Publicado no Jornal do Commercio dia 19/02/2013 - A110
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Um
deputado engajado em causas que visem contribuir para a construção de uma
sociedade mais justa possui um valor absurdamente inestimável diante de uma
árida brutalidade moral que diariamente nos apavora e destrói nossa perspectiva
de futuro. Pena que haja tão poucos homens públicos comprometidos com o
exercício de convicções nobres e edificantes. A maioria utiliza o cargo como
uma instrumentalização de vaidades e de satisfação da sede de poder político e
econômico. Talvez o grande culpado pelo estabelecimento de tantas distorções
sejamos todos nós, que optamos pelo analfabetismo político. Como disse o poeta
alemão Bertolt Brecht, "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele
não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe
que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do
aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto
político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor
abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."
Por
sorte, observa-se uma movimentação positiva nas redes sociais, o que é um
alento em meio ao pântano apodrecido das ignomínias onde estão mergulhadas as
nossas instituições legalmente constituídas. Aquele cidadão solitário que
achava que só ele se indignava com a safadeza política agora encontra
ressonância nas postagens denunciatórias do Facebook. Um caso recente e
emblemático é a proliferação virulenta dos protestos contra a escandalosa
nomeação do ilustre deputado Renan Calheiros para a presidência do senado
federal; uma afronta, um tapa na cara da sociedade brasileira, que atiçou a ira
daqueles que estão cansados da bandalheira política. Essa firme reação dos
internautas é um bom sinal. É curioso observar muitos internautas externando
seus compromissos com os valores postulados por seus avós. Percebe-se uma
espécie de vagaroso despertar e ao mesmo tempo um exercício de reflexão sobre a
nossa condição de sociedade entorpecida de tantas, gritantes e ostensivas
violações da moralidade, a qual só existe no discurso demagógico. A nossa
realidade moral é tão invertida que o cérebro de uma pessoa lúcida e
esclarecida traduz todo discurso político de forma contrária. Estamos tão
escaldados e descrentes que desenvolvemos anticorpos agressivos contra tudo e
contra todos que nos pedem um voto de confiança. É como se houvesse um “google
translate” na nossa alma, que vai antonimonizando cada palavra pronunciada por
autoridades legalmente constituídas. E o pior é que isso vai se estendendo
também às pessoas que convivemos diariamente.
Talvez
a nossa própria sociedade seja a culpada por esse estado de coisas quando optou
em abdicar dos princípios morais em prol de um objetivismo pragmático. É como,
por exemplo, o caso da atriz de filmes pornográficos que ajuda vários parentes
com a excelente remuneração do ofício. Assim, o dinheiro, o conforto e o luxo
falam mais alto e dessa forma todos fingem não sentir o fedor do cano quebrado
do esgoto. Em vez de cada cidadão se levantar em protesto, todos querem mais é
entrar no esquema, querem uma ponta. Em vez de sair às ruas para protestar
contra a corrupção cada um está em casa exercitando a arte do puxa-saquismo
para tentar abocanhar um naco de vantagem junto a algum figurão do governo. O
problema é como explicar esse pragmatismo aos filhos; o que dizer para eles, o
que desdizer o que eles ouviram na escola ou que leram nos livros. Na
realidade, todas essas distorções morais acabam nos mergulhando numa
esquizofrenia coletiva e nos enfraquecendo como nação. O errado vira certo e o
certo vira errado. O corrupto é glorificado pela sua esperteza enquanto que o
honesto é taxado de mané. O homem honesto acaba se dando conta da solidão e do
abandono, deslocado no tempo e no espaço, vendo suas crenças pisoteadas pela
“Lei do Gerson”.
Assim,
só nos resta cantar o nosso iluminado poeta Renato Russo: “Vamos celebrar a estupidez do povo, nossa polícia e televisão. Vamos
celebrar nosso governo e nosso Estado que não é nação. Vamos celebrar nossa
bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos; tudo que é gratuito e feio, tudo
o que é anormal. Vamos cantar juntos o hino nacional. Vamos celebrar a
aberração de toda a nossa falta de bom senso, nosso descaso por educação. Vamos
celebrar o horror de tudo isto com festa, velório e caixão. Venha!! Meu coração
está com pressa. Quando a esperança está dispersa só a verdade me liberta.
Chega de maldade e ilusão. Venha!!”
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