Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 26/11/2015 - A019
Fato
mais do que comum é o contribuinte recorrer aos plantões fiscais da vida todas
as vezes que se depara com dúvidas sobre aplicação de procedimentos tributários.
O enredo é sempre o mesmo: O questionamento é apresentado ao plantonista, que o
interpreta, sentenciando de imediato um entendimento enviesado e parcial,
restando ao contribuinte engolir seco e calado. A orientação é acatada e
incorporada à rotina normal de trabalho. Quando, posteriormente, alguém indaga
o motivo da adoção deste ou doutro procedimento, de imediato ouve em alto e bom
som que foram ordens do fiscal. Ou seja, é o mesmo que dizer “Deus desceu do
céu e pessoalmente ordenou”. Ponto Final.
O
ponto central da questão tem a ver com o antagonismo das partes envolvidas, tal
qual seja, fisco e contribuinte. Um, pretende arrecadar o máximo possível e o
outro quer pagar o mínimo que puder. Essa relação é essencialmente conflituosa
– não tem como ser de outra maneira. E o instrumento capaz de equilibrar interesses
tão divergentes é a legislação tributária. A Lei é que deveria nortear as ações
tanto do fisco quanto do contribuinte. O problema é que não temos uma cultura
legalista. Prevalece ainda a força e o peso da autoridade que se coloca acima
de qualquer coisa, evocando traços rançosos da ditatura militar. O agente
fiscal da SEFAZ, por exemplo, não tolera de forma alguma ser contrariado, não
importando quão técnicos e consistentes sejam os argumentos utilizados numa
discussão tributária.
A
própria lei é confusa e obscurecida; tudo feito sob medida para não dizer nada
com nada. Se a lei não é objetiva, abre-se assim espaço para o subjetivismo e para
o autoritarismo do funcionário da SEFAZ. O legislador, por sua vez, é
essencialmente um manipulador maquiavélico – ele precisa encerrar traços
psicopatas e esquizofrênicos. Psicopata, por ter plena consciência das
perversidades contidas nas entrelinhas das redações confusas que vão prejudicar
muita gente. E esquizofrênico, por antever cenários diversificados, maquinando antecipadamente
os meios de neutralizar as possíveis ações do contribuinte.
O
fisco conta com a rarefeita cultura litigiosa da classe empresarial. Conta
também com a distância que os contadores mantêm da literatura tributária. O
fisco sabe que poucas empresas possuem assessoria jurídica; sabe também que
muitas estruturas administrativas carecem de profissionalismo e organização técnica.
Empresas desorganizadas são alvos preferenciais para a SEFAZ pintar e bordar,
com cobranças abusivas e péssimo atendimento dos seus prepostos.
Cabe
ao contribuinte a faculdade de se libertar do cativeiro imposto pelo fisco, mediante
investimento pesado na profissionalização da gestão fiscal do negócio. É bom
frisar que o funcionário arrogante do ente tributante pouco conhece a
legislação que deveria conhecer. Por esse motivo, um grande contingente de
contribuintes bem preparados poderia quebrar a ditatura fiscal da SEFAZ.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua mensagem será publicada assim que for liberada. Grato.