quarta-feira, 1 de junho de 2011

ADMINISTRAÇÃO DO CONSENSO

Reginaldo de Oliveira
@ucara
Publicado no Jornal do Commercio AM 31/05/2011
Artigos publicados

Fato corriqueiro é a prática de reuniões para tratar de assuntos relevantes, como por exemplo, a busca de solução de impasses quando todas as alternativas se mostram ruins. Há empresas que são viciadas em exaustivas e improdutivas reuniões, as quais são muitas vezes comandadas pelo chefe maior. De modo geral, os trabalhos são iniciados pela abordagem dos itens da pauta, donde ponto a ponto os assuntos vão sendo discutidos e analisados por diversos pontos de vista. Dessa forma espera-se que a matéria seja estratificada ao ponto de permitir a eliminação das possibilidades de uma decisão errada. Ledo engano. Infelizmente, a lógica racional é um ente arisco e volátil que só existe no terreno conceitual. A verdade é que somos criaturas impulsivas, parciais e egoístas. Ou seja, a nossa lógica é envolvida por outros sentimentos numa espécie de fagocitose. Daí, o risco da “análise dos diversos pontos de vista” não ser feita com sinceridade.

De modo subliminar, o que acontece nas reuniões é a imposição ao grupo de uma decisão já tomada. Os partícipes são induzidos de forma sutil ou não a adquirir um comportamento de manada. Isso pode ser perigoso para a organização quando, meio que a contragosto, as pessoas embarcam numa canoa furada. Agem-se assim porque o chefe faz uma propaganda maravilhosa da tal canoa. Por esse motivo ninguém se arrisca a contrariar o comandante. Pensam antes de tudo na manutenção dos seus empregos, mesmo que todos venham a afundar. Quantas e quantas pessoas ficam caladas em reuniões ao ouvirem verdadeiros descalabros! Afinal, ninguém em sã consciência vai colocar o pescoço na guilhotina nem se tornar alvo da arrogância daqueles que se acham donos da verdade.

Um evento de grande repercussão que ilustra muito bem a dificuldade de fazer valer a racionalidade é contado pelo Professor nova-iorquino Dan Ariely (HSM 86). “Quando o presidente Bush decidiu invadir o Iraque, reuniu seu gabinete, expôs o que pensava e perguntou a opinião de cada integrante. Ponha-se no lugar da terceira pessoa da roda: seu chefe acaba de dizer que quer invadir o Iraque e dois membros do gabinete disseram que estão de acordo. Não é provável que você se manifeste contrariamente”. Pode-se assim deduzir que administrar o consenso é mais difícil do que administrar o conflito; requer habilidades superiores e percepção aguçada para extrair a opinião sincera das pessoas.

Se for conduzida de modo saudável, os resultados de uma reunião podem ser extremamente benéficos para a organização. Ressalte-se que é importante manter uma postura autêntica não somente em reuniões, mas em todas as interações que ocorrem no ambiente de trabalho. Dessa forma, o potencial criativo e colaborativo das pessoas dá lugar às práticas demagógicas institucionalizadas, que só servem para aprisionar a organização nos porões da mediocridade.

Obviamente que não é nada simples fazer essa transição. Antes de tudo, é preciso coragem e desprendimento da alta gerência. O caminho pode está no desenvolvimento e implantação de uma política sustentada num código de ética e de conduta profissional que conquiste a confiança de todo mundo. É preciso convencer as pessoas de que elas não perderão o emprego se derem sua contribuição para a melhoria dos processos.

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