Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 12 / 7 / 2016 - A259
O
governo resolve aumentar a taxa do IPVA em 50%. Esse fato hipotético assanha a
mídia em geral, com muitas reportagens e destaque nos telejornais. Por dias e
dias uma série de reclamações e justificativas se sucede na televisão e na
internet. Enquanto o quebra-pau se desenvolve no ringue entre Consumidor e
Sefaz, o dono da concessionária de veículos acompanha a discussão de longe. O
presidente da federação das montadoras de automóveis nem sequer é procurado por
repórter algum.
Quem
paga IPVA é o proprietário de veículo automotor. Quem paga IPTU é o
proprietário de imóvel. Quem paga ICMS é o consumidor de produtos. É preciso
ter veículo para se tornar contribuinte do IPVA; é preciso ter imóvel para
pagar IPTU; é preciso consumir para pagar ICMS. O alvo dessas taxações é o
proprietário de veículo, é o proprietário de imóvel, é o consumidor de
produtos. Tanto o vendedor do imóvel quanto o vendedor do veículo não tem nada
a ver com IPTU nem com IPVA. Isso é responsabilidade do comprador. Nos EUA o,
digamos, “ICMS”, tem o mesmo tratamento do nosso IPVA. Isto é, o consumidor que
se vire com o governo. O comerciante fica fora da briga taxativa. O comerciante
tem as suas próprias obrigações para com o Fisco, como, por exemplo, a
declaração de imposto de renda. De fato, é assim que deve ser. Nos EUA, o preço
do produto constante na etiqueta é somente o preço do produto. O imposto é
cobrado posteriormente; no ato de emissão da nota fiscal. Tal procedimento
lembra alguns dos nossos restaurantes que acrescentam dez por cento de taxa de
serviço na conta entregue ao cliente. Resumo da ópera: Uma coisa é separada da
outra.
Pois
é. E o que acontece na chafurdolândia apelidada de Brasil? O governo obriga o
comerciante a enganar o consumidor. Explica-se. Nas Lojas Americanas o
videogame Playstation4 custa R$ 1.998. Informação errada. Nos EUA, o consumidor
entra na loja, namora o equipamento, vê o preço de US$ 249, resolve comprar, vai
ao caixa e em seguida tira do bolso US$ 266 para efetuar o pagamento (249 mais
o “ICMS“ de 17). Se no Brasil a coisa funcionasse da mesma forma, o preço nas
Lojas Americanas seria de R$ 560. Somente no momento de fechar a compra é que
apareceria o imposto no valor de R$ 1.438, totalizando a operação em R$ 1.998.
Por incrível que pareça, a carga tributária escondida dentro do videogame é de
72% (fonte: IBPT). Imagine então uma presepada dessas nos Estados Unidos. Era
guerra civil na certa. Por isso é que o governo brasileiro cria uma monumental
complexidade normativa, justamente para negar a informação tributária ao
consumidor. Pra dá um ar de legalidade nesse chafurdo normativo, a legislação
inventou um tal de “contribuinte de fato (consumidor)” e um tal de
“contribuinte de direito (comerciante)”. Ou seja, quebrou o coitado em dois
pedaços. No caso do sistema de substituição tributária, quebrou em três pedaços
ao instituir a figura do “responsável não contribuinte” (interpretação
doutrinária do artigo 121 CTN). Troço de doido!!
E
o que está acontecendo agora com o Pis/Cofins? A Receita Federal quer triplicar
a carga – dos atuais 3,65 para 9,25 por cento (lucro presumido). O fato mais
insano dessa situação rocambolesca é a inacreditável discussão de repasse OU
NÃO ao preço dos produtos. A Receita Federal insiste na tese de que o consumidor
não será prejudicado. Ao mesmo tempo, transmite a mensagem de que a remarcação
é uma faculdade do empresário. Puro cinismo, pura demagogia. É LÓGICO que o
preço vai aumentar!!! Imposto e produto são coisas totalmente diferentes. O que
o comerciante faz é colocar um, ao lado do outro, e depois cobrar do cliente a
soma dos dois. Se não fizer a remarcação ele vai pagar um imposto que não é seu.
Quem deve pagar Pis/Cofins não é o comerciante, é o consumidor. O comerciante
apenas é obrigado por lei a meter a mão no bolso do consumidor e depois
entregar o dinheiro para a Receita Federal. Dessa forma, quem fica com as mãos
sujas perante o povo é o comerciante. O Fisco posa de herói que chuta os
fundilhos dos vilões sonegadores.
Ser
enganado é uma das mais amargas experiências humanas. É isso que acontece todas
as vezes que alguém consome algum produto em algum ponto do território
brasileiro. Nosso povo vive numa espécie de torpor, com a dupla dinâmica Sefaz/Rfb
tirando metade da comida de sua mesa na forma de impostos indiretos. A fome e a
desnutrição dos miseráveis se traduzem na mesa farta de funcionários públicos
que vivem à custa do imposto cobrado do operário e da faxineira. A parte mais
perversa desse jogo de sombras é o ato de fugir da responsabilidade pelas
desgraças sociais, jogando a culpa inteirinha nas costas do comerciante.
Portanto, as entidades representativas da sociedade têm a obrigação de iniciar uma
cruzada em prol da VERDADE TRIBUTÁRIA.
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