terça-feira, 16 de maio de 2017

REFORMA TRIBUTÁRIA PELA ÓTICA EMPRESARIAL


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 16 / 5 / 2017 - A295

O nosso sistema tributário é muito intrincado, cuja faceta mais perversa é representada pela ausência de clareza e de objetividade. São várias camadas de normas que se transpassam e se sobrepõem umas às outras. Procurar lógica nesse labirinto é testar os limites da sanidade humana. Por isso é que os engenheiros da SAP não conseguiram automatizar os processos fiscais da Petrobras. Esse fato levanta o seguinte questionamento: Se os mais caros cérebros do mundo não entenderam o nosso sistema tributário, como é que os aplicativos nacionais de gerenciamento fiscal podem ser funcionais se a legislação não tem lógica? É claro que não funcionam!! Os contadores sofrem horrores com a abacaxizada que brota dos sistemas informatizados de controle fiscal; é tela por cima de tela de parametrização que se multiplica numa dinâmica fatigante. Mesmo que se consiga fazer a configuração “correta”, vem o governo no dia seguinte com uma mudança radical a desmantelar todo o trabalho. E o pior de tudo é que diretores se aliam aos técnicos de informática pra jogar toda a culpa do mau funcionamento na imperícia dos contadores. Ninguém nunca culpa o governo.

A burocracia fiscal se expande numa crescente demanda por funcionários, mesas, cadeiras, computadores, orçamentos etc. Depois de super inflada ela se recusa a desinchar. Daí, que a tão discutida reforma tributária deve iniciar pela racionalização de todo o sistema. Pra começo de conversa, cada tributo deveria ter sua estrutura fechada num código específico, de modo que tudo ficasse circunscrito numa única peça legislativa. Com isso, o contribuinte se livraria de consultar duzentas mil referências técnicas para formar um entendimento normativo.

O alvo preferencial deve ser a burocracia exacerbada. A raiz de todos os males se chama burocracia porque ela camufla a corrupção, fomenta as injustiças e protege os criminosos. Bandidos e maus-caracteres de todas as colorações se alimentam da lama burocrática.

Por exemplo, grande parte do custo fiscal das empresas despencaria se sumisse do mapa brasileiro a tal da não-cumulatividade. Pelo mesmo motivo, seria dispensada a metade dos funcionários das agências fazendárias. Quase todas as contendas e grande parte da peregrinação de processos que tramita de sala em sala nos órgãos fazendários são originados de questões relacionadas ao mecanismo da não-cumulatividade.

Não se pode imaginar viável a redução da carga tributária sem antes tratar do inchaço normativo. Outra medida importante a ser tomada tem a ver com a construção técnica de proposições a partir da iniciativa do contribuinte. Mesmo porque, o governo, por iniciativa própria, nunca irá fazer nada que leve ao desencharco da máquina burocrática porque isso implicaria no desmonte de várias estruturas ociosas. O que se observa a partir da movimentação dos burocratas é que o instinto de preservação fala mais alto; os burocratas jamais irão combater a burocracia. Da mesma forma, os corruptos jamais irão erradicar a corrupção. Por tudo isso é que o ataque tem que vir de fora do circuito viciado.

Entidades empresariais de vários quadrantes poderiam se unir em torno de um núcleo de altos estudos tributários para reescrever toda a nossa legislação tributária. Ao redor desse grande projeto se reuniria os maiores especialistas do país; seriam muitas células trabalhando intensamente em todos os detalhes técnicos até deixar tudo pronto e acabado. Claro, pela grandiosidade da empreitada é provável que o resultado final demorasse muito a se consolidar. Mas é bom lembrar que os ultra mega sistemas computacionais são estruturas colossais de instruções lógicas que no final das contas se transformam num produto comercial. Imagine a quantidade de linhas do sistema Windows? Ou do R3(SAP)? Ou da base de dados do Google? Daí, que é perfeitamente viável reescrever o nosso sistema tributário a partir da ótica empresarial. Outra vitoriosa metodologia de trabalho foi utilizada no mapeamento do genoma humano.

A complexidade, por maior que seja, pode ser construída, mapeada e gerenciada. Esse núcleo de altos estudos tributários poderia copiar a tecnologia procedimental das empresas de informática para reescrever o nosso sistema tributário. Tudo é uma questão de organização da classe empresarial, que, talvez, não seja assim tão convicta e tão organizada. Porque, se fosse, essa reforma já teria sido consumada há muito tempo. Curta Doutor imposto no Facebook. 








  


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