terça-feira, 1 de agosto de 2017

DEVER ADQUIRIDO


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 01 / 8 / 2017 - A 302

O condomínio era imenso, com muitas torres de apartamentos. Num belo dia o síndico resolveu modernizar a gestão e com isso melhorar o serviço prestado aos condôminos. De início, foi contratado um caríssimo sistema de vigilância eletrônica. Em seguida, a portaria e demais áreas de uso comum passaram por reformas bastante onerosas. Obviamente, que a conta chegou para todos. Reclamações pipocaram aqui e ali, mas no final tudo foi se apaziguando. Curiosamente, o choro maior vinha daqueles que não participavam das reuniões convocadas pelo síndico. Essas mesmas pessoas choronas sequer liam os comunicados passados por baixo da porta ou espalhados pelos corredores. Daí, que, depois, eram obrigadas a engolir as decisões dos outros. Eis que num determinado momento o síndico deu início a uma trajetória de ousadia administrativa ao conseguir permissão dos moradores para agir livremente e só prestar contas no encerramento do mandato. Primeiro ato: contratou uma agência de publicidade para estreitar a comunicação com todos e assim zelar pela transparência administrativa. Também, foi necessário dispor de uma competente assessoria jurídica. Passado um tempo, o síndico resolveu construir uma espécie de prefeitura que consumia muitos recursos com funcionários, cafezinho, manutenção predial, louças especiais, prataria e um cerimonial repleto de iguarias para abastecer os frequentes eventos e festas promovidas pelo síndico. Claro, obvio, tamanha gastança catapultou as taxas lá pra cima. Os moradores viviam reclamando pelos cantos, mas ninguém tomava uma atitude efetiva porque não havia diálogo e nem comunicação entre as pessoas (comportamento típico duma sociedade imatura). O síndico sabia dessa absoluta falta de articulação e de organização dos indivíduos. Na realidade, o síndico via todo mundo como um bando de tapados. Como ninguém se mexia, um dos moradores, que era juiz, resolveu dá um basta na bagunça generalizada que atormentava o condomínio. Foi assim que prendeu o síndico após desbaratar uma série de esquemas criminosos envolvendo contratos fraudulentos. O novo síndico se inspirou na Roberta Close. Isto é, resolveu cortar o desnecessário. Cortou todos os excessos. Consequentemente, a taxa voltou ao patamar antigo.

Nós, brasileiros, somos esse bando de tapados do condomínio chamado Brasil. O governo do PT inchou a máquina pública numa velocidade e magnitude estratosféricas. Consequentemente, temos hoje um monstrengo com milhares de tentáculos famintos por gordos orçamentos. A lista de gastos espanta pelo escarnio, pela desfaçatez, pelo abuso, pelo surrealismo da coisa. Tá tudo escancarado pra quem quiser ver. E a nação anestesiada não faz absolutamente nada; fica só assistindo de camarote ao teatro diabólico estrelado pelos gastadores compulsivos do dinheiro público. Todo dia a televisão mostra os figurões da república indo de carrões luxuosos para reuniões em prédios suntuosos cercados por 200 seguranças e atendidos por mais 300 cozinheiros, copeiros, garçons, porteiros, secretários, assessores e outros mais. Toda essa politicada utiliza tais serviços para fazer joguetes e armações contra inimigos e adversários políticos. Ou seja, nós, os desgraçados que trabalham feito escravos, patrocinamos tudo isso com o suor do nosso rosto.

Diariamente, a bagaceira é jogada na nossa cara. O funcionário público que ganha 30 mil de salário base e mais 60 mil de gratificação, ri dos otários que se matam de trabalhar para pagar a mais desgraçada, insana e escorchante carga tributária do mundo. É preciso suor de 50 operários se matando nas intempéries diárias para sustentar a vida nababesca dum funcionário público confortavelmente instalado na sua sala refrigerada e ainda por cima encaixado numa bela cadeira que faz cosquinhas na bunda. Então, é preciso que milhões de idiotas continuem exercendo seu papel de idiota covarde para sustentar todo tipo de extravagância. A máquina pública, que só produz corrupção e burocracia, está matando o Brasil que produz alimentos, que produz bens manufaturados, que produz prédios, que produz a circulação de mercadorias etc.

A gastança chegou num nível asfixiante.

O que virá depois? Vamos esperar o país implodir para tomar uma providência? É preciso tomar uma atitude radical. AGORA. Pra início de conversa, equiparar a remuneração do funcionalismo aos valores equivalentes do mercado privado. O objetivo da máquina pública não é enricar ninguém. Quanto à velha questão do direito adquirido, é bom lembrar que cada direito adquirido leva a um dever adquirido. Dever, claro, do idiota pagador de impostos. Cada cidadão deve bater o pé e dizer: “Eu recuso o dever de pagar o luxo e a extravagância de quem aufere salário dez vezes maior do que o meu. Por que eu sou obrigado a pagar? Por que eu tenho que me matar para sustentar o luxo dos outros? Por quê?”.












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