Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 15 / 10 / 2019 - A377
O polêmico assunto envolvendo o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ilustra de forma indelével o espírito matreiro dum povo viciado na manha do jeitinho. Estamos falando duma nação que não fez o dever de casa e mesmo assim insiste na pretensão de integrar o clube dos ricos. Tal situação lembra bem aquele aluno que vai para a faculdade, não para estudar, e sim, para obter o diploma. Na televisão, observa-se filas e filas de desempregados, onde muitos deles mal sabem se expressar minimamente, apesar de tantos recursos de aprendizagem disponíveis em plataformas de fácil acesso, como o próprio smartphone.
Pois
é. A característica mais acentuada e a que mais nos distancia da OCDE é a nossa
brutal desigualdade social, a qual está intimamente vinculada à opção pelo modelo
regressivo de tributação. A sociedade brasileira é empobrecida pela esmagadora carga
de impostos escondida nos produtos que consumimos diariamente; principalmente,
alimentos básicos. O trabalhador recebe líquido somente 60% daquilo que é gasto
pelo seu empregador e depois tem metade da sua renda abocanhada pelos impostos
indiretos, sobrando assim uma ínfima quantia para construção de algum
patrimônio. O resultado desse perverso regime semi-escravocrata é traduzido num
potencial de consumo sufocado pela desigualdade social.
Interessante,
é que as propostas de reforma tributária em debate no Congresso Nacional são
focadas única e exclusivamente na intensificação da regressividade, onde, por
exemplo, a PEC45 quer aumentar o imposto sobre serviço de 5% para 25%. O
ministro Paulo Guedes só fala em redução do imposto de renda. Conclui-se então
que todas as forças se unem para aumentar a regressividade e diminuir a progressividade.
E é com essa deformação jurídico social que o Brasil quer por que quer entrar
na OCDE, onde a carga média do imposto de renda é de 37% e o peso dos tributos
sobre consumo é de 25%. No Brasil acontece exatamente o contrário: o percentual
de tributação sobre a renda é de 18% enquanto que o consumo responde por 51% do
bolo arrecadatório. Ou seja, os números falam por si, não deixando margem para
qualquer divagação tecnicista ou filosófica que tente justificar o nosso
regressivo e perverso modelo tributário.
Quem
está por trás da PEC45 é um conglomerado de grandes empresas patrocinadoras do
projeto legislativo que não quer pagar imposto de renda. Por isso, comprou a
reputação de renomados tributaristas para defenderem a renda e o patrimônio dos
ricos. Curiosamente, essas grandes empresas querem vender para uma população que
não tem dinheiro pra gastar. Mais curioso ainda é tentar entender o que pensam
os magnatas que insistem num modelo regressivo que mata a capacidade de consumo
da massa populacional. Os EUA, por exemplo, são pujantes economicamente por
causa do intenso consumo das famílias que podem comprar muito porque os
produtos são minimamente tributados. E para dinamizar mais ainda o ambiente
econômico, as fábricas e os distribuidores estão completamente livres de
qualquer tipo de imposto indireto, ficando somente o varejista responsável pela
retenção e o repasse do imposto ao erário, num processo onde não se perde tempo
com apuração de imposto. Isto é, tudo é simples, rápido, claro e eficiente.
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