Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 4 / 6 / 2019 - A363
A
tão debatida Reforma Tributária que ocupa espaço nas discussões políticas e
empresariais pode gerar um resultado frustrante em face da expectativa almejada
por vários segmentos da sociedade organizada. O que se tem de concreto, no
momento, é apenas uma proposta de unificação dos tributos indiretos. Na
realidade, duas proposições: A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019,
já aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados;
e também o Projeto do Executivo Federal que pretende unificar somente os
tributos federais. A PEC45 pretende criar o Imposto sobre Bens e Serviços
(IBS), o qual unificará Pis, Cofins, IPI, ICMS e ISS. O gargalo desse projeto
está no pacto federativo, que contempla a autonomia tributária de Estados e
municípios e que envolve meio mundo de particularidades e interesses regionais.
A se considerar essa realidade, temos um nó difícil de desatar. O nosso sistema
tributário cresceu e se expandiu como uma metástase cancerígena, tornando-se
uma missão improvável, a cura do paciente terminal. O que vivenciamos na
prática é uma profusão de regras estaduais impossíveis de serem alinhadas numa
unidade normativa. Pesa também, a feroz disputa de interesses arrecadatórios e
o intrincado jogo político dos incentivos fiscais. É como se o país inteiro
fosse um extenso campo minado.
De
acordo com o idealizador do IBS, o economista Bernard Appy, a substituição dum
modelo pelo outro aconteceria no período de dez anos, sendo que, num horizonte
de 50 anos, migraríamos para a tributação integral no destino de consumo do
produto. O problema desse tipo de projeto é que somos acostumados ao frenesi
normativo do legislador tributário. Também, vivemos num eterno estado de
convulsão política, onde uma hora é dum jeito e outra hora é de outro jeito.
Para entornar mais ainda esse caldo de jiló com rapadura, o nosso ambiente
jurídico é frágil e muito suscetível a solavancos interpretativos. Daí, que
ninguém acredita em projetos de longo prazo; nenhuma empresa apostará seu
patrimônio numa ideia que precisa de 10 ou de 50 anos para gerar frutos. No
Brasil, não existe política voltada para espécies tributárias ou vocações
regionais. O que funciona, são as arquiteturas direcionadas para contribuintes
específicos. Nosso código tributário é sob demanda, construído de acordo com o
poder de influência das grandes corporações. A estrutura normativa contém um
gigantesco volume de Regimes Especiais, que muitas vezes são enigmáticos e
mantidos longe do alcance dos tribunais de contas.
Curiosamente,
em meio a tanta discussão, pouco se fala da raiz primordial das mazelas tributárias,
que é o gasto público. Não se pode falar de redução da carga de impostos sem se
buscar meios de racionalização da máquina pública, que cresceu exponencialmente
nas últimas décadas; principalmente nos governos petistas. A coisa toda chegou
num nível de ruptura, tipo, ou se dá um freio, ou caímos todos no precipício. Eis
alguns exemplos da completa desordem das contas públicas: “Senado gasta R$32
milhões em mesadas para filhas solteiras”; “Salário de conselheiro do TCE mato-grossense
varia de R$102 mil a R$183 mil”; “Verbas indenizatórias garantem salário de mais de
R$700 mil em maio a juiz do Tribunal de Justiça de Minas Gerais”; “Conselheiro
do TCE-MG gasta R$729 mil em mestrado não concluído”; “Despesas previdenciárias
abocanham 57% do Orçamento da União, cujos estudos apontam que em 2024 esse
percentual chegará a 82%”. Tantos números pornográficos evidenciam o grau avançado
de desordem administrativa do poder público, que trabalha unicamente para fomentar
o mais perverso mecanismo de transferência de renda do planeta. Ou seja, nunca,
em toda a história da humanidade, tanta gente pobre trabalhou tanto para enriquecer
uma casta privilegiada de agentes públicos.
Pois
é. Diante desse quadro apocalíptico, o que deve se fazer é colocar as cartas na
mesa e perguntar para o pagador de impostos: - Você quer continuar se matando de
trabalhar para sustentar os luxos e as extravagâncias dos agentes públicos? Pesa
nesse momento, uma reflexão sobre a abertura da caixa de pandora para a
população em geral. Pra começo de conversa, as autoridades competentes deveriam
aprovar com urgência O PL 990/2019 do senador Randolfe Rodrigues, que propõe
separar imposto de produto nas etiquetas de preços. Dessa forma, o consumidor iria
apontar os caminhos para uma verdadeira reforma tributária. Curta e siga
@doutorimposto
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