Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 13 / 9 / 2016 - A267
O
indivíduo passa a infância, adolescência e parte da vida adulta na escola, mas
nada disso é suficiente para assegurar o domínio das competências demandadas
pelo mercado de trabalho. Daí, que qualquer amadurecimento profissional é
demorado e a tão almejada estabilidade financeira só é alcançada depois de grandes
sacrifícios e muitos aborrecimentos. Em vista dessa situação esdruxula, o aluno
recém-formado questiona: Afinal de contas, qual foi o motivo de ter passado
tantos anos acordando cedo para frequentar a escola se toda essa bagagem de informações
tem pouca utilidade prática? Por que tenho que aprender tudo do zero quando
inicio a vida profissional? Por que a escola não me preparou para a realidade
da vida profissional?
Quem
passa anos estudando e praticando numa escola de música, aprende a dominar um
instrumento musical de modo a nunca mais perder tal habilidade. É como dominar
a arte de andar de bicicleta. Nesses dois exemplos, o aprendizado se transforma
em conhecimento. Tal constatação nos convida a refletir sobre aquilo que o
aluno leva para a vida inteira, na forma de conhecimentos, habilidades e
competências. E também, deve-se considerar a formação do seu caráter e do seu
discernimento. O decoreba e a pura repetição de coisas chatas só aborrece o
aluno. Qual adulto, por exemplo, fixou regras das disciplinas de Física,
Química ou Matemática? E quanto do que foi estudado é necessário para execução
das tarefas diárias?
Antigamente,
o professor era detentor quase que absoluto da informação. Era o único caminho
possível do aprendizado. A nossa realidade atual quebrou o domínio feudal do
professor; os alunos já podem explorar as infinitas possibilidades da internet.
E não só lendo páginas e páginas de textos explicativos. O canal de vídeos
YouTube disponibiliza uma infinidade de
aulas e demonstrativos de funcionamento de tudo que se possa imaginar. Portanto,
o aluno minimamente curioso é capaz de engolir o professor. Outro detalhe: Os
jovens foram arrebatados pelo furacão de informações dinamizadas da internet –
eles vivem mergulhados num frenesi de eventos tecnológicos e compartilhamento
de dados. Por isso, muitos deles detestam o marasmo de aulas chatas porque já
sabem que é perda de tempo. O jovem quer dominar as tecnologias e enriquecer
cedo. Ele abomina a ideia de ficar refém de um chefe tirano ou de trabalhar
feito um condenado para ganhar uma mixaria.
Alguns
pais chegam a pensar: Meu filho tem doze anos de idade. Portanto, vamos estudar
um tema específico em conjunto por seis anos para que, quando concluir a
faculdade, ele possa ter plenas condições de passar num belo dum concurso
público. Ou então, vou matricular meu filho numa conceituada escola de
tecnologia para ele montar o próprio negócio assim que chegar à maioridade. O
importante é aproveitar o tempo para desenvolver as habilidades requeridas pelo
mercado e aproveitar as diversas oportunidades de ganhar dinheiro. Famílias de
advogados, normalmente, começam cedo a preparar os filhos, assim como
engenheiros ou empresários, porque sabem que o tempo é valioso. Esperar a idade
adulta para começar algo novo é perder anos de vida.
Voltemos
à escola. É salutar que os pais façam uma reflexão sobre o papel da escola e o
que, afinal de contas, seus filhos estão fazendo lá. É importante promover uma
grande discussão sobre o assunto. Até mesmo os estudantes de cursos superiores
precisam questionar o conteúdo pedagógico junto à diretoria da sua instituição
de ensino. Anos e mais anos de aula é suficiente para entregar um profissional competente
ao mercado de trabalho. Mas, na prática, as pessoas se veem obrigadas a
ingressar num curso de pós-graduação. E depois, novamente, buscar cursos livres
porque não preenchem os requisitos necessários dum mercado exigente.
Voltemos
ao professor. Seu papel deixou de ser um repassador de informações para se
concentrar na missão de fixar conhecimentos, desenvolver habilidades e
influenciar o engrandecimento da conduta moral e crítica dos alunos.
Lamentavelmente, poucos conseguem fazer isso.
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