Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 28 / 11 / 2017 - A 315
Na
semana passada, a Receita Federal publicou a Instrução Normativa RFB 1761 que
criou a Declaração de Operações Liquidadas com Moeda em Espécie (DME). O
contribuinte que receber valores em espécie de 30 mil reais ou mais será
obrigado a elaborar um relatório mensal extremamente complicado e detalhista,
ficando sujeito a pesadíssimas multas se errar uma vírgula no processo de tal
elaboração. É bom lembrar que o contribuinte já era e continua sendo obrigado a
cumprir obrigação semelhante junto ao Conselho Nacional de Atividades
Financeiras (COAF). Essa nova exigência normativa (DME) chega para tumultuar
mais ainda a já sobrecarregada burocracia que sufoca a operacionalidade das
empresas. Estudos do Banco Mundial apontaram a carga de 2.600 horas gastas pelo
brasileiro para o registro e controle de obrigações acessórias, enquanto que no
Reino Unido esse índice é de somente 110 horas. Ou seja, estamos atolados até o
pescoço num lamaçal pantanoso criado por burocratas irresponsáveis. Essa dita
DME vem jogar mais lama na cabeça do empresariado. É de se lamentar que as
agências fazendárias, NUNCA, jamais, fazem algo de bom para conferir um pouco
de racionalidade ao caótico sistema tributário; dia após dia, elas estão sempre
empurrando invencionices goela abaixo do esculachado contribuinte.
Essa
DME, nada mais é do que pura demagogia; é uma forma dissimulada de responder ao
caos institucional promovido pelos escândalos de corrupção que assolam o país.
Toda vez que a coisa começa a feder muito, o governo inventa uma nova
burocracia para dizer que vai diminuir a roubalheira perpetrada por agentes
públicos. Depois, lá, na frente, descobre-se que em vez de diminuir, a
bandidagem aumentou pra caramba.
O
fato é que a Receita Federal NUNCA pegou nenhum corrupto de grosso calibre. E o
pior de tudo é que os bilhões já desbaratados pela operação Lava-Jato
representam menos de 1% do dinheiro roubado por agentes públicos. A corrupção
brasileira é um vício inerente a toda e qualquer ação de qualquer agente
público; uma coisa é parte indissociável da outra. Gestão pública no Brasil é sinônimo
de rapinagem. Por isso é que partidos de todas as colorações se digladiam por
pastas de gordos orçamentos.
O
senso comum diz que a Receita Federal se transformou numa entidade TOTALMENTE
desmoralizada porque persegue somente o passageiro que ultrapassa um dólar na
cota do produto importado trazido na mala. O produto é confiscado e o
contribuinte autuado com todos os rigores da lei. Mas o político pode
tranquilamente movimentar bilhões de reais sem manifestar qualquer preocupação
com Receita Federal ou com qualquer órgão oficial de controle financeiro. Esse
político bandido (pleonasmo) sabe que todas essas entidades são corruptas. E a perdurar
tal modelo vicioso, NUNCA, nem um só corrupto será apanhado nos tecnológicos e
sofisticados controles da Receita Federal e do COAF.
Voltando
ao ciclo malicioso da nossa infernal burocracia, nenhum funcionário de nenhuma
agência fazendária conhece 100% das normatizações que eles mesmos criam, nem
também oferecem solução para 100% das dúvidas que podem surgir a partir da
aplicação do texto legal. Na realidade, ninguém sabe de nada. Mas o
contribuinte é obrigado dominar plenamente cada vírgula das 400 mil normas
tributárias publicadas nos últimos 29 anos; também, é obrigado a trabalhar com
100% de certeza sobre todos os possíveis desdobramentos da legislação em vigor.
Um erro interpretativo de 0,0000000001% sobre a maçaroca presente nos diários
oficiais pode resultar em punições milionárias. Ou seja, o empresário vive
permanentemente à beira do abismo, dirigindo um carro sem freios. Enquanto
isso, funcionários públicos e legisladores mantém o hábito rotineiro de cavar
buracos numa estrada já muito perigosa.
Podemos
comparar o empresariado com o sapo boiando na panela de água fria que é
colocada no fogão. A água vai aquecendo, esquentando e fervendo até o sapo
morrer cozido. Isso acontece porque o dito sapo, em vez de reagir prontamente,
fica num tremendo esforço de adaptação ao clima ruim que só piora com o passar
do tempo. Quando a desgraceira torna-se irreversível, nada mais pode ser feito.
O estado caótico do Rio de Janeiro é o prognóstico da desgraceira que nos
aguarda na esquina. Poderemos morrer cozidos ou tomar uma atitude corajosa.
Agora.!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua mensagem será publicada assim que for liberada. Grato.