terça-feira, 9 de agosto de 2016

UMA CLASSE TOTALMENTE DESMORALIZADA


Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 9 / 8 / 2016 - A262

O Presidente Obama esbanja carisma e eloquência por onde passa. Os alemães, por exemplo, são apaixonados pela imagem do Grande Líder Americano. Nos EUA, até os mais ferrenhos adversários evitam qualquer juízo precipitado sobre o chefe da nação – algo parecido com o respeito que os brasileiros dispensam ao Magistrado Sérgio Moro. Se a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos tivesse ocorrido na terra do Tio Sam, é provável que o povo se levantaria orgulhoso para aplaudir mais um dos notáveis discursos do Estadista Barack Obama.

Pois é. Sexta-feira passada, na belíssima festa abrilhantada pelos talentosos artistas parintinenses, o protocolo foi quebrado logo de cara, pela supressão do nome do presidente interino Michel Temer no momento em que foram apresentadas as autoridades máximas do evento – algo que surpreendeu os jornalistas da Rede Globo. Mais a frente, quando não deu pra fugir da responsabilidade, as pouquíssimas e apressadas palavras do acanhado Temer foram fragorosamente abafadas pelo som ruidoso de muitas vaias que estremeceram o estádio do Maracanã. Detalhe: Ele falou sem ser anunciado e num tempo recorde de 10 segundos (mico total). Esse flagrante escancarou para o mundo a péssima e deplorável imagem que os nossos políticos levaram décadas para construir depois de muita roubalheira e de muita desfaçatez. Até o ditador turco Tayyip Erdogan não sofre tamanha rejeição do seu povo.

Em vários flashes de imagem mostrados ao logo da transmissão foi possível perceber a alegria e animação de autoridades e personalidades presentes na tribuna de honra. Já, as nossas autoridades políticas demonstravam alta tensão e muito constrangimento, como se quisessem fugir dali o mais rápido possível. Talvez o motivo de tanto pudor estivesse no sentimento paranoico de que a forte luz dos holofotes poderia derreter a grossa camada de verniz que acoberta suas caras-de-pau.

Pergunta-se então como é que os políticos podem levar suas vidas se escondendo do povo. Nas entrevistas e reportagens diárias nota-se o colossal esforço da politicada em geral para segurar a onda e não parecer tão descaradamente hipócrita na televisão. Possivelmente, essa trupe consome muitas horas de treinamento frente ao espelho em aulas de arte dramática. Pena que o talento e a grandeza não são facilmente alcançáveis. Daí, que vez por outra somos espectadores de verdadeiras óperas bufas que estão permanentemente em cartaz, principalmente nas comissões disso ou daquilo que pipocam no Congresso Nacional. Por outro lado, um ínfimo fragmento de políticos expressa dignidade naquilo que diz ou que faz. Não é certo se isso decorre duma índole verdadeiramente nobre ou dum caráter propositadamente maquiavélico. Temos poucos exemplares dessa fauna aqui na nossa região. Mas, como disse Nicoló Machiavelli, saber dissimular é o saber dos reis. Enquanto isso, o povo abestalhado está abrindo os olhos e por tal motivo os velhos discursos caducaram. Ganhar tudo no grito demagógico já não está tão fácil como antes. É preciso então se reinventar e estudar os mecanismos psicológicos das massas para descobrir novos caminhos que reconquistem corações e mentes. Talvez a honestidade seja uma opção a se considerar. O problema é que a honestidade pode invalidar todos os motivos que leva alguém a enveredar pelo universo da política. O candidato pode dizer: Por que eu deveria lutar tanto se não ganharei nada com isso? A nossa cultura é assim. Somos assim. É a inexorável “Lei do Gerson”.

Lamentavelmente, tragicamente, a classe política brasileira está completamente desmoralizada. A desilusão corre o país de norte a sul deixando as pessoas sem rumo e sem esperança. O bombardeio inclemente da Operação Lava-Jato derruba todo dia vários tijolos da nossa edificação, das nossas crenças, da nossa própria identidade. É muito perigoso imaginar um povo desacreditado das instituições e dos seus dirigentes. Principalmente, quando a desconstrução do sistema político é seguida pela desmoralização da Justiça e da Segurança Pública. O terror perpetrado por facínoras dos diversos quadrantes nada mais é do que um termômetro da nossa degradação política. Os criminosos que incendeiam ônibus ou que cometem latrocínios aos borbotões nada mais fazem do que reivindicar isonomia frente aos bandidos de grosso calibre instalados no poder público. Que Deus tenha piedade das nossas almas. Hallelujah, hallelujah, halleluuuuujah!!





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