Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 06 / 11 / 2018 - A345
Por
muitos séculos, o que se considerava verdade absoluta tinha como única fonte a
igreja católica. As pessoas tomavam orientações dos clérigos como dogmas
indiscutíveis, sendo que, praticamente, toda comunicação era verbal, uma vez
que o acesso ao texto sagrado ficava restrito à classe sacerdotal. Por essas e
outras, a sociedade medieval se comportava como um grande rebanho que era
direcionado para um lado e para o outro sempre que se modificavam as
conveniências das elites dominantes. Foi então que aconteceu uma grande ruptura
desse sistema engessado. As 95 teses de Martinho Lutero demoliram os pilares
fundamentais da doutrina do perdão e de outros fundamentos eclesiásticos. A
tradução da bíblia para o alemão abriu as portas de muitas consciências que
passaram a enxergar o mundo com os próprios olhos. O começo do fim da hegemonia
papal inaugurou uma nova era civilizatória; a idade das trevas foi ficando para
trás. Mas, ironicamente, o que houve de fato foi o surgimento de um novo poder
dominante, que se apresentou mais elegante e mais sofisticado. Nascia em 1605 o
Relation aller Fürnemmen und gedenckwürdigen Historien, que é reconhecido como o
primeiro jornal da história. E com ele, nasceu o que tempos depois foi chamado
de quarto poder.
A
icônica frase “Nunca arranje uma briga com quem compra tinta em barril e papel
às toneladas” retrata muito bem o tal dito quarto poder. A verdade tinha um
novo dono. A grande imprensa passou a ditar os rumos da civilização moderna,
onde levantava e derrubava quem quisesse porque o povão era agora um rebanho
instruído pelas novas crenças iluministas. Na verdade, as trevas não tinham se
dissipado totalmente; o comportamento de manada permanecia no inconsciente
social porque as pessoas eram facilmente capturadas pelos modismos e pelos
ideais forjados na elite econômica e intelectual.
Aqui
mesmo, no Brasil, temos uma lista infinita de exemplos manipulatórios da grande
mídia que determinaram as bases sociais do que somos hoje. Essa postura hegemônica
e megalomaníaca inflou a empáfia e a presunção de gente presa a velhos
costumes. Foi então que aconteceu outra grande e histórica ruptura cognitiva e
reflexiva do cidadão comum. A internet e particularmente as redes sociais
modificaram drasticamente a percepção e a interpretação do mundo. Essa
desconstrução interpretativa se dá de modo convulsivo e aparentemente
desordenado, mas, talvez, seja esse o ambiente ideal. Isso significa que a
reforma luterana finalmente está se consolidando. O fenômeno Bolsonaro é uma
prova cabal dessa revolução midiática. A grande mídia tradicional caiu diante
da internet porque o pensamento livre foi mais forte do que a manipulação das
mentes ainda atrofiadas por um sistema anacrônico. O passo seguinte desse
processo libertador está na universalização do acesso à rede mundial. Isso deve
acontecer nos primeiros tempos do novo governo.
Claro,
obvio, tantos acontecimentos impactantes deixou meio mundo de gente atordoada.
Os grandes e anacrônicos conglomerados midiáticos afundam na areia movediça do
descrédito porque teimam em brigar com os internautas. Os barões da tinta e do
papel se recusam a deixar o século XX para trás, e assim assistem ao
desmantelamento dos seus impérios jornalísticos. Até mesmo os grandes ícones
antes respeitados, agora estão debaixo de uma saraivada de ataques críticos. Os
efeitos desse processo difamatório serão materializados no definhamento e na extinção
da imprensa como a conhecemos atualmente.
O
fato é que, agora, a via é de mão dupla. Ou seja, a notícia parcial e mentirosa
é imediatamente rebatida pelo leitor, que cai de pau no veículo jornalístico
com a fúria de um linchamento. Aquela pose de intelectual exibida na televisão,
de gente que falava abobrinhas e tudo o mais com absoluta tranquilidade, já é
coisa do passado. Isso ocorre porque todo mundo está ligado nas redes sociais.
As redes sociais é o grande júri. E não adianta em nada a tal campanha contra as
“fake news” promovida pela televisão brasileira. O que está valendo de “fake news”
é o jargão do Trump, que já provocou danos irreparáveis à credibilidade da
mídia americana. Curta e siga @doutorimposto
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