Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio em 08/11/2011
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Instalou-se no país uma sinuosa campanha em prol da volta da famigerada CPMF. Os articuladores desse movimento estão se utilizando da velha tática de ir comendo o mingau quente pelas beiradas: é uma fala aqui, uma menção ali, um comentário acolá etc.; tudo feito com o objetivo de ir amansando o povo até haver espaço suficiente para o Fisco desferir o golpe fatal. A mídia tem contribuído bastante para esse movimento através da veiculação de reportagens que mostram situações escabrosas da saúde nos quatro cantos do nosso Brasil. O cidadão é bombardeado em um dado momento com cenas chocantes de pacientes morrendo nas filas de atendimento e logo em seguida assiste ao discurso de um figurante de Brasília insistindo na tese de que a única solução para o problema da saúde é abocanhar o bolso já todo mordido do contribuinte brasileiro.
Um fato por demais curioso não é divulgado com tanta veemência pelos meios de comunicação, que é o galopante aumento da arrecadação de impostos, taxas e contribuições. Não é também divulgado que após o corte da CPMF o nível de arrecadação subiu muito, resultado da eficiência dos mecanismos de acuamento do contribuinte cujo símbolo maior é o projeto SPED. Felizmente, a sociedade brasileira está acordando para o maior de todos os problemas e a raiz de todos os malefícios que inviabiliza qualquer projeto de futuro. A corrupção passou a ser motivo de manifestações organizadas por uma infinidade de pessoas cansadas da bandalheira institucionalizada e patrocinada pelo setor público.
O que espanta o observador um pouco mais atento é o fato do governo não dar absolutamente nenhum sinal de que está efetivamente combatendo a corrupção. A mensagem constantemente captada pelos radares da população brasileira é de que a festa dos corruptos está longe de acabar. Casos e mais casos escandalosos de corrupção não param de estampar capas de jornais e revistas. Parece pipoca estourando na panela. Mesmo assim, nenhuma notícia concreta de punição é ouvida pelo desacreditado e desamparado cidadão brasileiro. Governo entra, governo sai e o que se vê e ouve é muito discurso e pouca ação.
Segundo recente reportagem da Revista Veja, somente 7 centavos é recuperado de cada 100 reais roubados. A mesma reportagem afirma que uma análise feita pela Controladoria Geral da União mostrou que a probabilidade de um funcionário corrupto ser condenado é de menos de 5%; a possibilidade de cumprir prisão é quase zero. Ou seja, não há como deixar de imaginar a existência de um mirabolante e gigantesco esquema de fomento e estímulo à corrupção. É como se vivêssemos num Estado cujos ossos do seu esqueleto é feito de corrupção. O músculo do coração do Brasil é feito de corrupção. O principal componente do sangue que corre nas veias da nação é a corrupção. O ar que todos respiramos está causticamente carregado de corrupção. A corrupção está nas frutas, no refrigerante, no sabonete, no asfalto das ruas, no cimento das paredes, na energia elétrica, nas roupas íntimas etc. Ou seja, um pingo de seriedade nos programas de combate à corrupção seria suficiente para fazer aparecer uma montanha de dinheiro para a saúde.
Esse estado de coisas lembra a história do operário de uma obra que por um ano não lavou a rede em que dormia. No dia em que a dita rede foi colocada de molho na água com sabão em pó ela se esfiapou em vários pedacinhos de tecido. Ou seja, o grude das costas sujas do operário se impregnou de tal forma no algodão da rede que não pôde mais ser retirado sem que o tecido fosse destruído. Será que é a corrupção que mantém o Brasil de pé? Será que se extrairmos os corruptos do Congresso Nacional o prédio vai cair devido aos espaços corroídos pelos cupins que hoje lá estão?
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