Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 17 / 1 / 2017 - A271
Em
meio aos infinitos problemas fiscais que comprometem a eficiência das empresas,
a carga tributária é o item quase que exclusivo e onipresente nas discussões
setoriais com os entes fazendários. Não se costuma atentar para o enrosco
burocrático de normas conflitantes, no qual está a raiz da instabilidade
econômica e legal que empurra as empresas para o movediço terreno da
insegurança jurídica. E quando se tenta discutir questões normativas, o debate
se perde no labirinto técnico por falta de domínio do objeto ou da matéria de
observação. Por esse motivo, os esforços empreendidos costumam cair no vazio da
inércia. Algumas correntes de pensamento tentam estabelecer o preceito
dogmático de que somente determinadas classes de profissionais possuem
autoridade sobre matéria tributária, o que não deixa de ser uma heresia. Num
vídeo disponível no canal YouTube, o ex-presidente da Associação Comercial de
São Paulo, sr. Rogério Amato, afirma categoricamente que nenhum Contador é
capaz de garantir segurança legal ao seu cliente. Diz ainda que os entes
criadores de normas tributárias não sabem orientar os contribuintes. Também,
sustenta que tributo é assunto de iniciados. Por tal motivo, o contribuinte
deve pagar o que lhe é exigido e não questionar nadica de nada. Esse é o pensamento
do Fisco.
Agentes
de todas as esferas e instâncias estatais se esmeram na tarefa de empurrar
goela abaixo do contribuinte uma ideia de normalidade tributária. De modo
subliminar, o governo afirma que a sociedade não é capaz de discutir ou de
questionar assuntos tributários com seus técnicos ou legisladores. Esse tipo de
entendimento leva ao superdimensionamento dos custos de consultorias
especializadas, normalmente, representadas por multinacionais ou grifes
jurídicas renomadas. Tantos desacertos acabam por criar uma apartheid sócio
econômica, onde grandes conglomerados conseguem navegar em barcos motorizados
enquanto os demais remam em canoas. Sem defesa alguma, os pequenos vão sendo
devorados pelos tubarões da burocracia fazendária.
Os
corredores da nossa SEFAZ são autênticas vias-crúcis de Contadores de empresas
comerciais que ficam perambulando nas mãos de funcionários indecisos quanto a
esclarecimentos de dúvidas fiscais. Isso, sem contar os abusos por cobranças
indevidas ou confusões de enquadramentos normativos que ninguém sabe explicar
ou apontar justificativas legais apropriadas. Lamentavelmente, erros graves de
normatização perduram por anos sem que passem por nenhum tipo de equacionamento,
gerando problemas intermitentes e desgastantes. A razão de tantos desajustes
está na falta de diálogo técnico entre as partes conectadas por força de lei.
O
setor comercial precisa passar por um processo de amadurecimento institucional,
como já aconteceu com a indústria e o agronegócio. A FIEAM é uma entidade
atuante e sintonizada com os entes fazendários. Seu núcleo de altos estudos
tributários funciona a pleno vapor, interagindo fortemente com o governo e, assim,
afastando entulhos burocráticos dos mais diversos. Resultado: a indústria
trabalha com relativa tranquilidade, permitindo-se concentrar energias em
assuntos estratégicos.
Por
fim, o segmento do comércio/serviços despertou para o aperfeiçoamento das suas
relações com o governo. Em reunião ocorrida dia 17 de outubro passado, no Rio
de Janeiro, os representantes da União Nacional de Entidades do Comércio e
Serviços (UNECS) aprovaram a criação do Instituto UNECS, que pretende atuar intensamente,
junto ao poder público, para defender os interesses dos seus membros. É sabido
e notório que o país está mergulhado em graves conflitos legais e normativos.
Problemas relacionados aos sistemas tributário, trabalhista etc., desafiam os
mais variados setores da sociedade a buscar soluções exequíveis e
conciliatórias. As entidades patronais têm sua parcela de responsabilidade nesse
processo. Portanto, esse é o momento da profissionalização das relações
institucionais.
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