terça-feira, 1 de setembro de 2015

ROUBOLÂNDIA

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 01/09/2015 - A224

A história da ensolarada Roubolândia sempre foi marcada por convulsões sociais e políticas. Grande parte dos seus primeiros habitantes era formada por desterrados de outras plagas, devido a comportamentos reprovados pelos próprios pares. Seus primeiros governantes tinham como missão explorar o máximo de recursos naturais e posteriormente enviá-los para fora do país. A cultura da exploração se perpetuou na elite e no poder. O objetivo de todos era sempre ganhar alguma coisa ou tirar vantagem de alguma situação ou de alguém. Era todo mundo querendo enganar todo mundo.

Com o passar do tempo, as coisas se sofisticaram sob a influência europeia dos ternos e das ideias progressivas que concorreram para a formação de uma burguesia refinada. Aquela roubalheira tosca e amadora precisava ser reavaliada e modernizada. Era preciso travestir a pilhagem de políticas públicas. Ou seja, criar toda uma estrutura de Estado voltada unicamente para a fraude e para a corrupção. O caminho escolhido foi o do enrosco burocrático extremado. A coisa tinha que ser confusa e indecifrável, de modo a encobrir gigantescas operações criminosas envolvendo o público com o privado.

Definido então o modelo de cleptocracia acondicionado numa reluzente embalagem democrática, a coisa seguiu o seu rumo através de décadas a fio, com rebuliços aqui e ali, mas nada que ameaçasse a rotina dos grandes gatunos. O roubo tinha que acontecer de modo a não matar o país, limitado que era o ingresso de sócios ao clube dos pilantras de colarinho branco.

Para manter o povo num permanente estado de exploração e ao mesmo tempo garantir a perenidade dos exploradores, foi preciso incutir na cabeça desse povo o conceito da práxis corrupta. Fez-se necessário fundir a imagem do político com a figura do ladrão num forno de mil graus célsius. O produto dessa alquimia é uma coisa tida como imutável e inexorável – algo incontestável pela própria natureza de ser. Isto é, político é ladrão, sempre. Se não é ladrão, não é político; se é honesto, nunca terá espaço na política. O político ladrão que não agrada será fatalmente substituído por outro político ladrão. Simples assim.

Outros avanços sociais acontecem e os ladrões se apressam na adequação ao novo bioma. A desfaçatez, a cara de pau e o cinismo são alçados a um novo patamar de refinamento e sofisticação. Surgem os mitos, os messias salvadores, os atores de maquiavélicas habilidades teatrais. Surgem os grupos, os encadeamentos fisiologistas, as cooptações, os esquemas altamente entrelaçados e convertidos num bloco de poder absoluto e inexpugnável. A certeza da indestrutibilidade infla os egos e aguça a sede de mais poder. O passo seguinte é pensar alto, é matar um país inteiro. E lucrar com isso.

O que não contavam (os Top Super Bandidos Platinum), era com uma rara conjunção astral de Saturno com Plutão invadindo a órbita de Mercúrio que deslocou a gravidade de Júpiter bombardeando Roubolândia com uma chuva torrencial de meteoros. O fenômeno apanhou todo mundo de surpresa. Ninguém acreditava no desmonte do monstruoso bloco de tungstênio pelo bombardeio de adamantium despencando do céu por meses a fio. Somente depois de muita avaria no bloco corrupto é que as poucas pessoas honestas passaram a nutrir esperanças de ver seu país livre dos ladrões. Mesmo assim, e depois de muito tempo, o núcleo duro permanece intacto, apesar de perder grande parte da sua massa.

O presidente Roubão, antes tranquilo, agora corre da sala pra cozinha tentando escapar da imputabilidade. Seu fiel escudeiro, o Ladronildo, já pulou fora do barco. Por conseguinte, Pilantrônio tenta orquestrar um motim com seus capachos, ao mesmo tempo em que é cercado pelas tropas do Ratonaldo, pelos asseclas do Safadônio e pelo bando do Larápison e seu comparsa Rapinólio. Enquanto isso, a casa dos Hipocritonitas tenta apaziguar os ânimos com ameaças de ruptura. Em meio a tanta instabilidade, as gordas e tufadas ratazanas, acostumadas a mamar nas tetas do governo, ficam desorientas sem saber com quem negociar os esquemas de mais corrupção. Em Roubolândia, a corrupção nunca para (um minuto sequer). Nem pra respirar. O fluxo é contínuo, mesmo com muita gente caindo no precipício. Um povo nascido das entranhas da corrupção não sabe e não quer viver de outra maneira.



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