Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 19/01/2016 - A240
Não
bastasse a convergência de tantas variáveis negativas a desestabilizar nossa
economia, o governo escolheu o pior dos momentos para abrir sua caixa de
pandora tributária. Isto é, todos os males confiscatórios desabaram na cabeça
do contribuinte de uma só vez.
A
explosão de escândalos combinada com a total perda de controle da gestão
pública bagunçou o país por inteiro. Como resultado, várias conquistas obtidas
nas últimas décadas viraram fumaça, com gente desempregada devolvendo imóveis
financiados, inflação galopante, juros na estratosfera, investimentos
paralisados e péssima imagem do Brasil no exterior. Até a pujante indústria da
beleza experimentou sua primeira queda em vinte anos.
Pois
é. Justamente nesse cenário sombrio e desolador cai uma tempestade de impostos.
Vinte estados e o Distrito Federal promoveram aumento do ICMS, com o Amazonas
despontando na frente com sua pesada carga sobre produtos essenciais à sobrevivência
humana. Seguindo o ranking da opressão tributária, vem Maranhão, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Rondônia. Outras
unidades federativas tiveram o cuidado de não piorar a vida da população menos
abastada, preferindo sobretaxar produtos supérfluos, como bebidas, cigarros,
munições etc. O estado da Bahia poupou a cesta básica. Por outro lado, Rondônia
tascou o bolso dos apreciadores de cerveja com 35% de alíquota nominal, o que
consiste numa carga real perto dos 60% – só de ICMS. A cerveja ainda sofre
pesadíssimas taxações de Pis, Cofins e IPI. É possível que o peso total se
aproxime dos 100%, tal como acontece nos produtos de tabacaria. Tanto imposto
diluído na bebida só vai piorar a ressaca do dia seguinte. A dor de cabeça não
será privilégio dos pinguços, mas da população em geral, uma vez que tudo é
repassado para o preço de bens e serviços, piorando o que já está ruim.
Alguns
estados, como Acre, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Santa Catarina e Roraima
resolveram poupar o sofrido bolso do contribuinte não aumentando a carga do
ICMS. Ocorreram diversas majorações Brasil afora, também, no IPVA, ITCMD, IPTU
e ITBI. Imóveis de alto padrão, bem como veículos robustecidos de muitos
cavalos foram especialmente catapultados para níveis mais altos de tributação. Poucas
e modestas reduções tributárias aconteceram em algumas localidades, tais como
redução de IPVA no Ceará, Santa Catarina e Rondônia. O ICMS ficou menos pesado
para o álcool no Piauí e para medicamentos em São Paulo. A prefeitura de Recife
criou um programa de incentivos fiscais com redução da alíquota do ITBI.
No
âmbito federal, os equipamentos eletrônicos perderam alguns benefícios fiscais.
O governo acabou com a isenção do imposto de renda sobre remessas pessoais ao
exterior, como aquela relacionada a intercâmbio educacional – a taxação passou
a ser de 25%. Interessante, é que o dinheiro repatriado do tráfico de drogas e
da corrupção pagará somente 15% de imposto de renda. Ou seja, a educação do
filho é punida enquanto que o crime é beneficiado. Isso é bem a cara de um
governo inteiramente atolado na lama da corrupção.
A
Receita Federal promoveu uma radical mudança no esquema de tributação das
bebidas, o que elevou em muito a arrecadação de IPI. Operações geradoras de
substanciais ganhos de capital serão fortemente impactadas pelo imposto de
renda. A tão badalada operação de Juros Sobre Capital Próprio teve sua taxação
majorada de 15% para 18% no IR fonte. Para fechar o pacote de maldades com
chave de ouro, o governo acredita cegamente no retorno da CPMF.
Não
custa lembrar que 2016 trouxe profundas e complexas mudanças na
operacionalidade do ICMS vinculado às vendas interestaduais para não
contribuinte do imposto. A coisa é tão confusa que ameaça destruir as pequenas
empresas de comércio eletrônico. O obcecado apego que as nossas administrações
tributárias tem pela exacerbação burocrática criou um troço tão maluco que
poucos conseguirão digerir. São muitos detalhes e etapas a serem cumpridas para
concretizar uma venda on-line. Os pesadíssimos custos burocráticos irão
desafiar a capacidade de sobrevivência dos pequenos e dos grandes negócios. Parece
que o governo vem testando a resistência do contribuinte, como se apertasse um
parafuso contra um bloco de ferro maciço.
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