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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 23/06/2015 - A215
Artigos publicados
Pois é. Infelizmente,
somos o país da propaganda. Não à toa, nossos publicitários são
internacionalmente reconhecidos pela inigualável criatividade. Daí que toda
essa coisa de conduta e probidade, como também seriedade e honestidade; tudo
pode ser desenhado e modelado ao gosto do freguês. Dessa forma, e dependendo do
cacife, qualquer um pode conquistar altíssimos postos no universo do poder
público. Enquanto isso, a população mais instruída reverencia as figuras
históricas de outras nações. Ou seja, importamos ideias e exemplos positivos de
fora, já que nada de bom consegue brotar do nosso árido e contaminado ambiente
político.
Neste
continente, os nossos antepassados doaram ao mundo uma nova nação concebida na
liberdade e baseada no princípio de que todos os homens foram criados iguais.
Estamos hoje envolvidos em uma grande guerra civil que provará se esta nação ou
qualquer outra deste modo concebida pode perdurar. Encontramo-nos, neste
momento, num dos grandes campos de batalha desta luta e queremos consagrar uma
parte dele à última morada dos que aqui sacrificaram a própria vida pela
existência do país. É justo que o façamos, porém, num sentido mais profundo. Não
nos compete abençoar ou consagrar este solo. Os heróis, vivos ou mortos, que
nele pelejaram, já o santificaram a tal ponto que as nossas fracas forças nada
lhe podem acrescentar nem tirar. Mais tarde, o mundo esquecerá o que hoje foi
dito aqui. Todavia, jamais poderá olvidar os feitos de que este campo foi
teatro. Cabe-nos, a nós, vivos, dedicar-nos à continuação da obra de que os
combatentes aqui iniciaram. Compete-nos realizar a sublime tarefa que esses
grandes mortos nos legaram, e com crescente espírito de sacrifício levar à
vitória a causa que aqui os fez exaltar o derradeiro alento. Cumpre-nos fazer
que esses homens não tenham tombado em vão, que, com o auxílio de Deus, a nação
assista à renascença da liberdade e que o governo do povo pelo povo não
desapareça da face da terra.
Esse
belo e magnânimo discurso foi proferido pelo Pai da Nação americana na tarde do
dia 19 de novembro de 1863, quatro meses depois da vitória na batalha de Gettysburg,
a qual foi decisiva para o resultado da Guerra da Secessão. As palavras de
Abraham Lincoln ecoam até os dias de hoje arrebatando corações e mentes mundo
afora. Vários homens públicos dos Estados Unidos marcaram seu nome na história
pela eloquência e pela grandiosidade dos seus atos, enchendo de orgulho um povo
que soube curar suas feridas mais graves e assim conquistar o planeta. Até
mesmo o discurso do atual presidente Barack Obama já figura entre os melhores,
o qual foi proferido no dia 4 de novembro de 2008, após ter vencido as
eleições, onde disse: "E aqui estamos nós, frente a frente com o cinismo e
as dúvidas daqueles que nos dizem que não somos capazes, e a quem respondemos
com o credo intemporal que representa o espírito de um povo: Sim, somos capazes
(yes, we can)."
Enquanto
isso, nós, brasileiros, somos órfãos de ídolos e de grandes personagens da
nossa história política. Isto é, pessoas capazes de arrebatar os nossos
corações, como também de inspirar ações sublimes e grandiosas. Nossos políticos
só nos envergonham. Geralmente, suas condutas e seu caráter revelam o que de
pior e mais sombrio encontra-se guardado nas profundezas da alma humana. O
recente festival de escândalos que saturou os canais midiáticos tem assustado a
população pela envergadura e pela metástase cancerígena que tomou de assalto
todas as células do poder público – onde ninguém é inocente (ou no mínimo,
omisso).
Os
nossos políticos substituíram a retórica autoral por peças publicitárias de
prateleira. Impressiona o fato de tudo quanto é discurso ser proveniente de uma
mesma matriz (artificiosa e cacofônica). E o mais incrível é que ninguém se
mostra capaz de criar argumentos novos e confiáveis. A demagogia e a
representação teatral ficam ainda mais vexatórias quando o orador insiste na
representação de um papel absolutamente contrário ao da sua conduta. A aposta
dos marqueteiros (criadores de ídolos de plástico) é ainda na grande massa de
desinformados e analfabetos. Daí a razão de nos depararmos com toscas e
demagógicas campanhas televisivas, as quais nos causam repúdio, mas que podem
atingir em cheio um grande contingente de eleitores desprovidos de senso
crítico.
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