Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 4 / 7 / 2017
Manchar
a reputação é como rasgar um travesseiro de plumas ao vento. Dificilmente se
consegue reparar o dano sofrido de modo que a situação volte ao estado
original. Em alguns países a reputação do homem público é algo muito sério. Por
exemplo, tempos atrás a vice do Primeiro Ministro da Suécia perdeu o emprego
porque comprou chocolate com cartão corporativo. Aqui, tivemos o famoso caso da
tapioquinha, só que com desdobramento bem diferente. Na realidade, o assunto se
transformou numa piada nacional de muito mau gosto; algo bem característico
duma republiqueta das bananas.
Há
um trecho na Rua Lobo D'Almada que nenhuma mulher direita gosta de trafegar.
Pelo menos aquelas que acreditam em rígidos princípios morais. Para algumas
delas o simples fato de passar na frente das ignóbeis casas de tolerância já
depõe contra sua reputação. Agora, imagine o risco de transitar em meio às aglomerações
que ficam nas calçadas!! Se por acaso um frequentador tiver o azar de encontrar
a filha lá dentro, mesmo que num canto, sozinha, seria capaz de cometer uma
tragédia.
Pois
é. Nossos políticos são verdadeiras donzelas de prostíbulo. Na visão da
sociedade, todo esse pessoal é altamente suspeito. Pode-se inferir que uma ou
outra figura somente transite para cima e para baixo na Rua Lobo D'Almada, mas
é certo que o volume massivo de criaturas abomináveis está lá dentro do
Engatêmulos, no meio da folia. Quando é flagrada pelo pai, a criatura política jura
de pé junto que é virgem, moça, donzela, mesmo se arreganhando em cima duma
mesa cercada de bêbados. E se o flagrante envolver uma situação mais cabeluda,
ainda assim ela nega o despudor – nega e continua negando sempre, mesmo debaixo
duma chuva de tabefes. Claro, óbvio, que a reputação dessa garota vira fumaça,
não havendo absolutamente nada que repare o dano ou ninguém que acredite na manutenção
da candura de menina moça.
Eis
a cena lamentável que assistimos todos os dias na televisão: O repórter fulano,
ao vivo do Engatêmulos, entrevista o eminente sicrano sobre as filmagens da
Polícia Federal. – O que o senhor tem a declarar sobre a mala de dinheiro jogada
no taxi? Perdão!! Vou refazer a pergunta. O que a senhorita, uma jovem de 14
anos está fazendo aqui, nesse ambiente? Eis que a sicraninha responde. – Estava
com sede e entrei para comprar um refrigerante. Algo de errado com isso? O
repórter insiste. – E quanto ao grupo de homens amassando você? A garota fica indignada.
– Eu exijo respeito!! Sou moça donzela e por isso mesmo nego veementemente essa
sua acusação absurda etc., etc.!! Vou processá-lo por injúria e difamação.
Tenho amigos que irão fechar as portas da sua emissora mixuruca!! Como você se
atreve a atacar minha honra e a dignidade da minha família!! Vou reclamar com
minhas companheiras do Conselho de Ética, que estão ali, jogando sinuca. Se for
preciso, levarei o caso à Suprema Tiazona Federal, que é a gerente do
estabelecimento etc., etc...
Como
já dito, infelizmente, lamentavelmente, TODOS os nossos políticos são
suspeitíssimos. E o pior de tudo é que a interminável sucessão de escândalos só
piora aquilo que já é ruim, levando o conjunto de atordoados cidadãos a não
enxergar nenhuma luz no fim do túnel. A gravação da JBS mostrou que o ritmo da
corrupção não diminui, mesmo depois de toda a repercussão do assunto Lava Jato
(o poço do escárnio não tem fundo). Há casos de denúncias envolvendo
depoimentos, anotações, movimentações bancários, escutas telefônicas,
fotografias, vídeos e ainda assim o político nega e continua negando sempre,
mesmo debaixo duma chuva de fatos e evidências. E para piorar o cenário, TODO o
sistema judicial trabalha intensamente para alimentar o câncer da impunidade. Não
à toa, aquele raro político idealista que envida esforços para se diferenciar
dos demais colegas, acaba fazendo um trabalho solitário na vida pública.
Por
conta de tantos desatinos é que muita gente está apagando sua história no
Brasil e fugindo com toda a família para o Canadá. Os que ficam são obrigados a
engolir cururus enverrugados no café, no almoço e na janta.
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