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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 13/08/2009 página A3 - A022
Era
uma vez três reinos que ficavam assentados em três grandes nuvens: o reino
vermelho, o reino amarelo e o reino azul. Os integrantes de uma localidade
podiam avistar ao longe os dois vizinhos, mas não dispunham de tecnologia que permitisse
o deslocamento de uma nação à outra. As pessoas estavam separadas por um
profundo abismo. Cada cidadão era obrigado a contemplar, valorizar e defender a
cor dominante do seu povo. No reino vermelho tudo era vermelho, as roupas, as joias,
as paredes, os tapetes etc. Afinal de contas, o vermelho era lindo. No reino
amarelo, da mesma forma. Os habitantes do reino azul eram ardorosamente
fanáticos pela cor safira, sendo que, se alguém criasse um novo tom para o azul,
logo se transformava numa celebridade instantânea.
Numa
bela manhã de outono o cientista mais famoso do reino amarelo criou um revolucionário
equipamento de transporte aéreo. Então, logo em seguida ele resolveu fazer um
teste: viajou no protótipo até o reino vermelho. Chegando lá, encontrou uma
bela mulher de lábios saborosamente vermelhos que, obviamente, vestia um
magnífico vestido vermelho. Os dois se apaixonaram de imediato e começaram a
namorar. Uma denúncia anônima levou os agentes da lei a perseguir o casal até
que foram apanhados em flagrante. A mulher foi presa, mas o homem fugiu para o
reino amarelo levando consigo uma rosa vermelha que recebeu da sua amada. Estando
de volta à sua terra natal, o inventor apresentou sua criação às autoridades
que de imediato prepararam uma grande cerimônia para comemorar tão importante
conquista. Eis que ao receber a premiação o homem exibiu a rosa vermelha para
um grande público. O gesto chocou a todos. Por causa de tamanha heresia o
inventor foi do céu ao inferno em poucos minutos, sendo recolhido de pronto a
uma penitenciária de segurança máxima.
Com
a tecnologia de transporte dominada, um imenso contingente de soldados amarelos
partiu para a conquista do reino vermelho. Mal sabiam eles que o reino azul
estava fazendo a mesma coisa. Ou seja, o reino vermelho estava sendo
simultaneamente atacado pelos dois vizinhos. Cada grupamento desembarcou no
terreno inimigo armado até os dentes com pincéis e latas de tinta. O objetivo
era mudar a cor de tudo que fosse encontrado pela frente. Os bravos soldados
vermelhos resistiram heroicamente. Em meio a tantos jatos de tinta aconteceu um
fenômeno inusitado, que foi a explosão de belíssimas outras cores desconhecidas
dos presentes até então. Por isso, todos pararam e ficaram encantados com o que
viram. Os combatentes nunca poderiam imaginar que o trabalho conjunto poderia
resultar em possibilidades tão diversificadas. Ou seja, em vez de passar a vida
inteira presos numa vida monocromática, eles agora poderiam interagir e trocar
experiências para conferir mais alegria e enriquecimento às suas atividades
diárias. Desse dia em diante os reinos passaram a ser multicoloridos.
Essa
história, que fez sucesso na forma de vídeo, mostra como as pessoas tendem a se
fechar em grupos herméticos. Nas empresas, constroem os famosos setores
estanque, onde proliferam rivalidades e hostilidades entre colegas de trabalho.
Até a comunicação entre indivíduos de grupos rivais tende ser meramente protocolar
e limitada, concorrendo assim para o isolamento dos funcionários. Cada grupo
faz um imenso esforço para ser mais importante do que o vizinho. Nessa disputa,
diversas armas são usadas e cada conquista é comemorada, gerando ciúme e desavença
nos demais. A rivalidade mais comum acontece entre o pessoal da administração e
o da produção. Geralmente, os funcionários da administração são os queridinhos
da diretoria enquanto que os empregados da produção ficam meio que esquecidos
em galpões imensos, quentes e barulhentos.
Do
seu posto de trabalho numa linha de produção o operário levanta o olhar e observa
através de uma janela ao longe a ocorrência de uma festinha de aniversário da
secretária do chefe. Ele vê pessoas sorrindo e se regalando com salgadinhos,
tortas e refrigerantes numa sala aconchegante. De repente seu supervisor dá um
grito e manda se concentrar no serviço. Com a atenção de volta ao seu trabalho o
operário reflete sobre sua condição de cidadão de segunda classe, que nunca
terá o mesmo tratamento do pessoal da administração.
A
rivalidade entre setores só enfraquece a empresa e, de alguma forma ou em algum
momento, todos são prejudicados. A maioria desconhece as infinitas possibilidades
de crescimento profissional e de melhoria do ambiente de trabalho caso
resolvessem se comportar como um único grande grupo que pudesse compartilhar
experiências e cerrar fileiras numa batalha em prol do bem comum.
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