Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 11 / 10 / 2016 - A269
Eventos
depreciativos relatados na minissérie Justiça, da Rede Globo, mexeram com os
brios de policiais do Rio de Janeiro que protestaram contra a emissora. Reações
semelhantes acontecem em outras classes de profissionais quando se sentem
ofendidas. Enquanto a Globo retratou um policial vingativo que esconde drogas no
quintal da vizinha, outras produções achincalham sem dó nem piedade a
politicada em geral. Novelas, filmes, livros, humorísticos e até a internet
costumam descrever o político como a pior das criaturas presentes na face da
terra. Nenhum outro animal consegue ser tão destrutivo. Nem terroristas, nem
tigres famintos, nem uma nuvem de gafanhotos, nem o mosquito da dengue. Nada se
compara à devastação provocada pelo Homo Polítikus, que destrói a saúde pública,
mata empregos, aniquila a economia do país etc. Interessante, é que, no caso do
policial, o alvo dos autores foi um aspecto específico do caráter humano. Mas
quando se trata do político, o esculacho é total. Os personagens asquerosos são
de todo ardilosos e repulsivos, como se fossem deformidades da natureza, já que
não possuem nenhum tipo de empatia ou senso moral. Resumindo, nada de bom pode
ser aproveitado. O pior de tudo é que, quanto mais se bate nessa tecla, mais
enojada fica a população com todo o sistema. Principalmente, quando os
políticos da ficção teimam em figurar nos telejornais algemados ou envolvidos em
coisas muito mais pavorosas. Como resultado, em algumas grandes regiões do país,
mais da metade dos votantes anulou sua escolha ou simplesmente se absteve.
Notícias
alardeadas de políticos envolvidos em crimes de corrupção, homicídios,
milícias, tráfico e demais práticas hediondas não incomodam em nada os
respectivos partidos dos denunciados. Raríssimamente se vê um partido
defendendo seus membros ou pedindo desculpas na TV. Mais raro ainda é haver
expulsão de elementos ruins dos seus quadros quando as denúncias envolvem muito
dinheiro. Tanta desfaçatez silenciosa evidencia um clima de anuência e
alinhamento com práticas insólitas das mais variadas. Qualquer pessoa que se
deter um pouco na observação de alguns movimentos dos partidos políticos vai
perceber um forte cheiro de enxofre no ar.
Os
partidos não punem e seus membros se recolhem nas suas tocas esperando a poeira
baixar. Tudo fica quieto. Até o vento para de soprar. Enquanto isso, os
programas humorísticos e as novelas estraçalham a imagem do político, mas
ninguém ousa levantar a voz para defender o colega. Nenhum sindicato ou
associação de políticos vem a público dizer que seus membros são injustiçados
por segmentos da sociedade que atacam a conduta de homens puros de coração e de
honestidade incontestável. Por esses dias a declaração do Lula se transformou
na maior piada do país porque ele teve a cara de pau de dizer que o político é
honesto. Essa declaração aniquilou o que restava do PT. Ou seja, quem quiser
ser achincalhado e por a carreira política em risco é só falar em honestidade
na frente das câmeras.
O
fato é que as vísceras putrefatas do sistema político estão expostas ao sol do
meio dia. E, lamentavelmente, a maioria da politicada não se deu conta disso.
As criaturas continuam nos mesmíssimos esquemas de sempre, explorando
exaustivamente tudo e a todos, como uma praga de gafanhotos a devastar uma
plantação inteira. O recado das urnas não foi suficiente porque o vício da
corrupção é muito mais forte. No Brasil, o súbito aumento do patrimônio em 50
vezes não é alvo de suspeitas e sim, da inveja de quem não teve estômago para
roubar.
O
sistema predatório da nossa política saqueia o país há muito tempo, alimentando
grupos de influência e cooptando meio mundo de instituições para se alinharem a
projetos de poder partidários. A face mais ostensiva dessa prática se revelou
no processo do impeachment, onde o esquema foi cuidadosamente costurado por uma
infinidade de mãos habilidosas e maquiavélicas. O choque titânico de quem
queria entrar com quem não queria sair produziu raios, trovões e abalos
sísmicos na crosta terrestre. No final, um grupo foi decapitado e o outro
assumiu o trono. A pergunta que fica é a seguinte: Por que as batalhas são tão
vorazes e sangrentas? Por que tantos morrem e matam? A resposta está na
Operação Lava Jato. Ou seja, a vez de um passou e agora é a vez do outro mamar
nas tetas cheias de dinheiro. Daqui a alguns anos testemunharemos escândalos
ainda maiores. É sempre assim. Essa é a sina do povo brasileiro.
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