terça-feira, 31 de maio de 2016

SEM SAÍDA


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 31 / 5 / 2016 - A255

Como se ingressa numa organização criminosa? Quais seriam os procedimentos ou requisitos necessários para se conquistar um posto no PCC? Ou na Yakuza? Ou na Família do Norte? Imagina-se que o interessado tenha que, primeiramente, manifestar um caráter deplorável. É preciso capacidade e disposição para topar qualquer parada. Dessa forma, matando, extorquindo, achacando, roubando e enganando, o marginal segue sua carreira delinquente. Claro, obvio, para chegar ao topo é preciso transpor muitos percalços e escapar de inúmeras rasteiras dos concorrentes. Afinal de contas, a bandidagem corre solta no meio de bandidos ignóbeis. As tramas são frequentes e escarnecedoras, sendo o cinismo a arma mais destruidora. Os elementos desse enredo sombrio aterrorizam o cidadão comum, que, por outro lado, encara com muita naturalidade os rebuliços que borbulham no universo político.

O mais recente escândalo envolvendo gravações do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, escancarou para o povo a constatação de que tudo é uma coisa só. Executivo, legislativo, judiciário e entidades das mais diversas instâncias e esferas se diluem num caldo grosso e turvo. Os detentores do poder vêm demonstrando capacidade extremada de contaminar com seu dedo sujo toda essa imundície. Já, de muito tempo, grampeados famosos falam com muita naturalidade do trâmite e da influência que possuem até mesmo na mais alta corte do país. Para resguardar a entidade, ministros e defensores do STF se adiantam na prestação de muitas justificativas e explicações. O problema é que tanta eloquência rebuscada só nos deixa ainda mais apreensivos. Basta fazer um comparativo entre o palavreado abominável do presidente do senado nos grampos com seu posterior discurso em defesa da Operação Lava-Jato. Tanta desfaçatez evidencia um grau elevadíssimo de cinismo que pouquíssimas pessoas conseguem atingir, por mais degradada que seja sua conduta. Um estrangeiro ficaria totalmente desnorteado, mas tantas abominações escandalosas estão passando incólumes pelo filtro moral do Congresso, que não enxerga nenhuma anormalidade na cachorrada revelada pelas gravações. A politicada está fazendo cara de paisagem e esperando a tempestade passar. Como bem dito no áudio do delator Machado, nenhum político está livre de ser apanhado na Lava-Jato; todo mundo tem o rabo preso. Até o nosso midiático deputado amazonense foi citado como o mais corrupto do mundo. Mas tudo isso não vale nada e daqui a pouco tudo é esquecido e tudo volta ao seu curso normal.

O fato é que, nesses dias, recebemos de bandeja uma aula magna de política brasileira – uma síntese do funcionamento das engrenagens que envolvem esquemas espúrios capazes de fazer inveja ao mais mafioso bandido da mais perigosa facção criminosa. Na realidade, todos os estupradores, assaltantes e homicidas do Brasil não fazem um décimo do estrago causado pela nossa classe política. Os detentores de cargos públicos são insuperáveis mestres na arte da bandidagem. Milhões de pessoas sofrem ou morrem todos os dias em decorrência das ações criminosas perpetradas por meliantes investidos de cargos públicos.

Qualquer experiente criminoso da Yakuza reúne prerrogativas suficientes para aconselhar um aspirante a se dá bem na política, uma vez que ambos os ambientes são idênticos. O novo e ilegítimo governo que tomou o poder chegou cercado de réus e de indiciados por crimes diversos. As gravações mostraram um pesado clima de conspiração para derrubar a presidente afastada. Por mais urgente que fosse a derrubada do PT, aqueles que contribuíram para essa destituição têm demonstrado ser parte da sujeira e não um desinfetante. Tantas elucidações e tantos esclarecimentos trazidos pelo delator Machado devastaram mais ainda o já desesperançado cidadão honesto, que não consegue enxergar nenhuma saída. No momento, o último potentado ainda de pé encontra-se na república de Curitiba. Se o Moro cair, é melhor fazer as malas e ir para algum campo de refugiados na Europa. Nosso estado calamitoso lembra o filme “Os Doze Macacos”, onde tudo é contaminado e destruído por um vírus avassalador. A depender dos nossos políticos corruptos, a corrupção jamais será verdadeiramente combatida, uma vez que TODOS estão contaminados.



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