Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 16 / 06 / 2020 - A402
A
senhora Maria da Rocha é uma profissional eternamente insatisfeita com a qualidade
dos serviços prestados pela sua firma de assessoria contábil e empresarial. Sua
vida inteira de trabalho é marcada pela incessante busca das melhores práticas
operacionais que possam conferir altos níveis de conformidade legal, além de
agilidade e suporte às variadas demandas dos clientes. O objetivo é sempre
estar um passo à frente em termos de avanço tecnológico relacionado às
ferramentas de produtividade disponíveis no mercado de informática e de consultoria
especializada. Tal dinâmica comportamental estimula sua equipe de trabalho e
também fomenta esforços crescentes para acompanhar o ritmo imposto por uma
cultura de alta performance. Claro, obvio, isso não é fácil de jeito nenhum. Ainda
mais num país que prepara muito mal os ingressantes no mercado de trabalho.
Mesmo porque, sabemos todos nós o quão improdutivo é o ambiente acadêmico das
nossas instituições de ensino, onde, na prática, pode-se observar que o egresso
sai desorientado da cerimônia de formatura, como num parto desastrado envolvendo
a queda da criança.
Mesmo
com todas as dificuldades de perfil profissional, a contadora Maria utilizou
seu faro técnico para identificar talentos aptos ao grande desafio imposto pela
sua visão tecnológica de serviços contábeis. Parece que ela estava enxergando o
futuro, uma vez que há vários anos tem se desdobrado na luta pela implantação
de ferramentas avançadas de gestão contábil, as quais, agora, estão fazendo a
diferença na performance da equipe e também na manutenção da qualidade e do
ritmo, que não reduziram em nenhum momento. A pandemia do novo coronavírus, no
entanto, provocou uma mudança radical, mas uma mudança já ensaiada.
Logo
no início da quarentena, a senhora Maria substituiu a condução dos funcionários
(de ônibus para Uber). E não demorou muito para que sua grande equipe fosse
toda colocada em home office, fechando assim o escritório físico por completo. Todos
passaram a trabalhar de casa – até mesmo a própria Maria. A adaptação não foi difícil
e os funcionários não enxergaram o estar em casa como fomentador da
indisciplina. A equipe mantém o desempenho operacional, já que diversas
ferramentas tecnológicas congregam os esforços num ambiente virtual que permite
interação e trabalho colaborativo. Essa experiência está funcionando tão bem
que o retorno ao estabelecimento físico do escritório não vai se basear em
autorização legal, e sim, na percepção de segurança epidemiológica. Inclusive,
é possível que algumas atividades fiquem definitivamente em home office.
Em
meio a tantos esforços adaptativos, a grande luta está no hábito do cliente de
manter contato pessoal. O cliente tem dificuldade de lidar com a ideia do fluxo
de informação eletrônico. Na verdade, esse fluxo já estava ocorrendo antes da
pandemia, visto que os processamentos vinham sendo baseados em documentação
eletrônica. Inclusive, essa era e ainda é a obsessão da senhora Maria, que é
justamente se afastar do papel e se aproximar o máximo possível das transações
eletrônicas. E isso só acontece com muito investimento em treinamento pesado em
cima de ferramentas tecnológicas: tanto no escritório contábil quanto nas
dependências do cliente.
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