Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 31 / 10 / 2017 - A 311
Uma
pesquisa da ONG Transparência Internacional, feita em 20 países da América
Latina, expôs um quadro galopante de corrupção e uma crescente desconfiança dos
cidadãos em relação aos seus políticos. Entre as pessoas entrevistadas, a
grande maioria (70%) acredita que os cidadãos possam ter um papel relevante na
luta contra a corrupção, especialmente no Brasil (83%). Mas quando perguntados
sobre a prática de algum ato delituoso, 51% dos mexicanos e 46% dos dominicanos
admitiram ter pagado propina, enquanto somente 11% dos brasileiros subornaram
algum agente público. Tais números indicam que a corrupção no México é cinco
vezes maior do que a brasileira (yo no creo).
O
gritante cenário de roubalheira descortinado pela mídia evidencia uma completa
imersão da nossa sociedade na putrefata lama da corrupção. Somos um paciente
terminal com chance zero de tratamento convencional. É bom lembrar que os corruptos
foram paridos das massas; são frutos da árvore social chamada Brasil. E, como
disse o Mestre dos mestres, não pode a árvore boa dar maus frutos. Ou seja, a
corrupção é um mal social. Daí, que, muitos brasileiros acreditam que vários comportamentos
obscenos não são classificáveis na categoria de atos delituosos. Corrupto, portanto,
são os outros.
O
tradicional chefe de família é aquele que mantém uma postura impecável de
provedor e de pai amoroso, que engravida a sua secretária e depois patrocina um
aborto para manter a harmonia familiar. O palestrante que encanta sua plateia
com um belo discurso ecológico descarta a latinha de refrigerante na via
pública. A apresentadora de TV que só fala em saúde e boa alimentação é
acometida de câncer pelo hábito de fumar muito. O jovem aristocrata que mostra
o branquelo traseiro para a delegada é fragorosamente conduzido ao congresso
nacional pelos braços do povo. O político espancador da esposa é adorado por
muitas mulheres devotas que mantém a fotografia do agressor colada na parede da
sala. O chefe maior do Detran é campeão de infrações de trânsito. A beata que vive
na igreja inferniza a vizinhança com fofocas e rabugices.
A
mãe exibe com orgulho a bela casa construída com muito suor e dinheiro que o
filho surrupiou do patrão. A esposa fica eufórica quando o marido chega com
mercadorias saqueadas duma carga acidentada. O empresário religioso e próspero,
ergueu seu patrimônio com monumentais desvios que fazia quando trabalhava no
setor de compras duma grande indústria. Por outro lado, o diretor dessa grande
indústria comemora o fechamento dum contrato milionário envolvendo produtos
superfaturados para diversas prefeituras etc., etc. São essas, exatamente, as
pessoas convictas da sua impoluta conduta moral; elas não encontram nos seus
atos obscenos nenhum motivo de constrangimento ou de reprovação. Tudo acontece
de modo absolutamente “NORMAL”. São essas, as pessoas que elegem os Eduardo
Cunha e Sérgio Cabral da vida. O político astuto e bandido conhece muito bem o
seu público. Por isso sempre ganha qualquer pleito. Ele não precisa se fazer de
bonzinho; nas entrelinhas do discurso demagógico, ele se comunica com a alma
deformada dos eleitores. Daí, que, de nada adianta afastar os políticos ruins
se o eleitor continua o mesmo.
Para
a desgraça da nação, essa dita “normalidade” é levada para o universo da
administração pública.
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