terça-feira, 7 de abril de 2015

LIMPAR SEM RASGAR

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 07/04/2015 - A206

Essa história é verídica. Pela bizarrice do acontecido serão omitidos alguns detalhes visando à proteção da fonte. O funcionário da construtora foi designado para trabalhar na administração de uma grande obra no estado vizinho. As condições salariais, assim como as acomodações do alojamento eram precárias, obrigando nosso personagem a dormir numa rede por falta de cama. Um ano depois vieram as férias e a oportunidade de retornar para a casa da mamãe. A famosa rede, enfim, soube pela primeira vez o que era água e sabão. A mãe do nosso personagem ralhou com o filho quando viu o tecido duro de tanto grude, e por tal motivo resolveu deixar a coisa fedorenta de molho por várias horas. O fato surpreendente ocorreu no momento de dar continuidade à limpeza. Era esfregando com uma escova e o tecido se esgarçando até ficar imprestável. Ou seja, a sujeira era tanta que acabou por se tornar parte da estrutura da rede. Acabou-se a sujeira, acabou-se a rede.

Dias atrás, o programa jornalístico Profissão Repórter mostrou alguns efeitos perversos da operação Lava Jato e como a crise da Petrobras mexeu com o emprego e com a vida de cidades do interior do Brasil. Os escândalos paralisaram obras de grande porte deixando meio mundo de gente desorientada e sem dinheiro, contribuindo assim para o agravamento dos problemas sociais. As empresas envolvidas nos esquemas fraudulentos de doações a partidos políticos estariam virtualmente impedidas de fechar novos contratos com o governo. Dessa forma, como fica então a imensa quantidade de projetos em andamento? E se todo mundo estiver mergulhado no lamaçal, o país vai parar?

Acompanhamos já um tanto preocupados a expansão e os intermitentes desdobramentos dos escândalos da Operação Lava Jato. A coisa deixou o perímetro Petrobrás, se alastrando assim para outras jurisdições e segmentos de atuação governamental, ficando cada dia mais evidente o fato de que o modus operandi dos esquemas desbaratados pela Polícia Federal na estatal é apenas uma célula em meio à vasta estrutura criminosa entranhada até o osso do poder público. Os 300 milhões de reais roubados pelo ladrão Barusco agora foram superados pelos R$ 600 mi encontrados na Suíça em conta HSBC de um delegado da Polícia Civil de São Paulo. E olha que esse pessoal é do tipo peixe pequeno. Imagine então os grandes, os chefões, os tubarões de boca grande..!! Vivemos dias tenebrosos e talvez essas coisas nos façam entender o motivo da nossa escorchante carga tributária estar no patamar de 40% do PIB e mesmo assim não ser suficiente para cobrir os gastos governamentais. O insistente discurso das autoridades é que nunca tem dinheiro pra nada. O ministro Joaquim Levy não pára um minuto de recitar o mantra do aumento de impostos. Enquanto a roubalheira corrói o Brasil, a China está engolindo o mundo com uma taxação de 23%. Com tantos sobressaltos é possível que a qualquer momento caia uma bomba nas nossas cabeças duzentas vezes maior do que todos os escândalos noticiados até agora. Assusta-nos o temor do que possa haver de eventos abomináveis ainda escondidos do grande público.

De fato, ao que parece, temos os mais perigosos, imundos e asquerosos homens públicos do planeta. Gente desprovida de nenhum traço de honra, princípio ou qualquer sinal de caráter. Nem ditadores sanguinários e genocidas conseguiram ser tão baixos. Aqui, os nossos políticos fazem qualquer negócio por dinheiro. Qualquer, mesmo!! Os esquemas corruptos do prefeito Aderbal Pimenta, da novela Babilônia, estão muito distantes do jogo pesado da vida real.

O Juiz Sérgio Moro está quebrando o tabu da autoridade intocada ou do político teflon. Outros investigadores estão se encorajando a seguir na mesma linha de trabalho. O descaramento e a falta de pudor dos bandidos engravatados se deve ao fato da máquina pública ser uma engrenagem inteiramente voltada para a corrupção. Ou seja, a polícia não investigava, o empreiteiro lucrava, o juiz soltava, o procurador engavetava, o congresso tergiversava, o executivo enganava, o lobista negociava e o Supremo desencravava um tal de embargo infringente. Resumindo, uma gigantesca coreografia ultra bem sincronizada. Esse esquema começou a ruir.

Pergunta-se até que ponto e em que profundidade a corrupção se encontra instalada no poder público; e o seu grau de entranhamento nas atividades operacionais. As investigações da Petrobrás estão provocando um violento estrago na vida de meio mundo de pessoas com desemprego e sérios prejuízos econômicos. O que aconteceria então se as muitas obras e negócios espalhados pelo país fossem alvo de investigações semelhantes à Lava Jato? Será que o tecido social corre o risco de ser totalmente esgarçado no momento da limpeza? Ou será que a bandidagem é que mantém o país de pé?



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