Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 20 / 12 / 2016 - A278
Rafael
Soares era o mais dedicado operário duma grande empresa. Atento e observador,
achou por bem rifar entre os colegas um equipamento recém-chegado ao mercado.
Surpreendentemente, o interesse geral cresceu tanto que vários outros sorteios
foram acontecendo de modo tal que o fabricante do famoso equipamento lhe
ofereceu uma concessão comercial. Em pouco tempo o antigo operário havia se
transformado num empresário de sucesso. Era como se o homem tivesse trazido a
Coca-Cola para o Brasil. Eram carretas e carretas de produtos chegando e logo
sendo vendidas. Daí, que uma coisa foi puxando a outra, aumentando assim a
variedade de mercadorias na sua loja. No afã de alcançar o máximo de
consumidores possível veio então a ideia de expansão do negócio para vários
estados da federação. E assim foi feito. O empreendimento subiu, subiu até que
começou a engasgar. A parca experiência administrativa e a pouca habilidade
para lidar com a burocracia empresarial atropelou o espírito empreendedor do
senhor Rafael. Clientes não pagavam, filiais deviam muito à matriz, controles
internos não funcionavam, faltavam procedimentos e políticas comerciais etc.
Resumo da ópera, o melhor a fazer era liquidar tudo e viver do saldo
patrimonial.
Eis
que um estudante de contabilidade foi contratado para fazer um trabalho que
ninguém sabia exatamente do que se tratava. O senhor Rafael expôs o quadro
sintomático da empresa e pediu a esse contador que o ajudasse a salvar os
negócios. O contador era um profissional experiente que havia ingressado
tardiamente na universidade. Sua experiência em grandes empresas foi decisiva
para redesenhar toda a estrutura empresarial. O trabalho foi feito a quatro
mãos. Duas cabeças pensando harmoniosa e alinhadamente foram capazes de
identificar e neutralizar as diversas falhas operacionais. E assim se seguiu um
longo e intenso trabalho de correção de rumos. Por fim, na prática, uma nova
empresa surgiu – mais profissional e mais estável. A empresa de hoje é líder em
todos os mercados em que atua; possui um modelo de negócio admirado por
clientes, fornecedores, funcionários etc. Enfim, um belo case empresarial.
É
bom lembrar que nessa gloriosa trajetória houve um ponto de inflexão. Houve um
momento em que a rota de declínio foi corrigida. Curiosamente, as soluções mais
importantes não partiram do contador. Ele apenas ajudou o senhor Rafael no
desenvolvimento dum raciocínio empresarial mais profissionalizado.
Evidentemente, muitos detalhes técnicos concorreram para a formatação da nova
cultura empresarial. Poder-se-ia dizer que uma boa conversa mudou tudo. Esse é
o ponto.
A
liderança é solitária. O brilhantismo do senhor Rafael era tolhido pela falta
de interlocução. Ele não tinha com quem discutir assuntos estratégicos ou
planejar em conjunto o passo a passo dos assuntos internos da sua empresa.
Nenhum dos seus funcionários possuía maturidade pra esse tipo de coisa. Nem a
firma de contabilidade responsável pela escrituração das suas contas tinha como
prestar uma consultoria de gestão. E como o senhor Rafael era um homem simples
e já tão escaldado pelas inúmeras traições de parceiros de negócios, ele
precisava de alguém que fosse objetivo e que trabalhasse de modo simples e
direto – sem floreios, sem ternos, sem rituais e sem perfumarias.
Quantos
empresários, nesse momento, estão à deriva em algum aspecto do negócio? Trilhar
uma mata fechada, sozinho e calado exige altos níveis de controle mental, além
de esforço físico maior por não haver com quem dividir o exaustivo trabalho de
desbastar o cipoal do caminho. Travar diálogos francos e abertos com um
interlocutor altamente capacitado faz surgir um vasto horizonte de
possibilidades. Além do mais, refletir e debater sobre os negócios, é um
exercício indispensável para renovar as energias e conservar a chama acesa. Mesmo
porque, tudo precisa ser renovado para manter a jovialidade.
Nesses
nossos tempos de alta pressão governamental deve haver, no mínimo, um intenso
diálogo contábil e fiscal. Pelo menos isso. Daí, que o interlocutor precisa não
somente ter uma boa qualidade técnica, mas também a capacidade de traduzir para o
cliente toda a intrincada burocracia normativa. Pesa nesse exercício uma boa
didática e uma saudável relação de confiança. A informação é importante, o
conhecimento é decisivo e o diálogo deve ser frequente.
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