Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 06/10/2015 - A228
Para
obter 9% de lucro é preciso dobrar o valor da mercadoria, considerando 17% de
ICMS, 9,25% de PIS/Cofins e 15% de custo operacional. Se o comerciante quiser
34% de lucro sobre o preço de venda ele terá que quadruplicar o preço de
aquisição da mercadoria. No primeiro cálculo de lucratividade (9%) os tributos
representam 70% do preço de aquisição. No segundo cálculo (34%) a
correspondência é de 100%. Essa análise demonstra o violento impacto dos
tributos indiretos sobre o valor dos produtos que consumimos. Nos países
desenvolvidos existe tributo sobre consumo (no singular) e não uma enxurrada de
taxações sobre a mesma base, como acontece aqui no Brasil (IPI, ICMS, PIS,
COFINS, PIS, INSS, IRPJ, CSLL, CIDE, IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO). Outro detalhe
importante é que nos países sérios a incidência tributária ocorre em uma única
etapa da cadeia de distribuição. Por aqui, a carrada de impostos vai se
multiplicando ao longo da cadeia de produção/distribuição, sendo que vários
entes tributantes se digladiam na briga pelo dinheiro dos tributos. A
instituição previdenciária briga pelo INSS; a Receita Federal briga pelo IPI,
pelo PIS, pela COFINS, pelo IMPOSTO DE IMPORTAÇÂO, pelo IRPJ, pela CSLL; o
Fisco Estadual briga pelo ICMS; Vários Fiscos estaduais brigam pelo mesmo ICMS,
como acontece com a tributação sobre combustíveis. E no meio dessa briga de
foice fica o contribuinte sendo atacado por todos os lados. No Brasil, um
tributo trabalhista foi transformado numa taxação sobre consumo, como é o caso
do INSS desoneração da folha de pagamento. Por aqui, duas tributações sobre
renda foram transportadas para o grupo de tributos sobre consumo, que é o IRPJ
e CSLL do regime de lucro presumido. Nossas regras tributárias pervertem tudo
quanto é princípio minimamente racional e tolerável. Não à toa, os melhores
cérebros do mundo não conseguiram transportar as nossas regras tributárias para
dentro do sistema de gestão SAP, alguns anos atrás, na Petrobras. Não
entenderam a tributação porque é ininteligível. Ninguém entende; ninguém consegue
ser 100% correto porque a lei é a mais transloucada do planeta.
Atualmente,
o nosso bolso é mordido por 92 tributos e mesmo assim não está sendo suficiente
para manter a máquina pública. O governo quer mais, quer mais, mais, mais e
mais. A fome é infinita; nenhum dinheiro é suficiente. Se o governo ficasse com
tudo ainda assim, não seria suficiente para sustentar o gigantismo da máquina
pública e também a ineficiência e a corrupção. Vigora o paradigma de que o
gestor público é perdulário, incompetente, ineficiente, corrupto e todos os
defeitos que um administrador pode ter. A mensagem subliminar transmitida pelo
poder público diz que a população é obrigada a se conformar com todas essas
iniquidades. Os gestores públicos são assim mesmo e nada os fará mudar de
postura. Esse é o padrão. Ponto final. Por isso é que a CPMF só atiçará a
comichão por novas majorações tributárias.
Na
realidade, estamos vivenciando uma guerra tributária. O governo federal vem há
um bom tempo revirando o mundaréu de normatizações em busca de brechas para
aumentos de alíquotas e cortes de alguns poucos incentivos fiscais. O rebuliço
tá violento. O Fisco gaúcho elevou em um ponto percentual a carga do ICMS. Isso
foi o suficiente para outros estados seguirem na mesma onda, inclusive o
Amazonas. A prefeitura de Manaus embarcou numa cruzada contra os sonegadores ao
instituir o sistema de malha fiscal da Semef. Assistimos a um vale-tudo para
gerar caixa, uma vez que a roubalheira sistematizada provocou um desmonte na
economia do país, resultado da grave crise política que parece não ter fim.
Tantos
abusos desencadeou uma reação da Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo, que resolveu atacar o problema de frente com a campanha
#NãoVouPagaroPato. O objetivo é lutar ferozmente contra a sanha arrecadatória
que visa cobrir o buraco da corrupção e das extrapolações de gastos do governo
federal para ganhar as eleições do ano passado. O que não faz nenhum sentido é
a passividade de muitos empresários que não se mexem diante do avanço do poder
público sobre o bolso dos contribuintes. Cada estabelecimento comercial deveria
se esforçar para trazer o cliente para o centro da discussão sobre a maluquice
tributária do governo; deveria pendurar cartazes imensos mostrando a taxação
embutida em alguns produtos e dizer que tudo é descarregado no preço da
mercadoria.
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