terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

CONTROLE NENHUM FREIA A CORRUPÇÃO


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 16/02/2016 - A244

Mais uma burocracia fiscal acaba de sair do forno. A Receita Federal passou a exigir dados sobre movimentação financeira dos clientes de empresas situadas fora do sistema bancário, como operadoras de planos de saúde e seguradoras. A nova obrigação acessória se chama eFinanceira, que visa rastrear toda operação superior a R$ 2 mil para pessoas físicas e R$ 6 mil para pessoas jurídicas. A justificativa do governo para a imposição de mais um custo administrativo ao país é a assinatura do acordo de compartilhamento de informações com os EUA, que objetiva combater evasão de divisas, lavagem de dinheiro etc. Com o Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA), ambas as nações serão informadas da movimentação financeira dos seus cidadãos no país parceiro. Na realidade, há uma grande movimentação internacional em torno do combate às fontes de financiamento do terrorismo, sendo que a solução encontrada passa pela completa transparência da vida de cada correntista, esteja ele na Suíça ou na Rússia.

A dita cuja eFinanceira é uma versão mais burocratizada da Declaração de Informações sobre Movimentação Financeira (Dimof), que desde 2008 vem obrigando as entidades financeiras a repassarem ao Fisco, informações sobre movimentação acima de R$ 5 mil (PF) ou acima de R$ 10 mil (PJ). Em 1988, a Convenção de Viena estabeleceu diretrizes para o combate ao financiamento do narcotráfico, sendo que o Brasil fez sua adesão através da Lei 9.613/98. O artigo primeiro dessa lei caracteriza os crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de bens oriundos de tráfico, extorsão, corrupção etc. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) foi criado para fiscalizar movimentações financeiras suspeitas.

O fato é que, já de muito tempo o Brasil dispõe de uma infinidade de instrumentos ultra sofisticados de controle de atividades financeiras em geral, mas, curiosamente, nenhuma dessas poderosas ferramentas foi capaz de detectar um centavo dos zilhões de dinheiro sujo que tramita freneticamente pelos quatro cantos do país. As investigações da Operação Lava Jato já identificou uma montanha de recursos desviados para o bolso do gigantesco contingente de corruptos instalados no governo ou fora dele. O caráter mais assustador do trabalho da Polícia Federal é a profunda capilaridade criminosa dentro do governo e o altíssimo volume de dinheiro roubado pelos corruptos. Mesmo assim, a tão poderosa e equipada Receita Federal não viu nada. Mas aquela pessoa que compra um carro popular e não declara ao Fisco é rapidamente notificada pela mesma Receita Federal que nunca consegue enxergar bilhões movimentados pelos corruptos. Como sempre, no Brasil, coisas estranhíssimas acontecem todos os dias.

A pergunta que fica no ar é a seguinte: Afinal de contas, onde estavam os infinitos funcionários públicos desses sofisticados órgãos reguladores do mercado financeiro, que não viram absolutamente nada? Outra pergunta: Para que serve o COAF e para que serve o Dimof, que deixou a bandidagem pintar e bordar no Brasil, movimentando toneladas de dinheiro por milhares de operações bancárias suspeitíssimas? Outra pergunta: A eFinanceira vai pegar os bandidos do governo que movimentam milhões ou vai investigar somente operações de dois mil reais?

Sabemos que há muitos anos a informática absorveu por completo todo tipo de atividade humana, onde tudo é digitalizado, podendo facilmente ser rastreado. Por outro lado, não é compreensível que um gigantesco volume de operações suspeitíssimas transite incólume num sistema ultra informatizado. Essa estranheza pode ser estendida também às operações com mercadorias, onde, se for feita uma analogia, é de se imaginar que a nota fiscal eletrônica pode muito bem não dar garantia de que algumas operações super mega volumosas sejam detectadas e consequentemente deixem de ser tributadas. Sabe Deus, o que acontece dentro do SPED... 

Infelizmente, a corrupção brasileira é mais forte do que qualquer tipo de controle ou qualquer tipo de programa moralizador que existe ou que venha a ser criado. As empresas pequenas são aterrorizadas com rumores de controles fiscais eficientes e suas respectivas ameaças de quebra do negócio pelas pesadas multas infracionais. Ao mesmo tempo, muita coisa é manipulada e ajustada para criar um ambiente favorável ao nosso ultra gigantesco contingente de corruptos e ladrões de colarinho branco. O velho Brasil de sempre continua o mesmo.



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