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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 24/03/2015 - A205
Artigos publicados
A ebulição dos
últimos acontecimentos envolvendo o festival de escândalos do governo tem posto
à prova o domínio da técnica do refolhamento. Parece até um exame vestibular. E
o que temos visto é um show de cinismo brabo, violento, daqueles de arrepiar. Por
exemplo, o ex-presidente da maior empresa do Brasil disse com todas as letras,
na CPI da Petrobras, que era impossível detectar o roubo de bilhões de reais,
mesmo que todos soubessem que havia uma quadrilha gigantesca de criminosos
travestidos de funcionários da estatal. Com tanto descaramento, é claro que
nenhuma empresa séria jamais contrataria alguém com um perfil tão fraudulento
como o do senhor Gabrielli. Mas é exatamente esse o tipo de perfil desejado
pelos políticos responsáveis pelas nomeações mais disputadas. Um nomeado sério
e honesto causaria muita confusão. Resumo da ópera, não há espaço para inocentes
nesse nível hierárquico, uma vez que profissionais de estômago fraco não
aguentariam a podridão por muito tempo. Até a nossa presidente Dilma veio a
público dar a entender que as investigações da Lava Jato foram patrocinadas
pelo poder executivo. A chefa da nação disse ainda que o “ajuste fiscal” (elevação
de impostos), o aumento da gasolina e o corte de benefícios sociais não trarão
prejuízos aos cidadãos brasileiros. Do mesmo modo, afirmou que tudo de ruim que
estamos experimentando é culpa da crise internacional; e em nenhum momento admitiu
a responsabilidade do seu partido na ultra mega roubalheira da Petrobras. De
acordo com suas palavras o Brasil está muito bem, obrigado. E a sua gestão,
melhor ainda. Realmente, ela é muito boa em tentar cobrir fatos com palavras.
O
poeta austríaco Karl Kraus afirmou que o diabo é um otimista por achar que pode
tornar as pessoas piores do que já são.
Na
última sexta-feira a TV Globo exibiu uma cena emblemática na novela Babilônia.
A invejosa Inês reencontra a “amiga” Beatriz depois de dez anos usufruindo de
uma excelente condição social obtida à custa de um vídeo comprometedor da sua
“querida amiga”. Agora, novamente a vilã volta à carga com a mesma chantagem.
Em jogo, o risco de escândalo conjugal e talvez perda do comando de uma grande
empreiteira. A reação da chantageada (outra bandida perigosa) foi surpreendente
ao dizer: “– Minha querida Inês, eu admiro a sua coragem de me enfrentar, de
guardar um vídeo por dez anos para me chantagear. Isso é um talento. E com uma
habilidade dessa eu quero você a meu favor. E aqui, ao meu lado, o seu talento
será muito bem aproveitado”. Fato subsequente, a chantagista invejosa acabou se
transformando numa aliada e também numa peça fundamental de vários esquemas
criminosos envolvendo fraudes em licitações com agentes públicos.
Quando
se fala muito duma coisa é porque algo não cheira bem. Uma pessoa que fica o
tempo todo dizendo que é honesta transmite aos demais uma impressão oposta. Não
é de hoje que se ouve muito zunzunzum em torno da palavra ética. Ética pra cá,
ética pra lá, ética nos negócios, ética nas relações profissionais etc., etc.
Falar que existe ética na política é atiçar a ira dos deuses e assim correr o
risco de ter a cabeça partida por um raio. Melhor não arriscar.
De
fato, condutas éticas são mais visíveis no setor privado. E quem habita esse
ecossistema precisa adotar determinadas posturas e ao mesmo tempo se acautelar
quanto aos riscos de uma palavra mal colocada ou de algum fato desabonador que tenha
o potencial de manchar a imagem de uma pessoa física ou jurídica. Claro, óbvio,
nenhum diretor desejaria ter no seu quadro de pessoal alguém com perfil
cleptomaníaco. Principalmente, gerenciando o setor financeiro ou o
almoxarifado. As empresas não querem tarados que avancem sobre funcionárias nem
também gente arrogante que carregue consigo o poder de gerar tensões e
conflitos entre colegas de trabalho. Muito menos, empregados mentirosos e
descarados. Não à toa, os programas de “compliance” estão contaminando o
universo empresarial; sinal evidente do caráter destrutivo das condutas ruins
ao patrimônio dos empregadores.
Agora,
vamos para o outro lado da moeda. No setor público a coisa é completamente diferente.
Por exemplo, um candidato ao posto de chefe de gabinete que na entrevista de
emprego afirma não saber mentir é imediatamente descartado. Afinal de contas,
onde já se viu alguém do primeiro escalão não dominar a arte da mentira. O
ocupante dum cargo desse porte que não minta sem piscar seria um desastre a
comprometer seriamente o mandato do chefe maior.
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