segunda-feira, 3 de julho de 2017

DONZELAS DO PROSTÍBULO


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 4 / 7 / 2017

Manchar a reputação é como rasgar um travesseiro de plumas ao vento. Dificilmente se consegue reparar o dano sofrido de modo que a situação volte ao estado original. Em alguns países a reputação do homem público é algo muito sério. Por exemplo, tempos atrás a vice do Primeiro Ministro da Suécia perdeu o emprego porque comprou chocolate com cartão corporativo. Aqui, tivemos o famoso caso da tapioquinha, só que com desdobramento bem diferente. Na realidade, o assunto se transformou numa piada nacional de muito mau gosto; algo bem característico duma republiqueta das bananas.

Há um trecho na Rua Lobo D'Almada que nenhuma mulher direita gosta de trafegar. Pelo menos aquelas que acreditam em rígidos princípios morais. Para algumas delas o simples fato de passar na frente das ignóbeis casas de tolerância já depõe contra sua reputação. Agora, imagine o risco de transitar em meio às aglomerações que ficam nas calçadas!! Se por acaso um frequentador tiver o azar de encontrar a filha lá dentro, mesmo que num canto, sozinha, seria capaz de cometer uma tragédia.

Pois é. Nossos políticos são verdadeiras donzelas de prostíbulo. Na visão da sociedade, todo esse pessoal é altamente suspeito. Pode-se inferir que uma ou outra figura somente transite para cima e para baixo na Rua Lobo D'Almada, mas é certo que o volume massivo de criaturas abomináveis está lá dentro do Engatêmulos, no meio da folia. Quando é flagrada pelo pai, a criatura política jura de pé junto que é virgem, moça, donzela, mesmo se arreganhando em cima duma mesa cercada de bêbados. E se o flagrante envolver uma situação mais cabeluda, ainda assim ela nega o despudor – nega e continua negando sempre, mesmo debaixo duma chuva de tabefes. Claro, óbvio, que a reputação dessa garota vira fumaça, não havendo absolutamente nada que repare o dano ou ninguém que acredite na manutenção da candura de menina moça.

Eis a cena lamentável que assistimos todos os dias na televisão: O repórter fulano, ao vivo do Engatêmulos, entrevista o eminente sicrano sobre as filmagens da Polícia Federal. – O que o senhor tem a declarar sobre a mala de dinheiro jogada no taxi? Perdão!! Vou refazer a pergunta. O que a senhorita, uma jovem de 14 anos está fazendo aqui, nesse ambiente? Eis que a sicraninha responde. – Estava com sede e entrei para comprar um refrigerante. Algo de errado com isso? O repórter insiste. – E quanto ao grupo de homens amassando você? A garota fica indignada. – Eu exijo respeito!! Sou moça donzela e por isso mesmo nego veementemente essa sua acusação absurda etc., etc.!! Vou processá-lo por injúria e difamação. Tenho amigos que irão fechar as portas da sua emissora mixuruca!! Como você se atreve a atacar minha honra e a dignidade da minha família!! Vou reclamar com minhas companheiras do Conselho de Ética, que estão ali, jogando sinuca. Se for preciso, levarei o caso à Suprema Tiazona Federal, que é a gerente do estabelecimento etc., etc...

Como já dito, infelizmente, lamentavelmente, TODOS os nossos políticos são suspeitíssimos. E o pior de tudo é que a interminável sucessão de escândalos só piora aquilo que já é ruim, levando o conjunto de atordoados cidadãos a não enxergar nenhuma luz no fim do túnel. A gravação da JBS mostrou que o ritmo da corrupção não diminui, mesmo depois de toda a repercussão do assunto Lava Jato (o poço do escárnio não tem fundo). Há casos de denúncias envolvendo depoimentos, anotações, movimentações bancários, escutas telefônicas, fotografias, vídeos e ainda assim o político nega e continua negando sempre, mesmo debaixo duma chuva de fatos e evidências. E para piorar o cenário, TODO o sistema judicial trabalha intensamente para alimentar o câncer da impunidade. Não à toa, aquele raro político idealista que envida esforços para se diferenciar dos demais colegas, acaba fazendo um trabalho solitário na vida pública.

Por conta de tantos desatinos é que muita gente está apagando sua história no Brasil e fugindo com toda a família para o Canadá. Os que ficam são obrigados a engolir cururus enverrugados no café, no almoço e na janta.














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