Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 29/12/2015 - A237
O
campeão de boxe Joseph Climber empanturrou-se na ceia de natal e logo em
seguida exagerou nas peripécias amorosas com a namorada. O rebuliço foi tamanho
que sofreu um AVC, ficando paralisado de todo o lado esquerdo do corpo. Nosso
personagem abandonou a carreira de lutador e arranjou um emprego de
telefonista. Por motivos óbvios ele tinha dificuldades de atender ao telefone e
anotar recados. Por sorte, sua capacidade criativa o fez desenvolver um
atendedor automático que agilizou por demais seu trabalho. Acontece que um
terrível acidente o fez perder a voz. E juntamente com a voz perdeu o emprego.
Joseph passou a se comunicar com sua mão direita, sendo que em poucos meses se
tornou um maestro consagrado. Mas a vida é uma caixinha de surpresas. Um
infortúnio levou o nosso protagonista a ficar completamente surdo, encaminhando-o
para o campo, onde conseguiu um emprego de operador de máquina. O problema é
que numa bela manhã de sol a máquina triturou o seu braço direito. O senhor
Climber voltou para a cidade, onde passou a pintar belos quadros com seu pé
direito, o que lhe rendeu fama e admiradores. Mas, novamente, um trágico
acontecimento o levou a perder as pernas. Qualquer um de nós ficaria chateado,
desmotivado, abatido, mas Joseph Climber se tornou um dos mais importantes
funcionários dos Correios, selando milhares de cartas por dia com sua língua
prodigiosa. Esse parágrafo foi baseado num vídeo dos humoristas Melhores do
Mundo.
O
cidadão brasileiro é um otimista crônico. As coisas ruins vão acontecendo ao
mesmo tempo em que ele insiste num jeito de se ajustar às circunstâncias. E
sempre encontra algo de positivo em meio aos escombros das tragédias
cotidianas. Por sua vez, as nossas autoridades capitalizam essa informação de
forma magistral. Os discursos e as retóricas inflamadas arrebatam corações e
mentes, justamente por explorar esse ponto sensível da alma brasileira (Sou Brasileiro;
Não Desisto Nunca). Dessa forma, assistimos ao festival de mazelas,
ingerências, corrupção e descaso do poder público e mesmo assim ficamos
inebriados com os discursos incessantes veiculados na mídia de que “a crise é
resultado de fatores externos" ou que “por enquanto faltará carne no prato
do povo”, mas que “o cenário econômico ruim será desanuviado em 2017”. Resumindo,
estamos à beira do abismo, com a corda no pescoço e mesmo assim mantemos a fé e
o otimismo de que tudo ficará bem. Ledo engano.
Na
verdade, não tá nada bem. Tá tudo errado. Num país sério, bastaria um centésimo
da bandalheira promovida pelo nosso governo para a população se rebelar numa
guerra civil. Por aqui, metade do Congresso é alvo de processos judiciais. Os
principais ícones ligados à presidência da república foram condenados por
crimes hediondos. O Judiciário, última esperança do brasileiro, foi contaminado
pela desconfiança e pelo comércio de sentenças. Para piorar, o Presidente da
mais alta corte resolveu tornar público uma reunião com o Presidente da Câmara,
justamente por não confiar no caráter do interlocutor e por temer joguetes de
versões.
Por
conta de tanto descalabro que tomou conta do país, a população sensata volta
todas as suas esperanças em direção ao Juiz Sérgio Moro, último e derradeiro bastião
da seriedade. Nenhuma pessoa honesta e bem informada acredita em mais nada que
venha do poder público. Tanto, que, se, hoje, o Deputado Tiririca se
candidatasse à presidência da república, é possível que ganhasse de lavada dos
demais candidatos. Infelizmente, não temos opção. As figuras que se apresentam
como prováveis substitutos da presidente Dilma estão desmoralizados por
infinitas denúncias. E, para piorar, os programas políticos que vez por outra
invadem a televisão trazem mais do mesmo. Não conseguimos identificar nenhuma
mudança nos velhos e surrados discursos – ninguém traz uma proposta nova. Tudo
está ensopado com o grosso caldo do marketing político. Tanto, que é possível enxergar
no semblante do candidato a leitura dum teleprompter, indicando assim que as
ideias são construídas por um marqueteiro profissional. Estamos numa sinuca de
bico.
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