quinta-feira, 13 de agosto de 2009

GUERRA DO ARCO-ÍRIS

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 13/08/2009 página A3 - A022

Era uma vez três reinos que ficavam assentados em três grandes nuvens: o reino vermelho, o reino amarelo e o reino azul. Os integrantes de uma localidade podiam avistar ao longe os dois vizinhos, mas não dispunham de tecnologia que permitisse o deslocamento de uma nação à outra. As pessoas estavam separadas por um profundo abismo. Cada cidadão era obrigado a contemplar, valorizar e defender a cor dominante do seu povo. No reino vermelho tudo era vermelho, as roupas, as joias, as paredes, os tapetes etc. Afinal de contas, o vermelho era lindo. No reino amarelo, da mesma forma. Os habitantes do reino azul eram ardorosamente fanáticos pela cor safira, sendo que, se alguém criasse um novo tom para o azul, logo se transformava numa celebridade instantânea.

Numa bela manhã de outono o cientista mais famoso do reino amarelo criou um revolucionário equipamento de transporte aéreo. Então, logo em seguida ele resolveu fazer um teste: viajou no protótipo até o reino vermelho. Chegando lá, encontrou uma bela mulher de lábios saborosamente vermelhos que, obviamente, vestia um magnífico vestido vermelho. Os dois se apaixonaram de imediato e começaram a namorar. Uma denúncia anônima levou os agentes da lei a perseguir o casal até que foram apanhados em flagrante. A mulher foi presa, mas o homem fugiu para o reino amarelo levando consigo uma rosa vermelha que recebeu da sua amada. Estando de volta à sua terra natal, o inventor apresentou sua criação às autoridades que de imediato prepararam uma grande cerimônia para comemorar tão importante conquista. Eis que ao receber a premiação o homem exibiu a rosa vermelha para um grande público. O gesto chocou a todos. Por causa de tamanha heresia o inventor foi do céu ao inferno em poucos minutos, sendo recolhido de pronto a uma penitenciária de segurança máxima.

Com a tecnologia de transporte dominada, um imenso contingente de soldados amarelos partiu para a conquista do reino vermelho. Mal sabiam eles que o reino azul estava fazendo a mesma coisa. Ou seja, o reino vermelho estava sendo simultaneamente atacado pelos dois vizinhos. Cada grupamento desembarcou no terreno inimigo armado até os dentes com pincéis e latas de tinta. O objetivo era mudar a cor de tudo que fosse encontrado pela frente. Os bravos soldados vermelhos resistiram heroicamente. Em meio a tantos jatos de tinta aconteceu um fenômeno inusitado, que foi a explosão de belíssimas outras cores desconhecidas dos presentes até então. Por isso, todos pararam e ficaram encantados com o que viram. Os combatentes nunca poderiam imaginar que o trabalho conjunto poderia resultar em possibilidades tão diversificadas. Ou seja, em vez de passar a vida inteira presos numa vida monocromática, eles agora poderiam interagir e trocar experiências para conferir mais alegria e enriquecimento às suas atividades diárias. Desse dia em diante os reinos passaram a ser multicoloridos.

Essa história, que fez sucesso na forma de vídeo, mostra como as pessoas tendem a se fechar em grupos herméticos. Nas empresas, constroem os famosos setores estanque, onde proliferam rivalidades e hostilidades entre colegas de trabalho. Até a comunicação entre indivíduos de grupos rivais tende ser meramente protocolar e limitada, concorrendo assim para o isolamento dos funcionários. Cada grupo faz um imenso esforço para ser mais importante do que o vizinho. Nessa disputa, diversas armas são usadas e cada conquista é comemorada, gerando ciúme e desavença nos demais. A rivalidade mais comum acontece entre o pessoal da administração e o da produção. Geralmente, os funcionários da administração são os queridinhos da diretoria enquanto que os empregados da produção ficam meio que esquecidos em galpões imensos, quentes e barulhentos.

Do seu posto de trabalho numa linha de produção o operário levanta o olhar e observa através de uma janela ao longe a ocorrência de uma festinha de aniversário da secretária do chefe. Ele vê pessoas sorrindo e se regalando com salgadinhos, tortas e refrigerantes numa sala aconchegante. De repente seu supervisor dá um grito e manda se concentrar no serviço. Com a atenção de volta ao seu trabalho o operário reflete sobre sua condição de cidadão de segunda classe, que nunca terá o mesmo tratamento do pessoal da administração.


A rivalidade entre setores só enfraquece a empresa e, de alguma forma ou em algum momento, todos são prejudicados. A maioria desconhece as infinitas possibilidades de crescimento profissional e de melhoria do ambiente de trabalho caso resolvessem se comportar como um único grande grupo que pudesse compartilhar experiências e cerrar fileiras numa batalha em prol do bem comum.


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