar tudo redondinho.

O comerciante, portanto, não tem outra opção a não ser dá um jeito de se enquadrar na legislação fisco/tributária. É preciso investir em treinamento e capacitação, visto que os assuntos fiscais estão pautando todas as ações das empresas. Grandes ou pequenas, todo mundo tem que dá seus pulos e assim buscar soluções para se adequar a esse novo mundo (perigoso e desafiador).

terça-feira, 16 de junho de 2015

CARTA MAGNA COMPLETA 800 ANOS

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 16/06/2015 - A214
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15 de junho de 1215. Há exatamente 800 anos o rei inglês João-Sem-Terra assinou a famosa “Magna Charta Libertatum”, inaugurando assim a cidadania e o que posteriormente seria conhecido como Estado de Direito. Pode-se afirmar também que ela norteou os princípios da civilização ocidental. Como bem frisou o Professor Heleno Torres, este documento singular, sabe-se, de há muito se tornou motivo pelo qual todos os povos vivem em liberdade nos dias atuais, quando cada homem e cada mulher submetem-se unicamente à legalidade e à Constituição, sob a égide dos valores da igualdade e da liberdade, o que foi de capital relevo para a matéria tributária.

Dando continuidade ao discurso do Professor Torres, Para bem entender a importância da “Magna Charta”, basta verificar o texto da “Clause 39” onde consta: “no free man shall be imprisoned or deprived of his lands except by judgement of his peers or by the law of the land”. Nossa Constituição prescreve, no seu artigo 5º, LIV, quase que numa tradução direta, que ninguém será privado de seus bens sem o devido processo legal. Ou no inciso XXXIX, para os fins punitivos: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. A “lei da terra”, aprovada pelos representantes do povo (ainda que estes fossem os barões da época), seria a condição tanto para decretar a prisão quanto para privar alguém dos seus bens, que deveriam atender ao “direito” ou o “devido processo legal”. Nos dias que correm, a legalidade em matéria tributária parece ser um “lugar comum”, mas essa autorização legislativa para atividade financeira floresceu na Inglaterra do século XIII, pelo compromisso da “Magna Charta Libertatum”, que foi uma das primeiras fontes a evidenciar prevalência da liberdade nos limites da legalidade, com submissão do governante aos direitos dos que viviam sob seu domínio, segundo um “due process of Law (of the Land)”, e, no caso dos tributos, com exigência de prévio consentimento para a cobrança de impostos, segundo razões justificadas e razoáveis, inclusive com limites para as despesas.

Em maio deste ano o ministro Luís Roberto Barroso citou a Carta Magna ao proferir: “A proteção ao contribuinte remonta à origem do próprio constitucionalismo, quando passou a constar da Carta ao Rei João Sem-Terra que o povo é quem determina a medida do seu esforço. As garantias contra o poder de tributar evoluem e hoje o povo tem o poder de decidir e o direito de se preparar”.

Não à toa, vigora no Reino Unido o mais aprimorado sistema jurídico do mundo, justamente porque já de muitos séculos a sociedade algo-saxônica resolveu se organizar em torno da ideia de liberdade e de justiça para todos. Enquanto isso, nós ainda não temos formado por completo o nosso conceito de justiça, principalmente, justiça tributária. Por aqui, não se consegue enxergar a real fronteira ou limites do poder de tributar. A tática adotada pelos nossos legisladores é a da confusão embusteira das regras e a da própria morosidade do sistema legal como meio de exorbitar das suas competências sem que isso venha a afrontar diretamente as disposições constitucionais. A ministra Carmen Lúcia, do STF, chegou a afirmar que a “morosidade da Justiça interessa a alguém”.

Quanto à tática embusteira, o modus operandi se traduz no cipoal de normas tributárias enroscadas umas nas outras de modo a impedir que os raios de sol ilumine aquilo que o governo teima em manter na obscuridade. Na prática, tudo é meticulosamente arquitetado para confundir o contribuinte. Um dos recursos mais utilizados é a da multiplicidade de taxações que se acumulam e se repetem numa sequência exaustiva. Isso, fora o grande estratagema dos impostos POR DENTRO, onde um tributo acaba sendo base do outro. Tal mecanismo acaba mascarando a real carga tributária suportada pela população. Se todo o rol de cobranças fosse resumido à meia dúzia de tributos é de certo que seríamos tomados por uma guerra civil.

Um exemplo emblemático dessa maçaroca intrincada de sobreposições taxativas está na empresa que arca com o custo total de R$ 6.000,00 com um empregado, sendo R$ 4.000,00 a título de salário e R$ 2.000,00 na forma de encargos trabalhistas. Do empregado ainda é descontado R$ 1.200,00 com imposto de renda, INSS e contribuição sindical, restando líquido R$ R$ 2.800,00, o qual é utilizado para comprar coisas diversas. Nos bens de consumo vendidos no país estão embutidos, em média, 50% de impostos indiretos. Se não fossem esses tributos seria possível comprar o dobro de coisas. Dessa forma, dos R$ 2.800,00, metade foi novamente para o bolso do governo, restando assim, líquido de fato somente R$ 1.400,00 dos R$ 6.000,00 pagos pelo patrão. Resumo da ópera: 23% ficaram com o trabalhador e 77% com o governo. 


No dia 16 de junho de 2015 o presidente da Fecomércio/AM, Sr. Tadros, em reunião ordinária da entidade, teceu longos elogios ao meu artigo CARTA MAGNA COMPLETA 800 ANOS, chegando a ler o texto inteiro para os presentes além de entregar uma cópia do jornal para todos.




quinta-feira, 11 de junho de 2015

SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA ATORMENTA O COMERCIANTE

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Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 11/06/2015 - A001
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O ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, afirmou que o ICMS é o mais complexo dos tributos e a Substituição Tributária é a modalidade mais complexa do ICMS. Existe na União Europeia uma taxação semelhante ao nosso ICMS. Mas, por incrível que pareça, lá, os países membros não podem alterar as regras básicas e as alíquotas do IVA (Imposto sobre Valor Agregado). Ou seja, mesmo umas sendo soberanas em relação às outras, as nações do bloco europeu respeitam as normas e com isso garantem um razoável grau de harmonia tributária. Já, entre os estados brasileiros, os atritos são infindáveis, resultando na malfadada guerra fiscal e num cipoal de incompreensíveis normatizações. Segundo matéria da Folha de São Paulo (27/8/12), as regras do ICMS mudaram em média vinte vezes por dia em todo o país. Se consultarmos a Seção II do nosso Código Tributário Nacional (Lei 5.172/66) encontraremos a palavra REVOGADO escrita 50 vezes em somente sete artigos (do 52 ao 58). Esses sete artigos traçam as linhas gerais de funcionamento do ICMS no país. Um estudo do IBPT de 2013 revelou que desde a promulgação da nossa Carta Magna foram publicadas no Brasil 309.147 normas tributárias, sendo que somente 23.412 estavam em vigor até o dia 01/10/2013.

É exatamente essa colossal e indecifrável montanha de regras tributárias que o agente fiscalizador quer que o comerciante engula inteirinha. O próprio Fisco não entende um milésimo daquilo que ele mesmo criou, mas o contribuinte do imposto é obrigado a saber tudo. A pergunta que fica no ar é a seguinte: Como saber tudo de uma coisa que não tem pé nem cabeça?

Pois é. Essa tempestade destruidora da ordem econômica e social tem um nome e ela se chama INSEGURANÇA JURÍDICA. Some-se a isso os recorrentes e ostensivos problemas de gestão do poder público e assim teremos o famoso CUSTO BRASIL, responsável por tantos entraves ao desenvolvimento econômico e social da nação brasileira.

Consciente desse estado de coisas, a alternativa que resta ao comerciante é se movimentar nesse terreno movediço de forma a não cair no fosso das armadilhas fiscais. O jeito é buscar informações e conhecimentos tributários por conta própria. A complexidade das operações com mercadorias e o aumento do poder de fogo da SEFAZ criou um ambiente de altíssimo risco ao patrimônio das empresas onde somente conseguirá sobreviver aquelas que investirem pesado na organização dos seus processos operacionais.

Em meio a tantos ventos contrários, a Substituição Tributária do ICMS chegou tempos atrás para tumultuar os controles fiscais do comerciante, principalmente o dono do pequeno negócio. Pra início de conversa, o ICMS ST não é uma modalidade de ICMS e sim uma nova matriz tributária. A legislação diz que é um tributo aplicável sobre uma presumida venda futura. Só, que na prática, é um imposto sobre compras. Daí, o motivo de tanto imbróglio em torno da sua aceitação e amparo legal. O lado positivo dessa modalidade de cobrança tributária está no virtual encerramento do processo fiscalizatório no momento da compra, evitando assim aporrinhações futuras. O lado negativo está na mistureba do que é e do que não é ST. Lá, nos primórdios, a cobrança era restrita a poucos itens, tais quais, medicamentos, pneus, bebidas, combustíveis etc. Depois, a voracidade arrecadatória levou o Fisco a mergulhar no varejão de produtos diversificados. A coisa toda embaralhou dum jeito que ficou extremamente difícil para o pequeno comerciante separar o joio do trigo. O maior prejudicado desse salseiro é o microempresário que acaba pagando ICMS ST por ocasião da compra e pagando novamente quando todo o seu faturamento é utilizado para elaboração da guia unificada do Simples Nacional.

Tanta confusão promovida pela legislação do ICMS só leva o comerciante a pagar mais do que o devido. E escapar desse modelo perverso de tributação duplicada exige organização e preparo técnico de todos os envolvidos na operação, que vai desde o encarregado das compras, passando pelo almoxarife, gerente de vendas, encarregado das finanças etc. A lei está obrigando todo mundo a ser um Contador.


terça-feira, 9 de junho de 2015

UM NOVO PARADIGMA SE AVIZINHA

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 09/06/2015 - A213

A velha mania do jeitinho e do improviso parece estar com os dias contados. Os bagunceiros e desorganizados serão obrigados a mudar radicalmente de postura com a chegada do eSocial, uma vez que esse programa governamental tornará síncrono e padronizado o conjunto de informações trabalhistas e previdenciárias transmitido aos órgãos competentes. Portanto, o momento de começar a arrumar a casa é agora; deixar para a última hora é a mais imprudente das atitudes. A recomendação do Consultor Luciano Feltrin inclui uma completa revisão das rotinas e dos processos da área de Recursos Humanos. De início, é necessário ter certeza de que os documentos dos empregados estejam plenamente atualizados. Por exemplo, é aconselhável passar um pente fino nas atualizações de sobrenomes, tais quais, solteiro X casado X divorciado etc. É preciso se debruçar nos detalhes de endereço, CEP, CPF, RG, data de contratação; atualização de férias, de salário, de dependentes etc.

Como já foi amplamente divulgado, o eSocial não tem como finalidade criar ou modificar normatizações trabalhistas, mas somente fazer valer o que já existe na CLT. Por incrível que possa parecer, o gigantesco desafio é simplesmente alinhar os eventos na ordem descrita pela legislação. O andamento do projeto eSocial acabou revelando que os órgãos de controle também tinham imensas dificuldades, tanto na observância das normatizações que eram sujeitos quanto na integração de informações entre outros agentes correlatos. Ou seja, os próprios entes governamentais utilizavam idiomas diferentes para conversar entre si (um não entendia o outro). Resumo da ópera, o poder público estava mais bagunçado do que as empresas. Por isso é que a coisa demorou tanto a engrenar. Essa situação ficou evidenciada no evento do dia 26/03/2015 na sede do Conselho Federal de Contabilidade com as empresas piloto e o comitê gestor do projeto. Nessa reunião, os representantes das empresas demonstraram estar bem mais ambientados com as minúcias do projeto eSocial do que os agentes do governo ali presentes. Mesmo assim, a equipe governamental é composta por técnicos plenamente qualificados para fazer a coisa toda acontecer.

Apesar da complexidade e da envergadura do projeto, a tendência é que as dificuldades sejam superadas, uma vez que o governo está apostando todas as fichas nesse empreendimento. Não é pra menos. Segundo o Consultor Vladimir Goitia, a Receita Federal prevê um aumento de pelo menos R$ 20 bilhões na arrecadação por ano com o sistema, que, por ser on-line, facilitará o cruzamento de quase 17 milhões de empresas e de cerca de sete milhões de empregadores domésticos. A movimentação de informações trabalhistas num único repositório do SPED possibilitará o cruzamento de uma infinidade de dados com a detecção de eventos sobrepostos, paralelos, duplicados ou conflituosos. Estando em pleno funcionamento, será possível desbaratar esquemas volumosos de fraudes e de desvios muito comuns atualmente. De imediato, o problema maior será lidar com o choque de realidade organizacional. O brasileiro não é habituado ao cumprimento rigoroso do texto da lei, até mesmo porque a nossa legislação é maluca.

Choque maior será o de gestão. Principalmente no que diz respeito a políticas mal elaboradas ou procedimentos mal desenhados de gestão de pessoas. Se tais elementos não forem trabalhados adequada e tempestivamente as empresas, principalmente as grandes, sofrerão com uma chuva de conflitos entre departamentos. Portanto, cabe aos gestores a missão de se antecipar às possíveis consequências negativas originadas do descaso com o projeto eSocial. O momento é de pensar estrategicamente e de desenvolver uma visão sistêmica de todos os processos operacionais da empresa e também de mapear a interação dinâmica de diversas variáveis que desembocam no setor de Recursos Humanos.

Quanto aos pequenos negócios, a dificuldade será mesmo a de acordar para a situação, visto que o termo eSocial ainda é para muitos um conceito nebuloso e distante da vida real. O eSocial não é um projeto relacionado somente à empresa X governo, uma vez que o protagonista da história toda é o empregado. É fato indiscutível que a maioria absoluta dos trabalhadores permanece mergulhada na mais completa ignorância sobre o assunto.



quarta-feira, 3 de junho de 2015


terça-feira, 2 de junho de 2015

CAPACITAR É SOBRESSAIR AO CONCORRENTE

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 02/06/2015 - A212

Um estudo da Folha de São Paulo publicado domingo passado traz uma série de dados desanimadores sobre o impacto negativo da baixa qualificação profissional na economia do país. São necessários quatro brasileiros trabalhando intensamente para atingir o mesmo nível de produtividade de um norte americano. Esse estado de coisas evidencia um quadro preocupante de uma nação ansiosa por ingressar no clube das grandes potências. Segundo a reportagem, nossa média de estudo é de sete anos enquanto que nos EUA são de 12 a 13 anos. Isso, sem contar a expressiva diferença da qualidade do ensino. Para piorar nossa imagem, temos um dos mais baixos níveis de investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico do planeta; as universidades estão sucateadas e abarrotadas de empecilhos que dificultam as atividades mais elementares. Outro fator destoante está relacionado à média de treinamento anual que recebe um trabalhador americano (140 horas) de um brasileiro (30 horas). Os problemas se acumulam, uma vez que outras variáveis ruins contribuem para baixar os nossos índices a níveis vergonhosos, tais quais juros altos, burocracia extremada, carga tributária extorsiva, corrupção sistêmica etc., etc. 

Tantas dificuldades só isolam o Brasil da comunidade internacional. Enquanto corremos atrás do próprio rabo nos engalfinhando com briguinhas e joguetes políticos, o resto do mundo se apressa na correção de entraves econômicos e sociais para angariar vantagens competitivas. Sofremos de um mal incurável, que é o apego a discussões infinitas que levam a lugar nenhum. Nossos políticos não decidem nada; juízes colam os glúteos em processos importantíssimos sobre os rumos do sistema político; corruptos debocham do povo em cerimônias de casamento etc. Com tantas engrenagens desalinhadas queremos mesmo assim arrotar a empáfia de termos feito a melhor copa da FIFA, a qual deixou uma conta gigantesca por aqui enquanto bilhões de reais viajaram diretamente para o bolso dos cartolas internacionais. Tantas atrapalhadas só serviram para mostrar ao mundo o quanto somos amadores no gerenciamento e no cuidado da coisa pública. No final das contas, a festa acabou; os convidados voltaram felizes para suas casas, mas os elefantes brancos ficaram por aqui na forma de monumentos ao desperdício dos impostos. E ainda estamos satisfeitíssimos. Vai entender uma coisa dessas!!

Voltando às vacas magras da capacitação profissional, segundo a Folha, o baixo nível profissional no Brasil é destacado pelo Pesquisador Fernando Veloso, da FGV/Ibre, como um dos mais graves problemas para uma economia que precisa crescer e aumentar o padrão de vida da população. Daí, que pelo menos nessa questão específica, temos o poder de fazer a diferença. A palavra de ordem é Capacitação Profissional intensiva. Toda empresa deveria incorporar o espírito do aclamado escritor Peter Senge e das suas proposições sobre as organizações do aprendizado. Ou seja, já que o sistema educacional regular não cumpriu com o seu papel, só resta então ao patrão terminar a construção desse profissional incompleto. O jeito é investir pesado num programa constante e abrangente de Treinamentos, Palestras, Oficinas, Jogos Educativos etc. Alguns céticos podem até achar um erro despender tanto dinheiro nesses projetos, mas aqueles dirigentes antenados estão encontrando nessas iniciativas a saída para a crise financeira. O raciocínio é muito simples: um empregado bem qualificado produz mais e com melhor qualidade. Ponto final. 

Portanto, o departamento ou sala de treinamento deve ser tão importante quanto o departamento comercial. Ou seja, toda empresa deveria dispor de uma sala de aula para ser utilizada com frequência. Todo evento educativo deixa marcas no aluno. Assim e aos poucos a equipe vai ganhando musculatura suficientemente forte para superar a concorrência. 

No jogo dos negócios ganha o mais bem preparado. Pensamento estratégico, visão sistêmica, atitudes firmes e domínio das próprias competências podem forçar as demais mudanças conjunturais que dependem dos agentes externos. É preciso começar com o primeiro passo.