terça-feira, 6 de junho de 2017

SANEAMENTO DO AMBIENTE POLÍTICO


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 6 / 6 / 2017

Rios que por décadas receberam toneladas de esgoto acabaram por expulsar toda forma de vida saudável para o ser humano, restando apenas coisas asquerosas e nojentas, como vermes, lesmas, bactérias e pragas diversas. Ao longo das margens, outras criaturas repugnantes completam o pacote: ratos, baratas, urubus etc. Resgatar cursos d’água estragados pela poluição intensiva é uma verdadeira epopeia. A colossal tarefa de despoluição do rio Tâmisa (apelidado de O Grande Fedor) só se tornou possível devido ao esforço conjunto das autoridades inglesas. Mesmo assim, foram necessários 120 anos de investimento pesado para permitir o retorno de uma imensa quantidade de espécies de peixes antes dadas como desaparecidas. A emblemática recuperação desse rio poderia ser interpretada por muitos como um avanço civilizatório, uma vez que o povo deixou a podridão lá atrás, nos sombrios e fedorentos anos de desgraças sociais. A sociedade paulistana ainda se debate com o problema do rio Tietê, indicando assim que a solução está muito longe de ser alcançada.

Novamente, o assunto impeachment ocupa o noticiário nacional, entupindo a internet com justificativas para sua efetivação. De fato, o Brasil está mergulhado numa crise política de proporções assustadoras. E os incessantes escândalos não dão um minuto de trégua para o governo nem descanso para uma população atônita de tanta roubalheira. Por certo, os nossos homens públicos estão mergulhados num fedorento lamaçal de vermes, lesmas, bactérias e pragas diversas. Trocando em miúdos, um ambiente tão cáustico e inóspito que somente ratos, baratas e urubus se sentem bem acomodados. O bombardeio diário não dá fôlego nem espaço para reformulações de discursos governamentais ou construção de propagandas televisivas destinadas a confundir o telespectador. As pessoas estão entorpecidas de frustração e ao mesmo tempo consumidas pela desesperança de um dia ver o poder público livre da corrupção. Ou seja, pelo andar da carruagem ninguém em sã consciência consegue enxergar uma saída para a enrascada que o governo se meteu. O estrago está feito; o leite derramou.

O brasileiro simplesmente não tem opção. Se sairmos do fogo vamos cair numa frigideira de óleo quente, uma vez que o substituto imediato do chefe da nação é tão ou mais asqueroso. O outro comandante do congresso nacional é mais um famigerado personagem que se sujou completamente perante a nação. Dessa forma, há de se questionar o deteriorado caráter dos nossos homens públicos. Parece que nada de bom pode ser aproveitado; como se tudo fosse farinha do mesmo saco. Outro fato que merece reflexão: Todo brasileiro é bandido ou somente o bandido abraça a causa pública? Muita gente diz que pessoas sérias e honestas costumam fugir de tudo que envolve assuntos políticos, tentando assim não se contaminar com gente corrupta. É o que se pode chamar de vício inerente. Traduzindo, uma coisa é parte inseparável da outra.

Alguém pode perguntar: “Onde estão os homens bons?” Outros podem dizer: “Em vez de reclamar, por que não participar ativamente do sistema político partidário?” A resposta pode está no fato de que um peixe sadio colocado no rio Tietê morreria em pouco tempo. A sujeira do ambiente é tamanha que mesmo toneladas de peixes saudáveis não seriam suficientes para acabar com a poluição. O procedimento correto a ser adotado é: LIMPAR O RIO. À medida que a sujeira for saneada os peixes naturalmente voltariam para um ambiente mais saudável, mais habitável. E graças aos céus é isso que no momento estamos vivenciando no Brasil. Todo esse turbulento processo de investigações e encarceramentos é fundamental para conferir um choque de realidade aos corruptos. É como utilizar dois litros de creolina para limpar um banheiro emporcalhado. Esse é o caminho. Vamos rezar todo dia para que as forças sombrias da nossa política não quebrem o andamento dos trabalhos da Polícia Federal e, principalmente, do Juiz Sérgio Moro. Sabemos nós que o alvo da operação Lava Jato é uma corja de bandidos poderosos e altamente entranhados em tudo quanto é instância e esfera do poder estatal. Só Deus sabe o tamanho e a amplitude dos esquemas criminosos que dominam as relações entre o público e o privado.


A sociedade inglesa levou 120 anos para se livrar da sujeira do rio Tâmisa. Nós começamos há pouco tempo o nosso processo de efetivo combate à corrupção. Se quisermos de fato uma sociedade mais justa, poderemos sanear o nosso ambiente político num espaço de tempo não tão longo. Somente um ambiente político saudável poderá despertar o interesse dos homens verdadeiramente honestos e competentes. Só depois disso é que daremos o nosso salto civilizatório.


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